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Renato Moraes de Jesus

Diretor do IAVRD - Instituto Ambiental Vale do Rio Doce

Op-CP-07

Implantação de florestas nativas

Implantação de Florestas Nativas! Essa não é a forma mais correta para se expressar a necessidade de recuperar as nossas formações e mesmo de plantar as espécies de ocorrência no território brasileiro. Para efeito de recuperar nossas formações naturais, vamos considerar, nesse artigo, a expressão restauração ecossistêmica, ou seja, um conjunto de práticas silviculturais e ecológicas, que irá levá-las o mais próximo da sua originalidade.

No caso do plantio das espécies nativas, embora alguns já as denominem como alternativas, prefiro adotar aqui o plantio de espécies com ocorrência no território brasileiro. Considerando o nível de degradação dos ecossistemas brasileiros, é prioritário se iniciar um programa de restauração ecossistêmica. É começar a fazer! Primeiro, é preciso parar de degradar e eliminar a desculpa de termos a necessidade de ampliarmos as nossas fronteiras agrícolas.

Outra coisa é esse tal de manejo florestal sustentado. Há quantos anos estamos ouvindo falar nele? Onde, no planeta, já se fez o segundo corte, nessas florestas ditas sustentadas? Manejo florestal com objetivos madeireiros é como tortura: mata aos poucos. Dêem uma observada no sudeste asiático! Atualmente, existem várias tendências, inclusive aquela de deixar como está, que a natureza vai resolver sozinha, que a fauna irá fazer a dispersão das espécies e, repentinamente, uma nova formação restaurada aparecerá.

Para se fazer restauração ecossistêmica, há necessidade de trabalho e de entendimento de que o melhor zoodispersor é o homem. Que a fauna pode ajudar, sem dúvida nenhuma, mas temos que entender que, em função da existência do alto nível de contaminação biológica existente no entorno dos fragmentos, ela poderá contribuir para uma maior infestação no seu interior. As principais técnicas que podem ser utilizadas são:

1. Plantio de mudas: Consistem no plantio de mudas das espécies de ocorrência regional, normalmente não mais do que 1.600 mudas por hectare e com uma diversidade próxima a 50 espécies/ha.

Essa técnica só deve ser utilizada para áreas de baixa resiliência e é necessário aumentar a diversidade de espécies e mesmo diminuir a densidade de mudas para 1.100/ha, o que acelera a produção de sementes e, com isso, melhora a segunda geração, estabelecendo a auto-sustentação ecológica da formação. É necessário, ainda, que mais tarde se faça o enriquecimento das espécies de sub-bosque, sempre em ilhas de diversidade, onde a fauna poderá dar uma contribuição mais efetiva.

2. Semeadura direta: É uma técnica de restauração, onde imagina-se que seja menos custosa do que a do plantio de mudas. Normalmente, desconsideram o custo de obtenção das sementes e ainda a inexistência da necessidade dos tratos culturais.

É preciso melhorar o conhecimento do performance das nossas diferentes espécies nessa condição de colonização, diminuir os custos de produção de sementes e entender que ela deva ser usada, preferencialmente, em áreas onde as plantas invasoras ainda não tenham comportamento agressivo.

3. Indução da regeneração natural: Essa técnica, além de estimular o resgate da biodiversidade, acelera o processo de restauração, pois é baseada na resiliência expressada, principalmente, pelos bancos de sementes, de raízes e de cepas e pela própria matriz do entorno.

Não obstante, o sucesso dessa expressão tem como fundamento a indução da regeneração natural, por meio da eliminação dos tensores, como as plantas invasoras, os incêndios, a compactação edáfica e os usos indiretos na área, especialmente, tráfego de veículos e pastoreio. Considerando o plantio de espécies, com ocorrência no território brasileiro, há de se admitir a forte influência que os cursos de engenharia florestal no Brasil tiveram para que os profissionais limitassem-se, basicamente, à silvicultura de Pinus spp e Eucalyptus spp.

Outrossim, ospróprios programas de pesquisas, oriundos das diferentes formas de governos, nunca se concluíam, ou seja, a cada quatro anos um novo programa era iniciado e, certamente, não finalizado. Ao contrário, as empresas florestais continuam pesquisando até hoje, com significativos ganhos de produtividade e, até mesmo, ambientais.

Não obstante muitas daquelas empresas e alguns governos investiram naquele grupo de espécies, e alguns resultados hoje se tornam expressivos. Seja no sul, sudeste ou mesmo região amazônica, elas já poderiam estar sendo plantadas em escala comercial. Sinto haver um começo, por parte do produtor rural, de procura por essas espécies. Entendo que a extensão florestal precisa estar mais presente e, claro, para tanto, precisa se embasar.

Mas, como plantar essas espécies? Existem aquelas em que a forma monocultural é a recomendável, mas outras, como o Jacarandá e a Peroba Amarela, onde o consórcio é um requisito, principalmente, pela necessidade de uma sombra parcial. No que se refere à base genética, estamos sugerindo que para um plantio comercial, as sementes sejam oriundas de, pelo menos, 10 progênies. O plantio deve ser feito de forma adensada (2.500 mudas/ha), onde, já a partir do segundo ano, iniciar-se-ia um plano de desbaste. Mas, por que esse adensamento?

Primeiro, é que esse material genético está sem melhoramento, e segundo, pelo autodesrama que ele induz, pois como o objetivo final é o uso madeireiro, a ausência de nós é fundamental. Nos dois primeiros anos, é possível consorciar com culturas brancas e na medida da abertura, oriunda dos desbastes, outros arranjos são possíveis, aí se incluindo, até mesmo, o silvipastoril. Imaginem um plantio de Jequitibá rosa com 30 anos e 300 indivíduos por hectare, onde, ao longo do seu ciclo, receitas adicionais foram obtidas? Fica evidente que o desenvolvimento social e florestal de uma determinada região faz-se com o plantio, e não com a derrubada de árvores. Só é preciso fazer, fazer e fazer.