Me chame no WhatsApp Agora!

Willian Bucker Moraes

Professor da UFES - Universidade Federal do Espírito Santo

OpCP82

Oportunidades para o setor florestal brasileiro
O tema das políticas ambientais e do mercado de carbono hoje abre uma janela concreta de oportunidades econômicas, tecnológicas e sociais, especialmente para o setor florestal brasileiro. Sem entrar na polêmica sobre a causa das mudanças climáticas, o foco passa a ser como transformar a agenda de Gases de Efeito Estufa (GEE) em inovação, renda, empregos verdes e fortalecimento de paisagens produtivas e conservadas.
 
Do debate climático às oportunidades: O Brasil assumiu metas formais de reduzir emissões e caminhar para emissões líquidas zero até 2050, com compromissos intermediários de corte expressivo em relação a 2005. Mais do que uma obrigação, esse movimento reposiciona o País como protagonista em soluções baseadas na natureza, em biocombustíveis e em sistemas produtivos de baixo carbono. 
 
A discussão sobre se o aquecimento global é causado pelo ser humano ou não segue em fóruns científicos e políticos, mas não precisa paralisar decisões. Independentemente da origem, eventos extremos, pressão de mercados e novas regras de comércio já estão reorientando investimentos, exigindo transparência climática e abrindo espaço para quem consegue produzir mais, emitindo menos.

Políticas ambientais em atualização: A política climática brasileira está em revisão, com consultas públicas para atualizar a Política Nacional sobre Mudança do Clima e alinhar leis setoriais às novas metas de redução. Isso significa rever instrumentos econômicos, metas setoriais e mecanismos de monitoramento, inclusive para uso da terra, agricultura e florestas.
 
O Plano Clima, que orienta a ação federal até 2035, organiza a agenda em dois pilares: mitigação (redução de emissões) e adaptação (preparar cidades, produção rural e ecossistemas para eventos extremos). Nesse contexto, as florestas aparecem como eixo central, tanto pelo controle do desmatamento quanto pela restauração de vegetação nativa em larga escala.
 
Florestas como infraestrutura de carbono: A nova NDC brasileira e documentos correlatos tratam a restauração florestal como um dos principais vetores para alcançar emissões líquidas zero em 2050. Reconstituir vegetação nativa e recuperar áreas degradadas significam remover carbono da atmosfera, proteger água, solo e biodiversidade e, ao mesmo tempo, gerar trabalho no campo.
 
Planos específicos para a Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e outros biomas combinam comando e controle com incentivos econômicos para tornar vantajosa a manutenção e a recomposição de florestas em propriedades privadas. Isso cria um novo papel para produtores rurais, empresas de base florestal e comunidades tradicionais como provedores de serviços ambientais.

Mercado de carbono: da teoria ao bolso: O passo decisivo recente foi a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), por lei sancionada em 2024, que estrutura o mercado regulado de carbono no País. Esse sistema prevê que milhares de empresas com grandes emissões tenham metas obrigatórias de redução e possam comprar Cotas Brasileiras de Emissão (CBEs) para complementar seus esforços internos.
 
Em paralelo, o mercado voluntário segue ativo, com empresas que não são obrigadas por lei, mas buscam neutralizar emissões e atender a exigências de investidores e consumidores. Hoje o mercado global de créditos de carbono movimenta bilhões de dólares, mas ainda compensa apenas uma fração pequena das emissões, o que revela um espaço enorme de crescimento para projetos robustos, especialmente em países florestais como o Brasil.

Inovação e soluções de baixo carbono: No campo tecnológico, o País avança em biocombustíveis, fertilizantes de menor pegada de carbono e maquinário agrícola de alta eficiência, reforçando a autonomia energética e produtiva com menor emissão por unidade de produto. Ao mesmo tempo, plataformas digitais, sensoriamento remoto e sistemas de monitoramento em tempo quase real aumentam a confiabilidade dos dados de emissões e remoções, condição essencial para a credibilidade de créditos florestais.
 
Ferramentas de modelagem e cenários de mitigação permitem avaliar quanto cada prática – de reflorestamento à mudança de manejo – contribui para reduzir GEE ao longo do tempo. Esse ambiente de dados e transparência abre espaço para startups, cooperativas e empresas florestais desenvolverem soluções sob medida para cadeias específicas, de papel e celulose à madeira engenheirada e produtos não madeireiros.
 
Agricultura, florestas e sistemas integrados: A agricultura brasileira aparece como fonte e, ao mesmo tempo, solução para as emissões de GEE, com forte destaque para práticas de baixo carbono. O Plano ABC+ estimou que ações como integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), plantio direto e recuperação de pastagens degradadas podem evitar ou remover mais de um bilhão de toneladas de CO? equivalente até 2030.
 
Sistemas integrados com componente florestal capturam carbono no solo e na biomassa, reduzem pressão sobre novas áreas de desmatamento e elevam a resiliência dos sistemas produtivos. Para o produtor, isso se traduz em ganhos de produtividade, diversificação de renda e possibilidade de remuneração adicional via créditos de carbono ou pagamentos por serviços ambientais.

Setor florestal como protagonista: Para o setor florestal, o novo marco de carbono redefine florestas plantadas e nativas como ativos climáticos e financeiros, não apenas como fonte de madeira. Projetos de manejo sustentável, restauração de áreas de preservação permanente, recuperação de nascentes e corredores ecológicos podem gerar créditos elegíveis no mercado regulado ou voluntário, desde que demonstrem adicionalidade, monitoramento rigoroso e benefício social local.
 
Os desafios são significativos: garantir integridade ambiental, evitar dupla contagem, incluir comunidades e resolver a volatilidade de preços vista em anos recentes no mercado voluntário. 

Mas, ajustados esses pontos, o potencial é claro: transformar fazendas, cooperativas, municípios e empresas florestais em protagonistas de uma economia de baixo carbono, em que conservar e restaurar não é apenas um custo, mas um bom negócio para quem vive da terra e para a sociedade como um todo.