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Leandro Fray

Especialista de Gente e Cultura da Reflorestar Serviços Florestais

OpCP79

O conflito entre a velocidade da inovação e a capacidade de adaptação
A escassez de mão de obra no setor florestal não é uma novidade, mas sim um sintoma de um problema maior: a velocidade da inovação tecnológica supera, e muito, a capacidade de adaptação das pessoas. Enquanto máquinas e algoritmos evoluem a passos largos, a formação profissional segue um ritmo mais lento, presa a métodos tradicionais que já não acompanham mais as exigências do mercado. Diante desse cenário, há dois caminhos possíveis: resistir à mudança e sofrer as consequências da obsolescência ou desenvolver a adaptabilidade como a principal competência do profissional do futuro. 
 
As causas da escassez de mão de obra são um problema sistêmico, e, antes de debatermos a automatização como solução, é preciso entender por que a falta de profissionais se tornou um problema estrutural no setor florestal. Esse fenômeno não ocorre por acaso, mas sim pela interseção de diversos outros fatores que contribuem para tal, como, por exemplo, o crescente desinteresse pelas atividades florestais, uma vez o trabalho no campo ainda é interpretado por muitos como fisicamente mais exigente e que ocorre muitas vezes sob condições climáticas adversas.
 
O isolamento de algumas áreas florestais também afasta trabalhadores que priorizam uma melhor infraestrutura urbana. Outro fator analisado é a carência de cursos técnicos e profissionalizantes voltados para as necessidades da indústria florestal. Esse cenário, inclusive, vem fomentando um movimento forte das empresas e indústrias do setor florestal a buscarem parceiros educacionais ou até mesmo investirem em seus próprios programas de desenvolvimento de mão de obra qualificada nas comunidades e cidades em que operam, a fim de atender às devidas demandas. 

Outra perspectiva é a de trabalhadores qualificados que acabam por migrar para setores que garantem uma maior previsibilidade de carreira. Em algumas comunidades, o trabalho florestal é até mesmo estigmatizado e associado à falta de crescimento profissional, o que não reflete a realidade. O setor florestal cresce a cada ano com passos firmes e sólidos. 

Nosso país é exemplo de produção florestal com responsabilidade ambiental de forma inquestionável por qualquer país, e as áreas de desenvolvimento são inúmeras. A formação técnica é muito importante e deve ser contínua. Podemos perceber isso ao analisarmos o quanto as técnicas vêm se adaptando e mudando conforme surgem novas tecnologias, e capacitar para essa nova realidade profissional torna-se ainda mais desafiador diante da crescente demanda por qualificações avançadas. A disponibilidade de mão de obra capacitada será fator cada vez mais determinante para a competitividade. 

A automatização pode surgir como uma resposta lógica à escassez de mão de obra. Máquinas mais autônomas aumentam a produtividade, reduzem custos e garantem previsibilidade operacional. Mas há um detalhe que precisa ser considerado: quem operará essas máquinas? 

A transição para um setor florestal altamente automatizado não significa eliminar a necessidade de profissionais, mas sim redefinir seus papéis. O problema é que a curva de aprendizado do ser humano é muito menor do que a velocidade da inovação tecnológica. Enquanto novas máquinas são lançadas a cada ano, a capacitação profissional leva tempo – e tempo é o que as empresas não têm. 

A pergunta que fica é: estamos preparando as pessoas para essa nova realidade ou apenas substituindo trabalhadores sem oferecer alternativas viáveis de requalificação? Algumas empresas do setor já estão sentindo na prática esses desafios. 

Um exemplo recente vem de uma grande empresa do sul do Brasil, que investiu milhões na aquisição de colhedoras automatizadas de última geração, e, apesar da eficiência das máquinas, a operação foi prejudicada pela falta de operadores capacitados, o que levou à necessidade da empresa em criar um programa interno de treinamento emergencial, aumentando seus custos operacionais. 

Outro caso é de uma empresa na América do Norte que, ao perceber que a automação avançada poderia gerar desemprego e resistência dos trabalhadores, optou por um modelo híbrido: introduzindo robôs colaborativos que auxiliam as equipes humanas, otimizando tarefas repetitivas sem eliminar empregos. O resultado foi um aumento de produtividade sem impactos sociais negativos. Esses exemplos deixam claro que a tecnologia por si só não resolve o problema. Se não houver um plano estratégico para capacitação, as empresas podem enfrentar um paradoxo: máquinas paradas por falta de profissionais qualificados. 

Pesquisas globais indicam que a transformação digital tem impacto direto na empregabilidade e na qualificação dos profissionais. Segundo um relatório do World Economic Forum, 50% dos empregos no mundo passarão por transformações profundas até 2027 devido à automação, mas apenas 34% das empresas têm programas estruturados de requalificação profissional. Um estudo da McKinsey & Company mostra que setores intensivos em mão de obra, como o florestal e o agrícola, podem automatizar até 60% das tarefas nos próximos dez anos. 

No entanto, a falta de profissionais treinados para operar e manter essas novas tecnologias pode gerar um gargalo na produtividade. Além disso, o relatório de tendências do trabalho da PwC aponta que empresas que investem na capacitação contínua de seus funcionários têm um aumento de 30% na retenção de talentos e maior eficiência operacional. Isso reforça a importância de programas de requalificação alinhados à adoção de novas tecnologias. 
 
No Brasil, o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) identificou que profissões técnicas ligadas à automação, operação de máquinas e manutenção industrial estarão entre as mais demandadas nos próximos anos. 

O problema é que a oferta de cursos específicos para o setor florestal ainda é limitada. Esses dados deixam claro que a automação não elimina empregos, mas transforma suas exigências. Empresas que não investirem na capacitação de seus colaboradores podem sofrer com a falta de profissionais qualificados, mesmo em um cenário altamente tecnológico. Quais os caminhos para um setor sustentável? O que pode ser feito? 

A escassez de mão de obra e a automação não devem ser tratadas como fenômenos isolados, mas sim como duas faces da mesma moeda. Para que a transição seja sustentável, algumas ações precisam ser priorizadas como investimento em qualificação e formação técnica, empresas, governos e instituições de ensino precisam criar programas ágeis que formem profissionais para a nova realidade do setor com cursos práticos voltados para operação e manutenção de máquinas automatizadas. Promover mais a imagem do setor florestal como um ambiente de inovação, tecnologia e oportunidades de carreira entre outros. 

Conclusão: Podemos reescrever o futuro do trabalho no setor florestal. A automatização não é a vilã da história. O verdadeiro inimigo é a resistência à mudança e a falta de planejamento estratégico para lidar com essa transição. Diante do atual cenário, empresas que assumem a responsabilidade e investem na formação de seus times não apenas enfrentam de frente os desafios da escassez de mão de obra, mas também contribuem para um futuro mais promissor e sustentável. Aqui em nossa empresa, essa visão faz parte de nossa cultura. Parafraseando nosso diretor florestal Igor Souza: “Não existe cultura forte sem sacrifícios.”