A expansão dos sistemas pecuários na região Amazônica está fortemente ligada aos incentivos fiscais concedidos pelo Governo Federal a partir de 1965, bem como a abertura de estradas como a Belém-Brasília (BR-010), Pará-Maranhão (BR-316) e PA-70, hoje denominada BR-222. Em grande parte, as pastagens cultivadas foram responsáveis por substanciais devastações da floresta amazônica.
O manejo inadequado das pastagens e as altas taxas de lotação animal contribuíram fortemente para a perda da capacidade produtiva dessas áreas, que foram gradativamente sendo abandonadas e substituídas por novas áreas de floresta, o que gerou um ciclo contínuo de desmatamento e degradação na região. Estima-se que 30 milhões de hectares de pastagens estejam degradadas na Amazônia. São áreas de baixa produtividade, e sua recuperação é uma alternativa, aliada a outras também, para reduzir as taxas de desmatamento. Alguns autores estimam que, para cada hectare de pastagem de baixa produtividade recuperada, cerca de três hectares poderiam ser, teoricamente, destinados à agricultura, a plantios florestais ou de preservação.
Com a melhoria da qualidade nutricional das pastagens recuperadas, mesmo em pequenas propriedades, pode-se detectar um impacto positivo no aumento da produção e da eficiência da pecuária regional. A região Norte é a segunda do País com maior efetivo bovino, contabilizando 44,7 milhões de cabeças em 2013, o que corresponde a 21,1% do total nacional, destacando-se os estados do Pará e de Rondônia, com 19,17 e 12,33 milhões de cabeças, respectivamente.
Atualmente, a Amazônia vem atraindo empreendedores agropecuários que exploram, principalmente, áreas de pastagens degradadas incorporando-as ao processo produtivo. Os principais atrativos são as chuvas frequentes, que favorecem o cultivo de mais de uma safra/ano; a presença dos portos de Porto Velho-RO, Itacotiara-AM e Santarém-PA, que favorecem o escoamento da produção; e o preço acessível de terras. Essa expansão foi fortemente influenciada pelas condições naturais, antes consideradas inóspitas, e pelos investimentos em tecnologia.
A agricultura vem se expandindo anualmente com as culturas de arroz, milho e soja, principalmente nos estados do Pará, de Rondônia, de Roraima e do Tocantins. Em termos de área plantada, a região Norte apresentou acréscimo de 4,7% na soja e de 0,1% na de milho; para o arroz, houve redução de 3,5% relativos a 2013. No que se refere à produção, houve acréscimos de 0,7% para o arroz, 10,6% para a soja, e diminuição de 3,1% para o milho, totalizando 6 milhões de toneladas ou 3% da produção nacional desses produtos; porém, comparativamente à safra passada, foram constatados incrementos de 9,2%.
No entanto, diante das questões ambientais, sociais e econômicas, a sustentabilidade da produção agropecuária, de uma forma geral, passa pela diversificação, e, assim, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) vem contribuir significativamente para a sustentabilidade da produção agropecuária e florestal na região Norte. Diversas iniciativas vêm sendo realizadas pela pesquisa e por produtores, entendendo que a solução para o aproveitamento do grande contingente de áreas degradadas e a necessidade de continuar produzindo na região Amazônica tornam os sistemas integrados a grande oportunidade para recuperação de áreas improdutivas, conciliando produção com sustentabilidade ambiental.
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As pesquisas realizadas estão localizadas nos estados do Amazonas, do Acre, de Rondônia, do Pará, do Amapá, do Amazonas e de Roraima. As modalidades de iLP mais encontradas são: milho + brachiaria para renovação de pastagens em áreas predominantemente de pecuária (foto da direita); soja e/ou arroz como cultura principal e forrageira implantada em sobressemeadura ou após a colheita; soja como cultura principal, milho safrinha consorciado com brachiaria em polos sojicultores tradicionais.
