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Milton Dino Frank Junior

Diretor da Associação Brasileira de Produtores de Mogno Africano

OpCP67

A plantação de mogno-africano e seus desafios
No Brasil, os plantios comerciais de mogno-africano são todos do gênero Khaya. Hoje, o gênero Khaya possui 8 espécies, mas, no Brasil, plantamos apenas 4 delas e temos 5 espécies desse gênero. As primeiras sementes de mogno-africano chegaram ao Brasil em 1976. Foram dadas de presente ao professor Ítalo Falesi, que as plantou na sede da Embrapa no estado do Pará.
 
O professor recebeu essas sementes como sendo de Khaya ivorensis, mas, com o tempo, a CVRD – Vale do Rio Doce importou sementes de Khaya ivorensis, que foram plantadas na Reserva Natural da Vale do Rio Doce em Linhares, no estado do Espírito Santo, e, à medida que essas árvores foram crescendo, o mestre Gilberto Terra, que, na época trabalhava nessa reserva, percebeu que o mogno Khaya ivorensis que estava plantado na Reserva da Vale era completamente diferente do mogno Khaya ivorensis plantado na Embrapa em Belém, no estado do Pará.
 
Esse foi um imbróglio que durou cerca de 5 a 6 anos, até o dia em que a ABPMA – Associação Brasileira dos Produtores de Mogno-africano trouxe o maior especialista em Khaya no mundo, que é o Dr. Bouka Dipelet Ulrich Gaël, para que essas árvores fossem classificadas botanicamente in loco e, assim, fosse identificado o nome real das duas espécies diferentes do gênero Khaya. O Gaël é natural da República do Congo, foi graduado na Universidade de Montppelier na França, que, recentemente, reclassificou, de forma científica e incontestável, todas as espécies do gênero Khaya.

Devido a essa visita, hoje sabemos que as árvores que estão na Embrapa-PA são de Khaya grandifoliola e que as árvores que estão na Reserva da Vale são Khaya ivorensis. A Khaya grandifoliola ocorre em florestas semidecíduas, especialmente em tipos mais secos e em savanas, mas, nesse último caso, geralmente ao longo de cursos de água, em áreas com precipitação anual de 1200-1800 mm e uma estação seca de 3 a 5 meses. Ocorre até 1400 m de altitude. Às vezes, pode ser encontrada em partes rochosas e montanhosas de florestas semidecíduas úmidas. No Sudão e em Uganda, ocorre na floresta de várzea, particularmente na floresta de galeria. Prefere solos úmidos, mas bem drenados, e é comum localmente, em solos aluviais em vales.
 
A Khaya senegalensis ocorre na floresta da savana, geralmente em locais úmidos e ao longo de cursos de água, em áreas com 650 a 1300 mm de precipitação anual e uma estação seca de 4-7 meses. Ocorre até 1500 m de altitude. Às vezes, é encontrada na floresta ripária. Prefere solos aluviais profundos e bem drenados e montes de cupins, mas também pode ser encontrada em solos rasos e rochosos, onde geralmente permanece muito menor. Ela tolera inundações na estação chuvosa.

A Khaya anthotheca ocorre na floresta semidecídua, tanto do tipo mais úmido quanto do mais seco, e na zona de transição entre a floresta semidecídua seca e a savana, em áreas com precipitação anual de 1200 a 1800 mm e uma estação seca de 2 a 4 meses. A Khaya anthotheca geralmente ocorre espalhada nas encostas, ao longo dos cursos de água. No leste e sul da África, é encontrada em florestas tropicais e ribeirinhas de até 1500 m de altitude. Nas florestas comerciais, ela exige solos profundos férteis e muita água. Khaya ivorensis é mais abundante em florestas sempre verdes, mas também pode ser encontrada em florestas semidecíduas úmidas, em áreas com precipitação anual de 1600 a 2500 mm e uma estação seca de 2 a 3 meses, até 700 m de altitude. 

