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José Goldemberg

Professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP

Op-CP-21

O que é desenvolvimento sustentável

O conceito de desenvolvimento sustentável que tomou corpo na década dos 80 do século XX com o Relatório Brundtland, foi uma reação às previsões catastróficas feitas pelo Clube de Roma na década dos 70. Essas previsões repetiram, em parte, o que havia ocorrido com Thomas Malthus, economista inglês do século XIX.

Preocupado com o crescimento populacional acelerado, que havia dobrado entre 1650 e 1850, Malthus publicou, em 1798, uma série de ideias alertando para a importância do controle da natalidade, afirmando que o bem-estar da população está intimamente relacionado com o crescimento demográfico do planeta.

Malthus alertava que o crescimento desordenado acarretaria falta de recursos alimentícios para a população, gerando, como consequência, a fome e argumentou que o crescimento populacional funcionava conforme uma progressão geométrica 1, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128... enquanto a produção de alimentos, mesmo nas melhores condições de produção dos setores agrícolas, só poderia alcançar o crescimento em forma de uma progressão aritmética.

As previsões de Malthus não se concretizaram porque a produção de alimentos – graças ao aumento de produtividade – compensou amplamente o crescimento populacional. O Clube de Roma reviveu as previsões de Malthus não só no que se referia à produção de alimentos como em relação a outros problemas que se tornaram sérios na década dos 70: energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia, além do crescimento populacional, dentre outros.

Utilizando modelos matemáticos, o relatório chegou à conclusão de que o planeta Terra não suportaria mais o crescimento populacional devido à pressão sobre os recursos naturais e energéticos e o aumento da poluição, mesmo considerando o avanço das tecnologias.

A crise de petróleo de meados da década dos anos 70 pareceu confirmar essas previsões pessimistas: os preços do petróleo subiram brutalmente, o que foi interpretado como sinal do esgotamento das reservas, levando ao pânico as economias dependentes de importações (inclusive o Brasil).

Na realidade, o problema na época não era a exaustão das reservas de petróleo – o que confirmaria as previsões do Clube de Roma –, mas as manobras altistas do cartel de produtores de petróleo.

A reação a essa tese pessimista se originou na Assembleia Geral das Nações Unidas, que, em 1983, criou uma Comissão presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Brunstland, com a missão de “propor estratégias ambientais de longo prazo, para obter um desenvolvimento sustentável por volta do ano 2000 e daí em diante”.

A primeira tarefa da Comissão foi a de definir o que se entende por desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”.

O Relatório completo foi publicado em 1986, sob o título O nosso futuro comum.  A definição anterior é bastante vaga, exceto no que se refere à energia. De fato, as reservas provadas de combustíveis fósseis nas quais se baseia a economia mundial atual não devem durar mais do que uma geração (40 anos para o petróleo e 60 para o gás natural). O desafio, portanto, é  usar energia de forma mais racional ou encontrar substitutos para eles até meados do século XXI.

Nos países industrializados, onde o consumo per capita é de cerca de 4 toneladas equivalentes de petróleo por ano, o grande problema é aumentar a eficiência com que a energia é usada. Nos demais países, é preciso aumentar o consumo de energias renováveis, entre as quais o etanol da cana-de-açúcar. Isso não só parece possível como está ocorrendo: o consumo de combustíveis fósseis continua crescendo a uma taxa de aproximadamente 2% ao ano.

Entretanto energias renováveis estão crescendo mais rapidamente (com uma taxa ponderada de 5%) e, portanto, sua contribuição hoje é de cerca de 10%; a matriz mundial deverá alcançar cerca de 50% até o ano 2050. Malthus estava errado! O Clube de Roma também estava errado, e o que podemos fazer não é apenas prever um futuro sustentável, mas também construí-lo.