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Washington Luiz Esteves Magalhães

Pesquisador da Embrapa Florestas

OpCP64

Os profissionais que atuam no setor de base florestal
Coautores: Prof. Dra. Mayara Elita Carneiro e Prof. Dr. Pedro Henrique Gonzalez de Cademartori, ambos da UFPR

A cadeia produtiva do setor de base florestal é uma atividade econômica complexa e diversificada de produtos e aplicações. O País tem grande disponibilidade de recursos florestais, possui extensas áreas de florestas aliadas a umas das melhores produtividades florestais. Concomitantemente ao crescimento dos plantios de florestas de rápido crescimento, surgiu uma complexa estrutura produtiva no setor. 
 
A cadeia permeia desde grandes commodities produtoras de celulose e papel até produtores de equipamentos, insumos, painéis de madeiras, móveis, energia, construção civil, projetos de engenharia e outros produtos tecnológicos oriundos da floresta, sejam eles desenvolvidos a partir de matérias-primas madeiráveis ou não madeiráveis.
 
Diante da complexidade das atividades florestais, da heterogeneidade da matéria-prima da floresta e dos diversos processos e tecnologias de conversão, qual é o profissional que atua no segmento de base florestal?

A formação desses profissionais é diversificada, a contar o tipo de especialização demandada pelo setor de atuação. Levando em consideração o desenvolvimento exponencial do setor florestal em termos de novas tecnologias e oportunidades, especialmente fundamentadas nos conceitos de bioeconomia, diversos outros perfis são requeridos para dar sustentação a esse desenvolvimento tecnológico. 

Assim, para atender a esses desafios, necessita-se da aplicação dos conceitos de interdisciplinaridade e multidisciplinaridade em prol de um setor florestal com participação ainda maior na economia brasileira, além de uma representatividade internacional ainda mais eloquente. 

Um setor historicamente marcado por indústrias familiares, tradicionais e de predominância masculina, timidamente, nos últimos anos, observa-se a atuação mais diversificada, especialmente com a participação feminina. Já contamos com gestoras nas indústrias, nas florestas, nas universidades e institutos de pesquisas. É preciso cessar, de uma vez por todas, a distinção que, muitas vezes, é feita na contratação de homens e mulheres.

Os profissionais com a formação em engenharia desempenham um papel muito importante no desenvolvimento tecnológico desse setor. A atuação desses profissionais, em geral, está associada aos processos, à melhoria contínua dos produtos e da produção, à gestão industrial e às atividades de inovação e pesquisa e desenvolvimento. 
 
Para o crescimento desse setor, aliando maior produtividade com sustentabilidade e promovendo melhoria da renda, aumento de empregos qualificados e do seu perfil distributivo, precisamos de um planejamento mais ativo do setor público, em consonância com a sociedade e o setor privado, acerca da formação de recursos humanos qualificados no Brasil.

O cenário mundial demanda o uso intensivo da ciência e tecnologia e exige profissionais altamente qualificados. Em tempos pandêmicos, essas relações mostram-se ainda mais fortes e evidentes para toda a sociedade. Dessa maneira, estratégias que prevaleceram no Brasil no século XX, baseadas em investimentos de subsidiárias estrangeiras, não manterão o progresso. Precisamos investir em ciência e tecnologia, qualificar a mão de obra nacional e, assim, aprimorar processos e produtividade do setor florestal.

Portanto o perfil do novo engenheiro deve ser capaz de propor soluções que sejam não apenas tecnicamente corretas, porém deve ter a pretensão e considerar os problemas em sua totalidade, prevendo os aprimoramentos em toda a cadeia florestal. Pensando na formação desses nossos engenheiros, químicos, biólogos e afins, devemos pensar em cursos de graduação com estruturas flexíveis, buscando o fortalecimento de disciplinas básicas, além da articulação permanente com a área de atuação.

Precisamos de profissionais com visões multidisciplinares, com articulação direta com a pós-graduação, forte vinculação entre teoria e prática, preocupados com a sustentabilidade e com a integração social e política. Atividades complementares devem ser estimuladas, pois procuram desenvolver posturas de cooperação, comunicação e liderança, como a participação em trabalhos de iniciação científica, projetos de extensão, visitas técnicas, programas de educação tutorial, trabalhos em equipe, desenvolvimento de projetos, monitorias, participação em empresas juniores, entre outras. 
 
De um modo geral, os cursos de engenharia em todo o Brasil e em qualquer área, não apenas a florestal, demandam de seus estudantes um número elevado de disciplinas. Com frequência, semestres com 12 ou 13 ou até mais disciplinas são necessárias. Provavelmente, esse número crescente de disciplinas foi sendo adicionado aos currículos na tentativa de atender ao setor produtivo. Todavia essa estratégia é muito diversa da praticada em países desenvolvidos, mesmo para o caso florestal, como Finlândia, Suécia, Canadá e Estados Unidos, para citar apenas alguns.

Para o futuro de nosso setor florestal ser longevo, deveríamos diminuir o número de disciplinas ao básico, assuntos a que hoje não se dá muita importância, como matemática, física, química, físico-química, biologia e termodinâmica. Além disso, ter disciplinas das novas ciências disponíveis, mas não obrigatórias, para os interessados, como nanotecnologia, biotecnologia, biologia sintética, negócios, entre tantas outras possibilidades.

Concomitantemente, possibilitar aos estudantes uma maior interação prática com empresas, laboratórios e institutos de pesquisa do setor florestal ao longo do seu período de formação na graduação, não se restringindo aos períodos finais devido à alta carga horária imposta pelos cursos. Por exemplo, temos uma empresa de produção de lápis de madeira que existe desde o século XVII, e, com certeza, pode ensinar a qualquer um como ser produtiva e lucrativa, não precisando receber egressos da universidade para lhes ensinar como produzir lápis.

Contudo, se o egresso da academia tiver os conhecimentos básicos necessários, poderá aprender a produzir lápis quando for contratado por tal empresa em menos de uma semana, para ser conservador. O profissional florestal deverá ter os conhecimentos básicos para resolver problemas muito além da aplicação de normas e procedimentos repetitivos, pois estes as empresas já o sabem. Consequentemente, esses profissionais altamente qualificados serão rapidamente absorvidos pelo mercado de trabalho, contribuindo para o desenvolvimento do setor florestal. Em tempos pandêmicos, os desafios para a construção da economia não serão nada fáceis, porém o setor de base florestal está contribuindo fortemente.