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Moacir Batista do Nascimento Filho

Chefe Geral da Embrapa Florestas

Op-CP-01

Bendito apagão florestal

O alerta sobre a falta de madeira teve início na década de 1980, ampliou-se na década seguinte e, em 2002, consolidou-se com a vinda a público do Programa Nacional de Florestas, PNF, informando que para uma necessidade de plantio anual de 600 mil hectares, plantava-se apenas um terço. Atualmente, já se admite a possibilidade de um déficit de 27 milhões de metros cúbicos de pínus no mercado brasileiro, em 2020. Um exagero? São afirmações de pessoas experientes do setor.

Estabeleceu-se, portanto, o consenso sobre a falta de madeira, ratificando as previsões do PNF, de importantes empresários e de instituições públicas do setor florestal. Aponta-se hoje para uma necessidade de plantio da ordem de 450 a 600 mil hectares anuais, dos quais segmentos empresariais vêm plantando entre 170 e 200 mil hectares.

Este déficit poderia ser ainda maior, não fossem os avanços na tecnologia nacional, que levaram ao aumento da produtividade, à melhoria dos rendimentos industriais e asseguraram processos de reciclagem em algumas áreas, como no setor de papel e embalagem. A reação do governo, ultimamente, tem sido boa, haja visto que o PNF anunciou plantios da ordem de 475 mil em 2004 e previu 500 mil, para 2005.

Números suficientes para resolver o problema do apagão florestal, na opinião de alguns. Para mim, euforia pura. Em primeiro lugar, uma parte desses plantios destinam-se para recuperação de reserva legal (RL) e uma outra, para restauração de florestas ciliares (APP). Ações importantíssimas do ponto de vista ecológico e de melhoria da imagem do setor, mas de pouco impacto para as indústrias.

As APPs, por exemplo, não poderão ser utilizadas para produção e as RLs, somente sob regime de manejo, sem corte raso. Ou seja, uma parte significativa desses plantios é de florestas plantadas com o intuito de reflorestamento e não de produção comercial de madeira. Além disso, os plantios estão pulverizados nas diversas regiões brasileiras, em grande parte das vezes, em áreas distantes de indústrias de base florestal.

Ressalte-se, também, que grande parte poderá sofrer reduções em função de falhas de condução, tais como controle de formiga e concorrência de plantas invasoras, dentre outras. Assim, o mais seguro, é que as indústrias continuem a ampliar sua base florestal. Caso contrário, terão problemas com elevação do preço da matéria-prima e poderão, pior ainda, perder competitividade no futuro.

O apagão florestal, apesar dos problemas que trouxe consigo, certamente será um marco na história do setor. Nunca se viu, desde a década de 1960, tamanha movimentação nas áreas política, empresarial e científica. Há quem o classifique, inclusive, de “bendito apagão”. No que se relaciona à ciência e à tecnologia, assistiremos no século XXI, certamente, a uma melhoria na eficiência da atividade florestal madeireira.

Produzir-se-á mais produto, com igual quantidade de matéria-prima e ter-se-á menores desperdícios nos processos de exploração e de industrialização. Isto se dará com a colaboração efetiva da academia e dos departamentos de pesquisa das empresas, produzindo ou adaptando tecnologias para a modernização das serrarias, a melhoria contínua da eficiência dos processos de produção de papel e celulose, a seleção de materiais genéticos com maiores rendimentos e qualidade superior, a ampliação dos processos de reciclagem e, também, para geração de novas tecnologias voltadas para a produção de produtos, que levem ao aproveitamento máximo das árvores, em plantações comerciais (MDF, OSB, LVL, dentre outros).

Muita inovação deverá vir com o estudo do genoma do eucalipto, através do Programa Genolyptus, desenhado por um conjunto de empresas, inclusive da Embrapa, com recursos da iniciativa privada e do governo. Considerando que o apagão é inevitável, para que as conseqüências sejam menores, além das ações de C&T&I, há que se tomar várias outras medidas, dentre as quais destacam-se:

a. Importação, no curto prazo, de madeira de países vizinhos;
b. Ampliação da base florestal, principalmente, pelas empresas e seus integrados;
c. Incorporação de agricultores familiares ao agronegócio florestal, via integração ou através de cooperativas e associações ou consórcios;
d. Ocupação das áreas degradadas, por inadequado uso agrícola, com espécies florestais de rápido crescimento;
e. Planejamento estratégico do setor, considerando o ordenamento florestal e um Plano Plurianual de metas;
f. Manutenção de uma política de incentivos (linhas de crédito compatível com a atividade florestal;
g. Estabelecimento de um sistema de governança da inovação para o setor de base florestal brasileiro, e
h. Ampliação dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação.

Por fim, há necessidade de assegurar que os recursos injetados para o setor cheguem efetivamente à ponta: aos produtores e às indústrias, e que haja uma efetiva interação interministerial, em prol do desenvolvimento do setor.