No caso do iLPF, o componente florestal é inserido nos sistemas, sendo o eucalipto a espécie mais comumente utilizada (foto da esquerda). No Pará, além do eucalipto, o mogno africano tem despertado interesse pelos produtores, e, em menor proporção, algumas espécies nativas. Onde a pecuária é a principal atividade, os sistemas integrados são utilizados para a renovação das pastagens. Desse modo, a gramínea forrageira é introduzida no sistema no momento do plantio do milho junto ao adubo de base, sendo possível também inseri-la no sistema por ocasião da adubação nitrogenada de cobertura necessária ao milho. Após a colheita do milho, a pastagem estará estabelecida.
Outra opção é a renovação da pastagem mediante cultivo de grãos (arroz, milho, soja) em sucessão ou rotação por 2 a 4 anos, sendo que, no último ano, é introduzida a forrageira. Para o caso de produtores de grãos, a introdução das gramíneas no sistema apresenta um duplo propósito: formação de palhada e produção de forragem. Conforme se apresente o clima, os produtores trabalham com uma safra de grãos e, em seguida, estabelecem a forrageira para produção do “boi safrinha”, ou seja, engorda de bovinos com uma taxa de lotação reduzida, em que a gramínea residual será palhada para o plantio direto de grãos na próxima safra.
Em outros casos, tem-se a safra principal e a safrinha com grãos e uma “terceira safra” com a engorda de bovinos. São tradicionalmente utilizados e recomendados o milho e o sorgo para silagem; e, para pastagem, as brachiarias são predominantes nos sistemas. O componente florestal dos sistemas integração lavoura-pecuária-floresta - iLPF e integração pecuária-floresta - iPF, em sua maioria, é adotado por pequenos e médios produtores, visando ao bem-estar animal e raramente para sua exploração comercial.
Atualmente, as espécies exóticas em estudo são a gliricídia, a teca, o mogno africano, o nim indiano e, predominantemente, o eucalipto. Alguns produtores de grande porte têm utilizado, com sucesso, a integração da pecuária com árvores, sendo o eucalipto a espécie mais utilizada. É compreensível a opção por essa espécie, porque o mercado já dispõe de clones de mudas adaptadas e o sistema de produção amplamente conhecido, com o mínimo de riscos para o produtor.
Em contrapartida, embora a diversidade de espécies nativas na Amazônia seja grande, o conhecimento silvicultural para sua exploração ainda é restrito. No entanto algumas espécies vêm sendo estudadas e utilizadas, como o bordão de velho, o cedro-doce, o táxi-branco, o paricá, a baginha, o mogno, o mulateiro, o cumaru, a castanha-do-brasil. A escolha da espécie para o sistema iLPF dependerá de fatores que poderão influenciar no sucesso da atividade, sendo eles, principalmente: finalidade do componente florestal, comercial ou não; mercado consumidor; a disponibilidade de mudas de qualidade (poucos os viveiros legalizados com mudas em quantidade e qualidade); condições climáticas locais; e o tratamento da árvore selecionada.
Quanto aos animais, eles entram no sistema após a colheita e se alimentam dos resíduos da cultura e das plantas de cobertura utilizadas. No entanto, é necessário aguardar o estabelecimento da pastagem por um período de 30 a 45 dias, bem como as árvores atingirem o tamanho e o diâmetro do caule consideráveis para compartilhar com os animais.
Assim, a adoção de tecnologia para recuperar áreas alteradas, elevar a produtividade e reduzir os custos vem sendo essencial para contrapor à expansão da fronteira agrícola, considerando que os custos financeiros para o uso das tecnologias disponíveis são altos, enquanto o retorno econômico desses investimentos depende de fatores que, em geral, apresentam variações sazonais e regionais. A região sofre fortes pressões devido a interesses econômicos diversos, como a exploração de recursos naturais e a expansão da agropecuária. Entretanto observa-se uma tendência a relativa homogeneização no uso das tecnologias que envolvem os sistemas integrados para a recuperação de áreas alteradas, e esse processo é mais evidente nas regiões de fronteira agrícola relativamente consolidada.