Prefere solos aluviais úmidos, mas bem drenados, mas também pode ser encontrada em declives, em solos lateríticos. As sementes podem germinar em pleno sol, bem como na sombra, mas a regeneração natural é aparentemente escassa em grandes lacunas. As mudas podem sobreviver na sombra densa, mas, para um bom crescimento, é necessária a abertura do dossel da floresta.

A cultura do mogno-africano:
Para plantar uma floresta de mogno-africano, é necessário ter uma área numa região onde a altitude seja a recomendada para a espécie, onde, de preferência, não ocorram geadas, e a pluviosidade anual atinja a necessidade de cada espécie por ano, mesmo porque, abaixo desse índice de pluviosidade, o plantio deverá ser irrigado, o que significa maior custo de implantação, e que tenha também o tipo de solo adequado para cada espécie do gênero.
 
Khaya senegalensis aprecia a maioria dos tipos de solos existentes; já a Khaya anthotheca e a Khaya grandiofoliola vão se adaptar bem em locais com 1600 mm de chuva por ano e solos com pelo menos 16% de argila.  A Khaya ivorensis vai acompanhar o solo das espécies grandifoliola e anthotheca, porém, como essa espécie suportará apenas 4 meses de seca no período das estiagens, o índice de pluviosidade para adaptação dessa espécie deve ser de, no mínimo, 1800 mm por ano.
 
Nada impede de se plantar Khaya sem um sistema de irrigação, porém precisa realizar irrigação de sobrevivência com um pipa na época das secas, quando necessário. Um grande desafio para ciência e produtores de mogno: até hoje, no meio dos produtores de mogno-africano, o tema “espaçamento” é debatido. Existem pessoas que defendem o plantio adensado e existem produtores que defendem o plantio mais espaçado. 
 
Se você visitar algumas fazendas onde a cultura de Khaya foi implementada, vai constatar que o plantio de Khaya senegalensis é feito mais adensado, e as outras espécies de Khaya são plantadas mais espaçadamente.

Principais espaçamentos observados por espécie:
• Khaya senegalensis: 3x3, 3x4, 3x6, 4x4, 5x5, 6x6, 8x8. A maioria dos plantios de senegalensis que visitei eram 3x3 ou 6x6.
• Khaya grandifoliola e Khaya anthotheca andam juntas, e seus espaçamentos vistos são: 3x6, 4x4, 5x5, 6x6, 8x8, 10x10, 2x8, 5x6 e 12x12. A maioria dos produtores utilizam, para essa espécie, o espaçamento 6x6, mas o plantio que visitei, que apresentou até então o melhor resultado, foi o do associado da ABPMA, Michel, em Paragominas, no Pará, que foi implantado com o espaçamento 12x12.

Preparo de solos:
É necessária a elaboração de covas para o plantio, e o uso da grade e do subsolador não está descartado, mas tudo isso dependerá do tipo de solo do sítio do plantio. Khaya grandefoliola, anthotheca e ivorensis vão apreciar um solo onde a calagem foi realizada, já a Khaya senegalensis gosta de solos ácidos. 
 
Adubação:
Geralmente, se faz adubação NPK nos plantios de Khaya. Porém alguns micronutrientes, como boro, cobre, zinco e manganês, são bem-vindos. Aqui, vale a pena ser realizada uma análise de solos, e, através dela, com a orientação de um profissional capacitado, realizar a adubação.
 
Poda:
É necessário podar o mogno-africano, uma vez que o desejo final de todo produtor são toras retas e perpendiculares ao solo.

Outros desafios da cultura:
A cultura de Khaya no Brasil ainda é recente, e existem vários desafios a serem determinados: • melhoramento genético; • nutrição; • estudo e combate a pragas e doenças da cultura; • padrões finais de qualidade da madeira serrada de mogno-africano; • manejos que podem ser feitos durante a cultura visando a qualidade final da madeira; • espaçamento de plantio; • e outras.