Pesquisadora da Embrapa Florestas
Op-CP-23
Embora existam opiniões contrárias, há um consenso na comunidade científica de que o clima está mudando. As causas dessas mudanças climáticas e a capacidade de mitigação das florestas, especialmente aquelas ligadas ao lado comercial de venda de crédito de carbono, têm sido alvos de muitas discussões.
Esses assuntos ocuparam um espaço muito maior dentro do tema mudanças climáticas em detrimento de outros aspectos, como o efeito dessas mudanças nas florestas naturais e nas plantações florestais. O clima é, sem dúvida, o fator determinante da adaptação e crescimento das árvores.
Assim, ações imediatas são necessárias para prevenir ou minimizar possíveis impactos negativos, tanto nas nossas reservas de biodiversidade constituídas pelas florestas naturais, quanto nas plantações florestais, que são as principais responsáveis pelo suprimento da madeira industrial no País. Boa parte do sucesso da silvicultura depende do entendimento das relações entre as espécies e o clima, e, até agora, o Brasil tem se beneficiado muito dessa relação.
Temos um setor florestal que apresenta uma produtividade invejável, respeitando as imposições sociais e ecológicas. O avanço observado nas últimas décadas, fruto do melhoramento genético, desenvolvimento e adaptação de técnicas silviculturais, é refletido pelos altos índices de produtividade de nossas florestas plantadas.
Também não podemos esquecer que o Brasil é considerado um país megadiverso, com as maiores áreas de florestas tropicais no mundo. Isso o torna centro das atenções mundiais quando o assunto são as mudanças climáticas, principalmente considerando que a nossa taxa de desmatamento, embora decrescente, nos coloca entre os maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa.
Importante salientar que, quando falamos em clima, não nos referimos apenas às tendências e médias, mas também aos padrões de variação espaciais e temporais e aos extremos. As oscilações climáticas passadas e suas consequências são citadas como um precedente que não acabou com o planeta, mas extinguiu uma quantidade considerável de espécies.
Não estamos traçando paralelo com acontecimentos passados, nem devemos usar as alterações climáticas ocorridas como apocalípticas. O impacto do clima nas florestas depende de sua vulnerabilidade e adaptabilidade, que se refere à capacidade de as árvores tolerarem estresses bióticos e abióticos, como a seca, o frio, o ataque de insetos, as doenças e os incêndios e aos componentes genéticos e ambientais que podem ser alterados através de manejo florestal e práticas silviculturais.
O clima afeta diretamente aspectos fisiológicos, como fotossíntese e respiração, assim como processos de decomposição de matéria orgânica. Estes, por sua vez, afetam a produtividade e até mesmo a capacidade de sobrevivência. A redução na produtividade per si é preocupante, mas os riscos ampliados que as alterações climáticas podem gerar com ocorrência de incêndios, surtos de pragas e doenças são mais prováveis.
Toda vez que ocorre algum fenômeno climático extremo, como secas prolongadas ou tempestades, especialmente quando os danos são de grande monta, o impacto leva à conscientização das vulnerabilidades e são projetados programas de contenção e análise de riscos ao setor, muitos dos quais não vão além do planejamento.
Como já foi salientado, a prática de silvicultura bem-sucedida depende de uma sólida compreensão das relações das espécies ao clima. Para isso, observações de longa duração e pesquisa dirigida são fundamentais para o entendimento dos processos biofísicos sobre a fisiologia, a fenologia em respostas às alterações climáticas. Essa base de conhecimento é essencial para minimização de riscos. Nesse contexto, a pesquisa é a grande aliada nessa tarefa.
As projeções futuras do clima feitas com o uso de modelos climáticos melhoraram muito nos últimos dez anos e podem ser usadas como ferramentas para auxiliar na adaptação da silvicultura às novas condições. O desenvolvimento e o uso de modelos processuais ligados ao crescimento das espécies, também podem ser de grande auxílio na compreensão de como o clima afeta a produção.
O zoneamento ecológico, não só baseado no clima atual, mas nas projeções do clima futuro, são informações estratégicas para a expansão de áreas de plantações florestais e programas de conservação tanto in situ como ex situ. Modelos de crescimento empíricos não explicam os efeitos do clima. Os limites climáticos da distribuição natural também sofrerão alterações nas áreas recomendadas para plantio de uma determinada espécie.
Não podemos ignorar que o aumento da produtividade em plantações comerciais é o resultado de intenso trabalho de seleção e melhoramento genético dirigidos aos interesses locais sob condições ambientais específicas. Os critérios usados para seleção foram, na sua maioria, baseados no desempenho das árvores, produtividade que atende à qualidade requerida, considerando apenas as condições climáticas a que as árvores foram submetidas no seu período de crescimento.
Lembrando que seleção é baseada na expressão fenotípica, que é afetada pelo ambiente. O ciclo de rotação das espécies florestais é mais longo que culturas agrícolas, portanto as preocupações são ainda maiores. Os plantios clonais de eucaliptos, um dos sistemas mais usados na eucaliptocultura brasileira, apresentam, de modo geral, base genética restrita e alta especificidade edafoclimática.
Em função disso, os plantios clonais apresentam desempenho excepcional, mas podem, também, estar extremamente vulneráveis em função dessa especificidade. São muitos os desafios nessa área. O problema exige multidisciplinaridade nas suas ações. Assim, capacitação é um dos primeiros obstáculos, pois a geração de novos conhecimentos não tem acompanhado as mudanças do clima na mesma velocidade.
O conhecimento básico acumulado, resultante de pesquisas e observações de longa duração, estudos básicos ligados às interações de clima, solo e de espécies florestais, séries climáticas em quantidade e qualidade que, além de permitirem a análise das variações já ocorridas, melhoram as projeções futuras, ampliam o universo de informações e contribuem na formação de recursos humanos. É necessário que medidas urgentes sejam tomadas, envolvendo governo, iniciativa privada, instituições de ensino, organizações não governamentais na formação de redes de observações e de profissionais especializados na área.
A criação de redes é de especial importância para o compartilhamento de informações e a criação de uma base sólida de conhecimento para que possamos responder o mais rápido possível às questões: como a mudança do clima afetará a fisiologia e o desenvolvimento de espécies florestais? como a mudança do clima afetará a fitossanidade e a produtividade das florestas naturais e plantadas? e até que ponto práticas silviculturais podem ser alteradas em resposta às mudanças climáticas?
O papel das florestas como mitigadora incluem opções para sequestrar carbono, e reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa pode ser completamente contrário do esperado. As emissões podem ser drasticamente aumentadas pela degradação causada por fatores abióticos adversos das consequências já mencionadas, não cumprir seu papel e não atender às demandas da sociedade. Não podemos simplesmente esperar para agir.