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Paulo Gonçalves Barreto

Pesquisador do Imazon Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

Op-CP-25

É hora da inovação

Já virou clichê dizer que é necessário e possível conciliar desenvolvimento/produção com conservação/preservação. Entretanto, vários indicadores continuam revelando o aumento de problemas ambientais, inclusive as emissões de gases do efeito estufa. Produção ineficiente e aumento da população podem resultar em um futuro ainda mais assustador.

O que fazer para ir além do clichê? Indivíduos, governos e empresas terão que incorporar, de forma genuína, métodos que gerem inovação. Então, como inovar? Inovar envolve investimento e mudança de atitudes. Reconhecer que o futuro será de fato diferente.

Muitos líderes empresariais, apesar de declararem que é necessário buscar a sustentabilidade, continuam acomodados ou até operando para impedir as inovações (por exemplo, fazendo lobby contra regras ambientais, ou impedindo a competição). Eles fazem isso porque dão como certo que continuarão a ser líderes em qualquer cenário futuro (são grandes demais para falir).

Porém, a história revela que essa atitude levou ao fim ou declínio várias empresas líderes. Um exemplo atual é a perda de posições pela General Motors, que se acomodou ao dominar o mercado de veículos utilitários esportivos, mas perdeu mercado à medida que consumidores começaram a buscar veículos mais eficientes por considerações econômicas e ambientais.

A indústria fonográfica (dominada por quatro grandes empresas) perdeu grande parte do seu mercado pela revolução provocada pelos tocadores de música digitais. O mesmo ocorreu com a indústria fotográfica analógica, cuja gigante Kodak caiu drasticamente.

Creio que esses exemplos são suficientes para enfatizar que sobrevirão as empresas que reconhecerem que o futuro será de fato diferente. Seja por demanda de leis e/ou do mercado, as empresas terão de produzir poluindo muito menos e usando muito menos recursos do que atualmente.

Para dar um exemplo, as emissões de carbono terão de ser reduzidas em 80% até 2050, para evitar os piores cenários de mudanças climáticas, segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC. Assim, as empresas devem investir na criação de produtos e métodos muito mais eficientes; mesmo aquelas líderes que, temporariamente, estão confortavelmente na liderança.

Porém, parte do investimento deve ser feita pelo governo, dado o volume de recursos necessários, o risco envolvido e a natureza de bem público do produto ou serviço. Nesses casos, os empresários devem usar o seu poder político para influenciar os investimentos públicos em inovação.

Um bom exemplo vem de Bill Gates e outros empresários, que iniciaram a campanha “inovação para o zero” para mobilizar o governo americano a investir US$ 16 bilhões por ano para criar meios de produção energética livres de emissões.

A inovação geralmente nasce da interseção de várias áreas do conhecimento que não são dominadas por uma pessoa, por uma profissão ou por um segmento produtivo. Assim, quem for mais apto a ir além das suas fronteiras tradicionais de ação e conhecimento tenderá a inovar mais rapidamente. 

Na minha experiência, empresários, ambientalistas e mesmo pesquisadores ainda têm muito a aprender sobre colaboração na área ambiental. Ainda impera a desconfiança. Pior, quem quer colaborar com grupos diferentes tende a ser criticado pelos seus grupos de origem. Além disso, algumas iniciativas que visam propor a colaboração e o diálogo entre setores divergentes são de fato tentativas de cooptar os interlocutores. Ou seja, não há espaço para o debate aberto e pouco se ouve.

Portanto, a colaboração exige coragem e humildade para sair da zona de conforto de sua área de atuação e abertura para ouvir de fato. Quem faz isso tende a desenvolver novas ideias ao ser desafiado por outros pontos de vista.

Como pesquisador, aprendo muito quando viajo para o campo e converso com madeireiros, fazendeiros, funcionários de frigoríficos e outros envolvidos no dia a dia da extração e processamento de produtos na Amazônia. Desses diálogos, já surgiram várias ideias de pesquisa.

A seguir, algumas perguntas que podem orientar a revisão da sua capacidade de inovação. Sua empresa monitora o tipo e grau de impacto ambiental, incluindo emissões de carbono? Sua empresa está preparada para produzir poluindo menos e usando menos recursos? Seus gerentes sabem engajar e ouvir ideias dos funcionários que podem facilitar a inovação? Sua empresa premia funcionários pela criação de novas ideias? Sua empresa monitora e avalia as tendências tecnológicas que poderão transformar o seu setor de negócios? Participa de redes de colaboração que trarão novas ideias ou desafios para impulsionar a inovação? Sua empresa abre espaço para ouvir as demandas e críticas dos consumidores?