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Nestor de Castro Neto

Presidente da Voith Paper

Op-CP-02

Brasil, um gigante adormecido pela falta de coragem

O Brasil, país que representa 8% do mercado mundial e 60% do mercado sul-americano de papel e celulose, ainda aguarda por impulsos políticos, econômicos, sociais e tributários, para assumir seu lugar entre os líderes do cenário mundial do setor. O país dispõe de inúmeros fatores naturais, para alavancar um crescimento acelerado da produção de papel e celulose, como o clima, a riqueza do solo, o ciclo de chuvas, a disponibilidade de terras, a velocidade de crescimento das florestas, o baixo custo de produção, etc.

Alia-se a estes, fatores de capacitação técnica, como centros de pesquisa em engenharia genética florestal, conhecimentos na produção de fibra de eucalipto, pessoal qualificado, escolas especializadas e fornecedores de ponta, como a Voith Paper que, com seu longo histórico de relações comerciais com o Brasil e com uma importante filial instalada há mais de 40 anos no país, tem trabalhado para o crescimento do setor, em escala mundial.

Independentemente dessas potencialidades, vemos o país desperdiçar várias oportunidades. Por um lado, grande quantidade de novas unidades para a produção de papel e celulose vêm sendo instaladas em outros países, com menores recursos naturais e tecnológicos que o Brasil, por outro, registramos ainda um baixo consumo per capita de papel.

O consumo de papel aqui é de 40 kg/ano/habitante, contra 230 kg/ano/habitante no Japão. E ainda gastamos divisas com a importação de papel jornal, devido à dificuldade de viabilização de instalação de nova unidade produtiva para esse tipo de papel no país, dificuldade essa relacionada com condições tributárias impeditivas, que vêm sendo combatidas por longos 7 anos.

A Voith Paper Brasil, com seu parque industrial de primeira linha, pronto para produzir máquinas e equipamentos de ponta, teve de exportar, nos últimos anos, 60% de sua produção para outros países, como EUA, Canadá, México, Argentina, Chile, Uruguai, Bélgica, Alemanha, Portugal, Espanha, Áustria, Itália, África do Sul, Japão, China, Suécia, Finlândia e Austrália.

Se, por um lado, isso traz divisas ao país, por outro, deixa latente o baixo investimento em novas fábricas de papel no Brasil, onde ano após ano, os principais projetos vão sendo prorrogados. O que fazer para unir nossas potencialidades às oportunidades que se apresentam? Os entraves são conhecidos. Na área político-econômica, temos a alta carga tributária, as altas taxas de juros, a apreciação de nossa moeda, devido à grande entrada de capitais especulativos, a falta de linhas de crédito, a inexistência de política industrial, entre outros.

Neste momento de inflexão no crescimento do país, onde, por mais paradoxal que possa parecer, começamos uma derrocada de crescimento, enquanto o mercado mundial cresce como nunca, nenhum economista consegue explicar, de forma consistente, por que o Brasil tem a maior taxa de juros reais do planeta, sendo o dobro da segunda maior? O que temos pior que outros?

Quanto ao baixo consumo, há inegável interdependência entre ele e o nível de escolaridade de nosso povo. Baixa escolaridade acarreta baixo poder aquisitivo e ambos resultam em baixo consumo de papel. Em meu dicionário, agressi-vidade é sinônimo de ação. O Brasil precisa de agendas política, social, econômica e tributária positivas. Muito se fala em falta de vontade política.

Na verdade, eu vejo falta de coragem política. Coragem para finalmente realizar a tão necessária reforma tributária (um dos pouquíssimos países que taxam o investimento e não a produção); coragem para desonerar o investimento e o empreendedorismo; coragem para controlar a voracidade arrecadadora do estado; coragem para controlar o tamanho do estado; coragem para investir na educação, o tanto que o país precisa; coragem para estabelecer políticas industriais de longo prazo; coragem para reconhecer a contribuição positiva de antecessores e adversários; coragem para abrir mão de interesses pessoais e partidários, em prol da nação. E, finalmente, coragem e orgulho de se assumir como brasileiro e patriota.