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Eduardo da Silva Lopes

Professor de Ergonomia, Colheita e Logística Florestal e Coordenador de Pós-graduação do Unicentro

OpCP66

Aplicação da ergonomia para uma colheita de madeira inteligente
A colheita de madeira tem evoluído de forma significativa no setor florestal brasileiro em função dos avanços tecnológicos apresentados pelas indústrias de máquinas, que têm disponibilizado ao mercado florestal produtos cada vez mais modernos e de elevada capacidade produtiva. Ao contrário das operações com menor grau de mecanização, que exigem elevado esforço físico dos trabalhadores e a realização das atividades em condições ambientais inadequadas, a maioria das máquinas de colheita da madeira possuem postos de trabalho climatizados que oferecem maior conforto e segurança aos operadores, além de modernos sistemas de controle para a obtenção de dados e informações, auxiliando a tomada de decisão de forma assertiva e inteligente.

Tal fato tem possibilitado às empresas florestais a obtenção de ganhos significativos de produtividade, qualidade e segurança, além de melhores resultados ambientais e de custos. Entretanto é evidente que todo esse processo de desenvolvimento tecnológico não garante o sucesso pleno da colheita de madeira, sendo fundamental ser considerado o fator humano, que responde por significativas diferenças no desempenho das operações florestais. 

Atualmente, temos observado inúmeros trabalhos e relatos pelo País acerca das novas tecnologias disponíveis para a gestão e a operação da colheita de madeira, mas pouco se discute a respeito da ergonomia, como se todos os problemas tivessem sido superados com a mecanização das operações florestais. O fato é que, apesar de todas as tecnologias, ferramentas e inteligências disponíveis, as operações são ainda muito complexas e realizadas, na maioria das vezes, em condições adversas quanto a procedimentos operacionais, floresta e terreno, trazendo dúvidas se isso poderá acarretar novos problemas para a saúde dos operadores. 

E, sob esse aspecto, é importante também mencionar o uso de máquinas adaptadas ou importadas de países cujos operadores possuem diferentes características antropométricas e o surgimento de novos procedimentos de trabalho, com maior exigência física e mental aos operadores, aliados à execução das operações em ritmo mais acelerado. 

E tais situações poderão ser agravadas devido aos operadores permanecerem grande parte da jornada de trabalho na posição sentada, no interior das cabines das máquinas, e, em algumas situações de trabalho, adotando posturas corporais inadequadas, realizando movimentos repetitivos e expostos a níveis de vibração. Essa situação de monotonia somada ao sedentarismo e à alimentação desequilibrada são muito comuns atualmente, podendo, no futuro, comprometer o bem-estar, a segurança e a saúde física e mental, com consequente redução da capacidade produtiva. 
 
Por isso surge a necessidade da realização de novos estudos nas operações de colheita da madeira mecanizada, com ênfase aos possíveis riscos ergonômicos existentes nos postos de trabalho para a adoção de soluções eficazes. Cabe aqui destacar que a ergonomia tem, em muito, contribuído para a melhoria das condições do trabalho humano, todavia é uma ciência relativamente recente e com reduzida contribuição na área florestal em nosso país, comparada a outros setores, devido aos poucos estudos e divulgação, sendo que a maioria das ações têm foco na segurança.

Em recentes pesquisas na área ergonômica desenvolvidas por nosso grupo nas operações de colheita da madeira mecanizada, verificamos que os aspectos relacionados ao conforto térmico e ao ruído estão praticamente superados. Todavia existem ainda, em determinadas condições operacionais específicas, alguns riscos ergonômicos relacionados aos aspectos de visibilidade, vibração, postura corporal e movimentos repetitivos, que necessitam ser avaliados com maior profundidade. 

Em relação à postura corporal, esta é adotada pelos operadores conforme determinadas condições de trabalho, sendo caracterizada como um fator físico associado à ocorrência de distúrbios musculoesqueléticos, devendo ser ressaltado que o corpo humano se move e trabalha de forma mais eficiente quando as articulações estão na faixa de neutralidade. Por outro lado, apesar de o corpo ser adaptável a uma grande variedade de posturas, uma determinada condição ou sistema de trabalho poderá forçar o operador da máquina a adotar determinadas posturas inadequadas, que, no longo prazo e em maior frequência, fazem surgir lesões que serão agravadas quando do trabalho em condições operacionais adversas. 

Em seguida, podemos destacar o fato de algumas operações de colheita da madeira mecanizada serem caracterizadas pela exigência de movimentos repetitivos, principalmente naquelas de ciclos curtos, quando os operadores necessitam acionar, com grande frequência, os sistemas de controle das máquinas, podendo originar lesões nos membros superiores no longo prazo.

Por fim, os operadores podem, ainda, estar expostos a níveis de vibração transmitida aos membros superiores (mãos e braços) e ao corpo inteiro, acima dos limites aceitáveis, sendo tais situações causadas, principalmente, pelos constantes deslocamentos das máquinas em terrenos declivosos, irregulares e com obstáculos, podendo contribuir para o surgimento de doenças musculoesqueléticas.

Apesar de as pesquisas terem demonstrado que tais fatores de riscos ergonômicos nos postos de trabalho das máquinas estejam, na maioria das vezes, relacionados às características operacionais e por não haver relatos dos reais impactos causados à saúde dos operadores, não há dúvidas da necessidade de um maior aprofundamento por meio de novos estudos, de modo a melhor caracterizar tais riscos ergonômicos e os possíveis impactos na saúde dos operadores.

E, como não existe uma causa única para a ocorrência de lesões, existindo vários fatores que podem concorrer para o seu surgimento (posturas inadequadas, movimentos repetitivos, esforço físico, trabalho muscular estático, vibrações, etc.), justifica-se a necessidade de tais estudos.

Por isso, por meio de parcerias com renomados pesquisadores da área ergonômica e da saúde e o apoio de empresas florestais, pretendemos dar continuidade a tais estudos, aprofundando as avaliações dos fatores de riscos ergonômicos nos postos de trabalho das máquinas de colheita da madeira, bem como os possíveis riscos de lesões pela aplicação da técnica de termografia infravermelha.

E, ao final dos estudos, esperamos contribuir para o setor florestal por meio do compartilhamento de informações e da apresentação de propostas para a solução de possíveis problemas ergonômicos no trabalho e, se necessário, de propostas para os novos projetos das máquinas, possibilitando, assim, oferecer um maior conforto, bem-estar, segurança e saúde aos trabalhadores, com consequente ganho na capacidade produtiva das operações florestais.