Diretor Florestal da Masisa do Brasil
Op-CP-22
A trajetória da silvicultura brasileira todo mundo conhece, desde os incentivos fiscais nos anos 60 e 70, a consolidação dos aspectos biológicos e técnicos nos anos 80 e 90, a formação de uma base florestal relevante com um crescimento industrial importante, a inserção de conceitos de sustentabilidade, até a entrada das TIMOs no contexto nacional, como financiadoras do forte crescimento da área plantada no Brasil.
Agora nos deparamos com um novo contexto, que poderá alterar muito o ambiente de trabalho das empresas florestais. Novos temas, novo governo, uma crise lá fora e novamente muitas perguntas sem respostas. Qual o tamanho possível para a silvicultura brasileira? Que oportunidades ainda teremos e que entraves vamos enfrentar? Algumas discussões importantes estarão em pauta:
1. Revisão do Código Florestal;
2. Modelo energético brasileiro: a construção da Usina de Belo Monte, amplamente discutida, e por muitos condenada, poderá abrir novos debates sobre o modelo energético que queremos e criar oportunidade real para a bioenergia;
3. Terra para estrangeiros: haverá um tratamento diferenciado entre as empresas brasileiras com capital nacional e capital estrangeiro? Esse debate, que está apenas começando, poderá influenciar de maneira relevante no avanço da área plantada no Brasil;
4. Pré-sal: haverá reversão de parte dos recursos provenientes do Pré-sal para incrementar a implantação de projetos de biocombustiveis?;
5. Programa “Minha Casa Minha Vida”: a continuidade desse programa, assim como o bom desempenho da construção civil têm acarretado bons negócios para o setor florestal, especificamente o setor de madeira sólida e painéis reconstituídos;
6. O cumprimento dos acordos assumidos para redução de emissão de CO2 poderá trazer oportunidades para o setor florestal brasileiro, como, por exemplo, a exportação de pellets para a Europa e outras demandas relacionadas?;
7. A previsão, segundo a FAO, de demanda de 80 milhões de hectares de novas florestas para suprir a demanda mundial de fibra até o ano 2020, tendo a vocação natural de crescimento no hemisfério Sul.
Novos cenários devem ser considerados para a silvicultura brasileira: a migração de suas áreas de fronteira para os estados do Centro-Oeste e do Norte do País, na tentativa de obtenção de taxas de retorno mais atrativas para os novos projetos florestais. Disponibilidade e preço de terra são os fundamentos mais importantes para que ocorra essa realocação dos projetos florestais, porém assumindo riscos adicionais inerentes à falta de experiência das empresas nos novos sites.
Fatores de produção (climáticos, edáficos e biológicos) somam-se à fragilidade dos documentos de terras e poderão dificultar a evolução satisfatória dos plantios, necessitando de mais tecnologia para o cumprimento dos seus respectivos programas.
No Sudeste, destacamos o estado de Minas Gerais, que, para solucionar seu déficit de carvão vegetal (um milhão de hectares em novos plantios), aguarda uma retomada do setor siderúrgico e clareza sobre o tema “compra de terras por estrangeiros” para pôr em prática os seus projetos florestais, na sua maioria, capitaneados por fundos de pensão internacionais.
No Sul, especificamente nos estados do Paraná e Santa Catarina, a indústria de madeira sólida tem sofrido bastante com a recessão americana e europeia, com forte redução de sua base industrial e rentabilidade do setor e se apoia no bom momento da construção civil para colocar seus estoques, porém com valores reais do m³ da madeira em toras inferiores ao ano de 2004.
No Rio Grande do Sul, projetos de grande porte foram postergados, e a área plantada vem aumentando muito lentamente devido à falta de perspectivas de consumo da madeira e dificuldades burocráticas para obtenção de licenças ambientais. No fim do dia, podemos resumir:
• Políticas para combater o câmbio climático criaram importantes rupturas no modelo tradicional e criarão oportunidades para o aumento da silvicultura no hemisfério Sul;
• Madeira e agrofibra serão base para a bioenergia e o biocombustível;
• Disponibilidade de terras será um fator crítico para a expansão do setor;
• Novos modelos agroflorestais deixarão de lado os monocultivos de grande extensão;
• Novos modelos de financiamento poderão ser desenvolvidos para diminuir os impactos dos grandes investimentos requeridos para compra de terras e plantações de florestas;
• Crescerão as parcerias com pequenos e médios produtores para atendimento à demanda atual das grandes indústrias do setor;
• A necessidade de abertura de novas fronteiras florestais no Brasil;
• Investimento pesado em tecnologia para aumento da produtividade nos novos sites e para controle de novas pragas e doenças que surgirão;
• Em médio prazo, um aumento de, pelo menos, 30% na área plantada no Brasil é necessário para atender às demandas já conhecidas nos setores de celulose e papel, painéis reconstituídos, madeira sólida e energia;
• Pegadas ambientais terão primeira página nos relatórios demonstrativos da eficiência das organizações.