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Guilherme Oguri

Coordenador executivo do Programa sobre Mecanização e Automação Florestal do IPEF

OpCP76

Percepções dos desafios atuais do curso de engenharia florestal
Desde 2016, a minha atuação no IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, sempre foi voltada a desenvolver e conduzir projetos relacionados a mecanização e automação das atividades de silvicultura e, mais recentemente, de viveiros florestais. 
 
Ao longo desses anos, tive a oportunidade de participar de diversos eventos como expectador e palestrante, e a disponibilidade de mão de obra é um tema recorrente durante as discussões e “mesas redondas”. 
 
Sempre que posso, tento contribuir com um ponto de vista consensual dentro do PCMAF – Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Floresta, composto por 12 empresas florestais, no sentido de que o principal propulsor pela busca por soluções mecanizadas sempre está relacionado aos desafios impostos pela mão de obra no campo e viveiros, seja na sua disponibilidade, nas dificuldades operacionais do dia a dia, seja na melhoria das condições de trabalho.

Em outras palavras, estamos mecanizando as operações para que o negócio florestal se mantenha competitivo e, principalmente, sustentável. Contudo, ainda existem grandes desafios para a formação de mão de obra especializada para os novos sistemas mecanizados, além das operações manuais e semimecanizadas. 

Pensando nisso, o IPEF, em parceria com a Reflore-MS – Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas, realizou um levantamento que identificou que existe uma demanda de, aproximadamente, 9.000 trabalhadores para suprir as diversas atividades florestais em campo, no estado.

Com o subsídio destas informações, o Governo do Estado do Mato Grosso do Sul instituiu a Rede Estadual de Excelência em Qualificação Florestal, visando incentivar e articular iniciativas destinadas ao desenvolvimento do capital humano para atender ao nosso setor. Para quem quiser ter mais informações sobre o panorama nacional das diversas ações voltadas para o atendimento da demanda de mão-de-obra florestal, recomendo a leitura do artigo escrito pela Patrícia Machado, Ibá, intitulado Desenvolvimento profissional hoje e amanhã na indústria florestal, publicado na edição de abril/24 da Revista O Papel, da ABTCP. 
 
Desde o ano passado, passei a ter no IPEF uma atuação mais ativa no PPGF – Programa de Preparação de Gestores Florestais, programa criado em 2011 a pedido dos diretores florestais das empresas associadas, os quais identificaram que os recém-formados em Engenharia Florestal estavam ingressando no mercado com pouco conhecimento voltado à gestão. 

O programa evoluiu e foram inseridos tópicos como diversidade e inclusão, autoconhecimento, inteligência emocional, entre outros temas relevantes e pouco abordados durante a graduação. Anualmente, selecionamos entre 20 e 25 recém-formados em Engenharia Florestal e mestrandos em fase de conclusão, que têm a oportunidade de aprender e trocar experiências com especialistas que atuam no setor florestal, presencialmente, durante 5 semanas na sede do IPEF em Piracicaba-SP. 

Além das palestras, organizamos visitas técnicas e momentos de descontração, visando maior interatividade entre os participantes que vêm a Piracicaba de diversas regiões do Brasil. Na edição mais recente, tivemos a participação de, ao menos, um representante de cada região do Brasil e de 14 universidades. Ao final do programa, as empresas patrocinadoras têm a oportunidade de oferecer vagas de emprego para os participantes e, desde a sua fundação, mais de 65% dos participantes foram contratados pelas patrocinadoras. 

Este treinamento é gratuito aos participantes graças às empresas patrocinadoras. A ótima aceitação deste programa repercutiu no mercado a ponto da ABTCP – Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel –, replicar este formato para atender à demanda do setor industrial de produção de celulose e papel. O PPGCP – Programa de Preparação de Gestores de Celulose e Papel, teve início em 2019 com o apoio do IPEF.

Entendo que a quantidade de empresas interessadas no programa, bem como a quantidade de vagas oferecidas no encerramento de cada turma são um termômetro da demanda por Engenheiros Florestais no mercado, e posso dizer que, felizmente, o mercado está aquecido. Nas duas últimas edições a quantidade de vagas oferecidas foi maior do que a quantidade de participantes. Obviamente, isso não é uma garantia de que este fato ocorrerá na próxima edição, e sim um dado interessante para o mercado e utilizado em nosso planejamento. 

Certamente, o PPGF não suprirá a demanda de mão de obra por Engenheiros Florestais, mas acreditamos que contribuiu e tem contribuído com o intuito de fornecer ao mercado de trabalho pessoas mais preparadas em termos de gestão e soft skills. Até o momento, o programa formou 253 Engenheiros Florestais. 

Visando divulgar este programa e conhecer a realidade de alguns cursos de Engenharia Florestal, no último ano tivemos a oportunidade de apresentar o programa para alunos de graduação e pós-graduação em 12 faculdades diferentes, sendo que em 3 ocasiões o encontro ocorreu de forma online. Os estados visitados foram SP, PR, SC, RS, MG, MS e MA. Dessa forma, pude coletar algumas impressões que tentarei relatar brevemente aqui. 

• Procura pelo curso de Engenharia Florestal e pós-graduação: embora haja uma certa diferença entre as universidades na relação candidato/vaga, todas as universidades visitadas estão necessitando de ações que despertem o interesse dos jovens pelo curso. Entendo que não é apenas a Engenharia Florestal que esteja com este desafio, mas muitos outros cursos, especialmente, os presenciais;

• Adesão ao evento: todas as visitas eram acompanhadas de uma palestra falando sobre o mesmo tema – Planejamento acadêmico direcionado ao mercado de trabalho florestal – conectando, assim, com a divulgação do PPGF. Obviamente, é um tema mais interessante para os primeiros anos de curso, contudo, o PPGF é destinado para aqueles que estão prestes a se formar e mestrandos concluintes. A minha impressão foi que conseguimos atrair cerca de apenas 1/4 da quantidade total de alunos de cada faculdade;

• Disparidade de estrutura física: todas as universidades que visitei eram públicas (estaduais ou federais), mesmo assim, nota-se a diferença entre a estrutura física oferecida pelas instituições, como quantidade e qualidade de laboratórios e seus equipamentos, salas de aula e salas dos docentes etc. As universidades mais tradicionais possuem total condição de atender ao tripé “ensino, pesquisa e extensão” de forma adequada. 

Como se pode notar, os três pontos que relatei são negativos, o que não significa que não notei pontos positivos. Vi muita vontade e disponibilidade dos docentes para mudar este cenário, algumas ações concretas iniciadas que, se somadas, têm ainda mais potencial de fazer a diferença. Vi alunos interessados e que se preocupam com a baixa presença dos colegas na palestra. Vi muita união entre discentes e docentes à procura de boas soluções. 

Espero que, na leitura desse artigo, não fique a impressão de que a minha intenção seja encontrar culpados. Pelo contrário, a minha ideia foi trazer um panorama das experiências vividas como profissional do setor e, de alguma forma, contribuir para o fortalecimento do curso de Engenharia Florestal, trazendo comigo o nome do IPEF, que muito contribuiu e ainda há muito que contribuir.