Por milênios, o clima da Terra permaneceu pouco alterado. Os primeiros seres humanos prosperaram, vivendo com a abundância de plantas e animais, dos quais muitos eram domesticados para atender às suas próprias necessidades. A principal fonte de energia para cozinhar os alimentos e aquecer as suas habitações era a queima da madeira. A sua queima gerava emissão de carbono para a atmosfera, porém, essa mesma quantidade de carbono era posteriormente fixada por meio da fotossíntese.
Podemos dizer que as atividades humanas tinham pouco mais do que impactos locais. As mudanças naturais no clima da Terra sempre ocorreram, mas eram graduais e aconteciam ao longo de dezenas de milhares a milhões de anos.
Há cerca de 200 anos, avanços na medicina, na produção de alimentos e na tecnologia impulsionaram um crescimento populacional acelerado: de 795 milhões em 1750 para 8,2 bilhões hoje. Esse salto coincidiu com a adoção em larga escala de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) como fonte principal de energia. Ao contrário da madeira, esses combustíveis liberam carbono armazenado há milhões de anos, elevando a concentração de CO2 na atmosfera de 280 ppmv para 424 ppmv, um aumento de 70%.
Diante disso, a humanidade enfrenta desafios complexos: atender à crescente demanda por recursos naturais e bens industriais sem comprometer o meio ambiente, especialmente em um cenário de intensificação das mudanças climáticas, com secas, enchentes e tempestades mais frequentes. O futuro exige respostas urgentes e sustentáveis. Nesse contexto, as florestas plantadas emergem como uma estratégia fundamental de mitigação.
De acordo com relatórios do IPCC, o setor de uso da terra (que inclui florestas manejadas e plantações) pode contribuir com até 30% da redução global de emissões necessária para limitar o aquecimento a 1,5°C a 2°C. As florestas plantadas funcionam como importantes sumidouros de carbono, absorvendo CO2 da atmosfera durante o crescimento das árvores e estocando esse carbono na biomassa (troncos, galhos, folhas e raízes). Ao mesmo tempo, ajudam a conservar florestas nativas ao oferecer madeira e outros produtos florestais de forma sustentável, reduzindo a pressão por desmatamento em ecossistemas sensíveis.
Os serviços prestados pelas florestas plantadas podem ir além do sequestro de CO2 atmosférico. Quando bem manejadas, desempenham um papel fundamental na regulação do microclima local por meio dos fluxos de energia. Seus dosséis apresentam albedo (fração da radiação solar refletida por uma superfície) relativamente baixo, absorvendo mais radiação solar e redistribuindo essa energia de forma mais equilibrada entre os processos de evapotranspiração (calor latente) e aquecimento do ar (calor sensível) e do solo (calor no solo).
Essas florestas tendem a aumentar a evapotranspiração, ou seja, disponibilizam vapor d’água à atmosfera, ao mesmo tempo em que favorecem o resfriamento evaporativo e amenizam o aquecimento do ar próximo à superfície. Simultaneamente, protegem o solo e mantêm condições de temperatura edáfica mais estáveis. Esses mecanismos contribuem para condições microclimáticas favoráveis, pois elevam o suprimento de vapor d’água à atmosfera e reduzem a temperatura do ar e do solo.
Além disso, as florestas podem conferir maior resiliência a eventos climáticos extremos, como a seca, dependendo da demanda hídrica da espécie e da distribuição e da profundidade do sistema radicular, ao ampliarem a infiltração de água no solo e fornecerem acesso à água em camadas mais profundas do solo, o que mantém as plantas evapotranspirando mesmo durante períodos de escassez de água nas primeiras camadas do solo.
Além disso, florestas plantadas funcionam como barreiras naturais ao avanço do fogo, reduzindo os ventos, estabilizando a umidade do ar e interrompendo a propagação de chamas, e oferecem forte controle da erosão ao proteger o solo contra o impacto das chuvas e promover maior agregação e estabilidade estrutural. Assim, além do papel produtivo e climático, essas formações são aliadas à conservação hídrica e à proteção ambiental.
Benefícios Econômicos:
O Brasil possui cerca de 10 milhões de hectares de florestas plantadas, com predominância de eucalipto e pinus. Esse setor representa 1,2% do PIB nacional e gerou R$ 130 bilhões em 2023. Ele também promove a recuperação de áreas degradadas e pode ser integrado a sistemas agropecuários, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), que melhora o solo, a produtividade e a resiliência ao clima. Plantações bem manejadas conservam recursos hídricos e favorecem a biodiversidade.
Com a crescente demanda por soluções climáticas, as florestas plantadas também ganham destaque no mercado de carbono. O carbono capturado por essas árvores pode ser mensurado, certificado e convertido em créditos, negociados tanto em mercados voluntários quanto em mercados regulados.
Nos últimos anos, o mercado voluntário de carbono florestal cresceu mais de 170% no Brasil (2020-2023), impulsionado por projetos de reflorestamento e de redução do desmatamento, em sinal de um movimento global que mobilizou mais de US$ 2 bilhões em 2023. Para ampliar a escala e a confiabilidade desses créditos, o País avança na criação de um mercado regulado: em 2024 foi instituído o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões, baseado em cap-and-trade, que deve trazer regras claras e estímulo à descarbonização em setores-chave da economia.
Com uma regulação adequada, estudos indicam que a contribuição do setor de florestas plantadas ao PIB nacional pode dobrar até 2030, ultrapassando 2,5%, gerando milhares de empregos verdes e atraindo investimentos internacionais. Em termos climáticos, estima-se que as florestas plantadas no Brasil possam sequestrar de 30 a 50 milhões de toneladas de CO2 por ano, o que representa um volume significativo de créditos negociáveis e uma contribuição robusta para as metas de redução de emissões.
Para ampliar os benefícios das florestas plantadas, são necessárias ações coordenadas. Entre as diretas, destacam-se o reflorestamento de áreas degradadas, alinhado à meta brasileira de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, e a adoção de sistemas integrados, como Lavoura-Pecuária-Floresta, que aumentam a produtividade e a sustentabilidade. Também é essencial garantir o replantio e a conservação do solo e da água após a colheita.
Nas ações indiretas, políticas públicas e incentivos são fundamentais. O País conta com um mercado de carbono regulado e com a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, que previne incêndios e protege estoques de carbono. Programas de Pagamento por Serviços Ambientais e linhas de crédito verdes apoiam novos plantios. Investir em capacitação técnica e em projetos cooperativos facilita o acesso de pequenos produtores ao mercado de carbono. Certificações rigorosas asseguram a credibilidade climática dos projetos, evitando o greenwashing e promovendo um ambiente propício à expansão do setor florestal com responsabilidade ambiental e impacto socioeconômico positivo.