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Jordão Cabral Moulin

Professor de Anatomia e Tecnologia da Madeira da UFES

OpCP65

O tempo da árvore e a densidade

O tempo tem como definição o período considerado em relação aos acontecimentos nele ocorridos; usado como parâmetro continuamente pela sociedade para intrínsecas ações para a existência da humanidade, podemos citar a medição do tempo desde o nascimento até a morte do homem. Similarmente, temos as idades das árvores, que são registradas para importantes pesquisas dendrocronológicas e tecnológicas, e, industrialmente, é um importante parâmetro usado para decidir o corte da árvore.


O crescimento e a consequente formação da madeira são decorrentes das divisões celulares dos sensitivos tecidos meristemáticos, responsáveis pelas formações de células com funções de armazenamento de nutrientes, transporte da seiva e sustentação, que irão compor o lenho.


O contínuo crescimento da árvore em diâmetro ocorre em espaços temporais com o trabalho do meristema cambial que responde à sazonalidade das condições ambientais; com isso, têm-se, em consequência, variações das proporções e dimensões dos elementos celulares, que influenciam na alteração da densidade básica da madeira.


Para exemplificar, vale lembrar da variabilidade das características dos elementos anatômicos decorrentes da sazonalidade climática das estações do ano, quando teremos diferentes densidades nos lenhos inicial e tardio que compõem o anel de crescimento.


A variabilidade da densidade da madeira não ocorre somente em um anel de crescimento, mas, sim, durante toda a fase de desenvolvimento da árvore até atingir seu estágio de maturidade. É possível observar diferentes tendências de variações de densidade no crescimento radial conforme a espécie, mas, nas duas principais espécies plantadas no Brasil (eucalipto e pínus), encontramos incrementos da densidade da madeira durante a fase juvenil e redução da variabilidade na zona de transição entre os lenhos juvenil e maduro.


O tempo necessário para começar a produzir madeira que irá compor o lenho maduro é demorado quando comparado com as curtas rotações das florestas plantadas no Brasil; para exemplificar essa transição do lenho juvenil para o maduro, no E. grandis, ocorre em torno de 20 anos e, no E. cloeziana, em 35 anos.


A depender da indústria, o setor de carvão vegetal e celulose e papel utiliza eucaliptos com idades que variam de 4 a 7 anos. Essas curtas rotações são decididas com base em profundos estudos de viabilidade econômica, que leva, como principal fator, a taxa de crescimento da árvore.


Nessas idades jovens, sabemos que as madeiras estão no estágio juvenil e possuem crescente aumento da densidade da madeira até o momento de corte da árvore, sendo essa propriedade física um importante parâmetro de controle de processo para as indústrias, além de colaborar para a decisão da idade de corte.


A amplitude da densidade da madeira no avançar da idade da árvore é variável conforme a espécie, e a maior diferença é encontrada nos primeiros anos de crescimento. Em casos mais extremos, podemos citar o E. saligna, que pode aumentar em até 50% a densidade até o seu quarto ano de crescimento. Como a densidade é um parâmetro a ser considerado na decisão da idade de corte, algumas dúvidas podem surgir quanto à decisão do corte entre as idades de 4 a 7 anos, em decorrência do incremento da densidade, contudo a diferença entre essas idades já é reduzida, com aumento em torno de até 8%.


Como a densidade da madeira é resultante da sua composição anatômica, que está sujeita a alterações impostas pela condição do ambiente em que a árvore cresce, temos então variações da densidade da madeira em decorrência das interações da espécie com a condição de crescimento, como a qualidade do sítio e do espaçamento de plantio.

A resposta do aumento da densidade da madeira de eucalipto com o aumento da idade pode responder de forma diferente quando sujeita a diferentes espaçamentos de plantios, visto que o aumento da competitividade entre as árvores pode comprometer a produtividade em madeira e também na densidade básica.


A heterogeneidade da densidade da madeira decorrente do avanço da idade da árvore deve ser analisada e considerado o quanto isso irá afetar no processo produtivo da indústria.


Muitas das vezes, a interação genótipo e ambiente pode colaborar para a redução da amplitude de densidade nas diferentes idades de crescimento, como já foi constatado incremento de 30% da densidade para o E. grandis até o quinto ano de crescimento; quando essa mesma espécie foi plantada em sítio diferente, essa variabilidade reduziu para 5%.


Atenção nessa uniformização da densidade nos diferentes anos de formação da madeira deve ser considerada e analisada, visto que pode ser alcançada pelo aumento da densidade nos primeiros anos de crescimento ou pela redução da densidade nas últimas idades da rotação do plantio.


Poucas são as pesquisas que abordam a variabilidade e a densidade da madeira em árvores com idade mais avançada. Para melhor esclarecimento sobre a variabilidade da densidade da madeira de eucaliptos em diferentes idades e condições de plantio, publicamos o livro Qualidade da madeira de eucalipto proveniente de plantações no Brasil (https://edufes.ufes.br/items/show/542).


O crescimento da árvore e a variabilidade da densidade da madeira estão diretamente associados à produtividade de madeira seca. As indústrias estão, continuamente, buscando alcançar aumento na produtividade das florestas, em que são levados em consideração, principalmente, os crescimentos em altura e em diâmetro da árvore; a densidade básica agrega valor nessa situação por ser um fator a ser utilizado para calcular a biomassa seca de madeira presente no fuste da árvore.


Com isso, torna-se interessante atingir a densidade esperada pela indústria nos primeiros anos de crescimento; isso significa menor variabilidade da densidade da madeira ao longo do diâmetro do fuste e, principalmente, maior massa seca de madeira nos primeiros anos de crescimento.


O fato de a idade da árvore e a densidade da madeira serem fatores atrelados e considerados em conjunto para a definição do tempo de corte, as pesquisas sobre esse assunto são continuamente realizadas devido à criação de novos híbridos pela equipe do melhoramento genético.


A dificuldade para a escolha do híbrido a ser utilizado existe devido à necessidade de aguardar anos para entender as interações com o ambiente que irá influenciar na formação e na densidade da madeira.


A importância do conhecimento da densidade da madeira é indiscutível, devido à sua influência na qualidade do produto final e em parâmetros de processos industriais. Nesse sentido, as pesquisas são necessárias para investigar o ganho anual de densidade da madeira com o passar dos anos do crescimento da árvore e fatores correlacionados que irão influenciar na formação da madeira, como climáticos, qualidade do sítio e espaçamento de plantio.