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Luciano Budant Schaaf

Gerente de Planejamento e Tecnologia da Amata

Op-CP-29

Florestas nativas

A iminente aplicação do “novo” Código Florestal reacendeu as discussões relativas ao aproveitamento econômico da reserva legal (RL) e, em menor escala, das áreas de preservação permanente (APP). Dado que, mesmo com atraso de décadas, obrigatoriamente áreas de vegetação nativa em RL ou em APP deverão ser mantidas, é fundamental que elas sejam incorporadas ao arranjo econômico das propriedades rurais, em adição às atividades agropecuárias e florestais existentes nas áreas de uso alternativo do solo (AUAS), elevando sua rentabilidade total.

Cada um dos componentes das propriedades, AUAS, RL e APP, deve possuir atributos econômicos, ambientais e sociais. Caso contrário, haverá desperdício no uso de um recurso escasso, que é a terra, tanto do ponto de vista do proprietário quanto do País.

Portanto é necessário romper o paradigma de produção versus conservação, potencializando o alcance social da atividade florestal nativa. Para vencer esse desafio, algumas lacunas precisam ser preenchidas. Devido o desenvolvimento do setor florestal brasileiro ter se concentrado nas florestas de eucalipto e de pinus, várias questões ainda permanecem em aberto em relação à silvicultura e ao manejo das espécies nativas.

Do ponto de vista florestal, há dúvidas sobre espécies a plantar, padrões de crescimento, comportamento de plantios puros ou mistos, espaçamento, fonte de material genético e integração de manejos madeireiros e não madeireiros.

E as questões vão além: qual o melhor desenho de plantio, as idades, tipos e intensidade de corte? Deve-se optar pelo replantio ou pela regeneração natural ao longo dos diferentes ciclos? Não há um pacote tecnológico definido que possa ser aplicado em larga escala para gerar benefícios econômicos.

O reduzido conhecimento disponível hoje está concentrado em alguns pesquisadores e profissionais. Há gargalos no fornecimento de mudas e sementes, na dispersão e no tamanho reduzido das áreas, nas limitações para a mecanização e na logística.

A RL, geralmente, situa-se em áreas descartadas pelas atividades produtivas tradicionais, com topografia mais acidentada e solo de pior qualidade, o que dificulta seu aproveitamento. O cenário se agrava na APP. Porém a infraestrutura da propriedade já se encontra instalada e pode beneficiar a operação em RL e APP. Também é possível otimizar o trabalho das equipes de campo que já operam em AUAS. Tudo isso contribui para diluir os custos fixos da propriedade.

No campo comercial, as limitações dizem respeito a que produtos serão gerados – madeireiros, não madeireiros e serviços ambientais – e com que características. Além disso, é necessário considerar a escala de produção, diante da variedade de espécies e produtos, e a dinâmica dos preços.

Sendo a intensidade da colheita a base para a rentabilidade da RL, uma alternativa é gerar receitas antecipadas, pelo plantio de espécies madeireiras de rápido crescimento ou pela venda de produtos não madeireiros e serviços ambientais.

Um complicador é a regulamentação ambiental, que pode tanto viabilizar como solapar as tentativas de criação de uma economia florestal baseada no manejo de RL e APP.

Os pontos mais críticos são as restrições para a realização dos plantios, como o número mínimo e tipos de espécies, os arranjos silviculturais e sistemas de manejo, a quantidade a ser colhida e o intervalo entre as colheitas.

Tendo em vista que o plantio e o manejo de florestas nativas podem tornar-se uma alternativa de fornecimento de madeira tropical rastreável, em contraponto ao produto de origem duvidosa que domina o mercado, a academia, o governo, os proprietários rurais e os empreendedores deveriam intensificar seu engajamento na superação dos desafios que se apresentam.

De um lado, é preciso estimular o investimento em desenvolvimento tecnológico pelas agências de fomento. Do outro, o governo deve disponibilizar capital, na forma de incentivos, financiamentos e subsídios, para o plantio e o manejo de espécies nativas, já que essa é uma atividade de alto risco, porém essencial para o País. E, onde há risco, também existem grandes oportunidades.

Cabe aos empreendedores rurais e florestais buscá-las. As perspectivas são boas. Com a tendência de queda nas taxas de juros, os investimentos de longo prazo, como o plantio de espécies nativas, tornam-se mais atrativos. Esse cenário, ao lado da mobilização dos principais atores e do cumprimento da legislação, que finalmente está sendo colocada em prática, deve dar um grande impulso à atividade nos próximos anos.