O título é provocativo e nos faz refletir. Avançamos ou simplesmente aceleramos as tecnologias que já estavam sendo desenvolvidas? É fato que o cenário de trabalho mudou e nunca mais será o mesmo. Empresas que tinham dúvidas se o trabalho home office era ou não eficiente já possuem a resposta.
Tenho conversado ultimamente com muitos executivos florestais, e a opinião da maioria é a mesma, estamos mais disciplinados, mais eficientes, com menores custos e próximos dos que amamos. Reunir-se de forma virtual já não é tão ruim! O ditado do “novo normal” não é mais novo, já é velho.
A velocidade das informações está absurdamente rápida, até o novo aparentemente torna-se obsoleto em um piscar de olhos. O novo assustou, tirou todos da zona de conforto. A nossa sorte é que o ser humano tem uma capacidade única e incrível de adaptar-se a qualquer realidade. E, agora, não foi diferente.
Com relação à tecnologia, dentro do seu conceito mais básico de ser um produto da ciência e/ou da engenharia, ancorado no conjunto de instrumentos, métodos e técnicas focadas em resolver problemas, podemos afirmar certamente que, se não fosse a tecnologia disponibilizada, certamente o nosso cenário de trabalho seria altamente afetado.
Imaginem se esse cenário pandêmico ocorresse 20 anos atrás. Como seria? Em nosso mundo atual, para a maioria dos gestores, basta um computador, um celular e acesso à internet. Esse ambiente virtual fez com que todos ficassem mais acessíveis. Nunca o conhecimento ficou tão democrático, não existem mais barreiras físicas. Até as formalidades diminuíram.
Obviamente, o contato virtual é frio. Não é possível perceber se a pessoa está ou não engajada no foco da conversa. O comportamento do SER virtual, de estar realmente presente e focado, precisa ser lapidado. Como agora, de uma hora para outra, todos nos tornamos prodígios virtuais.
Fazemos parte de várias comunidades e redes sociais e fazemos várias coisas ao mesmo tempo. Precisamos fortalecer a disciplina e o foco para potencializar as diversas reuniões de trabalho. Na linha da tecnologia para soluções mais operacionais florestais, percebe-se também que as inovações para o monitoramento e o controle florestal tiveram um salto de importância nas empresas.
Quem diria que seria possível fazer um inventário florestal utilizando sensoriamento remoto. Lógico, tudo precisa ser calibrado com trabalhos de campo, mas, numa proporção reduzida, com custos menores. Nessa linha, hoje, é possível ter um prognóstico futuro de crescimento mais apurado, com informações refinadas de imagens de satélite cruzadas com tipo de solo, precipitação, material genético, etc., tudo na mesma plataforma, com modelos calibrados, fazendo o sonho de qualquer silvicultor tornar-se realidade: prever com certa acurácia o alvo de produtividade de uma determinada floresta.
As tecnologias atuais também permitem utilizar imagens captadas por drone para mensurar a sobrevivência no campo com 15 dias, a tempo de se fazer um replantio. Também é possível, com essas imagens, verificar os índices dos níveis de matocompetição, mensurar a quantidade de resíduos deixados pela colheita e até calcular o volume das pilhas de madeira no campo.
A conectividade no campo também vem se tornando uma tendência, o controle de todas as máquinas em tempo real, a possibilidade de integração entre operações e a visualização em dashboards de diversos indicadores para melhor gestão da atividade. Todas essas informações chegam, hoje, para o gestor, sem ele sair do home office.
A velocidade de desenvolvimento de softwares, com plataformas integrativas, está muito rápida também. A onda crescente de aceleração de startups movimenta o mercado e coloca sob questionamento a forma de trabalho atual. O planejamento, o monitoramento e as análises ficaram muito mais ágeis, tornando a área operacional mais eficiente.
Esse tempo ganho permite que o gestor consiga olhar para outros fatores que, antes, ficavam engavetados e, com isso, proporcionar a melhoria contínua dos processos tão desejada. Por outro lado, percebe-se que esse mundo virtual afastou ainda mais os gestores da vivência do campo, de estar supervisionando mais de perto as operações, o que é essencial para encontrar gargalos, fazer ajustes com a equipe e corrigir desvios.
O perfil, que já era mais analítico, focado no resultado matemático, ficou ainda mais proeminente. Outra dificuldade a que estamos nos adaptando é como liderar nessa nova forma de trabalho. A tecnologia não ensina gestão de pessoas. O mercado está aberto para novos líderes se destoarem da manada. Recentemente, entrevistei um dos principais diretores florestais do País.
O foco da conversa era a qualidade de floresta de eucalipto. Ficou evidente, na conversa, que, para se ter qualidade, na visão dele, que possui mais de 40 anos de experiência no assunto, o foco é ter uma equipe bem treinada e engajada com o propósito da empresa. Por esse lado, e eu concordo com ele, a tecnologia, seja ela qual for, é somente parte do processo.
Diante dessas breves considerações, ainda temos muitas incertezas de futuro. Mas vejo que as tecnologias realmente aceleraram muito os processos e que teremos uma forma híbrida de se trabalhar daqui para frente. Cada empresa terá que nortear qual será a dose ideal do trabalho de escritório e
home office e como potencializar o uso das diversas tecnologias que estão surgindo a cada dia.