As mudanças climáticas são um fenômeno de consequências globais e com impactos já muito visíveis no dia a dia da silvicultura brasileira. Já percebemos o aumento das temperaturas e as alterações nos regimes de precipitação – variações no volume hídrico e na distribuição das chuvas, secas prolongadas, inundações...
Grandes mudanças estão a caminho. Se o CO2, principal “gás do efeito estufa”, é matéria-prima para a produção de energia nas plantas, a falta de água é o maior limitante para o crescimento delas. Imaginando um cenário de seca, com aumento de temperatura, o eucalipto está em desvantagem: é uma planta C3 e perde água mais facilmente do que plantas C4, como as gramíneas. A nova dinâmica florística das plantas daninhas deve, com isso, favorecer as plantas C4.
Frente à mudança, precisamos abandonar velhos hábitos. Apenas a adaptação gera resultados positivos em um ambiente modificado. A agricultura já começou esse processo. Plantios de café adensados aumentam a área foliar e reduzem as temperaturas no dossel, o que diminui a produção por pé, mas não por área. Nos estados do Sul, 2 a 3°C a mais inviabilizam o plantio de maçã, de modo que as regiões produtoras estão subindo a serra em busca de altitude. Mas o eucalipto está no Brasil todo, e mudar de lugar é inviável.
Assim, as melhores perspectivas estão em práticas culturais com um planejamento estratégico a longo prazo. O controle cultural, com o fechamento da floresta, ainda é o melhor manejo. Se a floresta tem uma boa dianteira competitiva, ela pode crescer e fechar copa com o mínimo de interferência. Isso requer uma boa limpeza de área, e, para boa parte do mercado, limpeza de área é sinônimo de dessecação. Mas precisamos repensar esse conceito.
O Mato Grosso do Sul é a principal área de expansão de silvicultura no Brasil. No inverno, há um longo período de seca pela redução da precipitação, em especial em anos de La Niña, como este. Nas áreas de expansão, costumam predominar gramíneas. E mesmo elas são prejudicadas pela extrema falta de água. Folhas secas não têm absorção e translocação efetivas dos herbicidas aplicados. Ainda assim, as listas técnicas se mantêm, iniciando as operações pela dessecação, que não será efetiva.
As plantas não controladas, muitas vezes cobertas com terra no preparo de solo, rebrotam com as chuvas, nas bordas dos sulcos e nas entrelinhas. Plantios de meses vão entrar em condição crítica de matocompetição simultaneamente. Começa uma mobilização quase que desesperada de recursos, pessoal e maquinário, enquanto outras operações precisam continuar.
A pressão e a escassez de mão de obra para operações costais obrigam a intervenções mecânicas como a lâmina. Removem-se as plantas e, junto com elas, parte da camada superficial do solo, favorecendo a erosão.
Métodos químicos no período seco forçam a operações mecânicas indesejáveis no período chuvoso. Mas e o inverso, posicionar o método físico de controle no período seco e o químico no chuvoso?
Na seca, fazemos a limpeza de área em faixas, no posicionamento das linhas de plantio, com uma gradagem de 2 metros. Cortamos as plantas, quebrando a relação raiz-solo, e as expomos à alta radiação solar e à baixa umidade relativa, inviabilizando a rebrota com as chuvas. Mas essa ação tem consequências: revolver a camada superficial do solo aumenta a amplitude relativa da temperatura e expõe outras sementes. Estimulamos assim a sua germinação. Por isso, a operação precisa ser conjugada ou sucedida pela aplicação de herbicidas pré-emergentes para o período seco.
Então, entra o preparo de solo: com disco de corte, haste de subsolador, adubação, marcação de covas, mas sem lâminas ou quaisquer estruturas que removam a camada superficial na linha de plantio. Manter a camada com material orgânico incorporado permite a melhor ciclagem de nutrientes e a retenção de umidade nas faixas de preparo e ainda favorece a dianteira competitiva, já que as mudas ficam mais elevadas, ao mesmo nível das entrelinhas. Com as chuvas, a matocompetição viria da germinação de sementes, então controlada com herbicidas pré-emergentes para o regime hídrico.
Tiramos a operação mecânica da chuva e a trouxemos para a seca: agora este não é mais um método mecânico de controle apenas, mas um método físico, aliando operação mecânica e condições ambientais. As altas temperaturas e a baixa umidade, que impedem a boa dessecação, passam a ser integrantes da boa limpeza de área.
A seguir, empregamos o método químico, permitindo o desenvolvimento da floresta sem competição ou gargalos operacionais e logísticos. As entrelinhas não tratadas no período seco serão controladas no período chuvoso, com a associação de herbicidas dessecantes e pré-emergentes de residual longo. A limpeza das faixas fixada a 2 metros limita a entrelinha a cerca de 1,5 metro de faixa e a uma distância segura da linha de plantio, reduzindo o risco de efeitos fitotóxicos sobre as mudas.
Passado o período seco, voltamos às chuvas, e a dessecação é novamente o método mais eficiente para limpeza de área. Agora, uma boa dessecação em área total cria uma cobertura morta sobre o solo, e queremos que o preparo a preserve, inclusive nas linhas de plantio. Entra o mesmo subsolador proposto para seca, para controlarmos a erosão e ainda mantermos a umidade, menor amplitude térmica e melhores condições para a macro e microbiota do solo.
Entra aqui um pacote de pré-emergentes para aplicação em área total, considerando a dinâmica dos herbicidas sobre cobertura morta e perdas por volatilização. Teremos a floresta continuamente livre de competição. A manutenção será feita com pré-emergentes adequados para cada época, em área total. E a recomendação da lista técnica? Aquela que prevê preparo de solo com lâmina, criando sulco e afastando resíduos da linha?
Ela terá sua aplicação quando algo não for bem na limpeza de área e se não houver tempo hábil para reparar os problemas. Em período chuvoso, se a dessecação não for eficaz, ou em período seco se, após o gradeamento, chover, a infestação não será controlada, e então recorremos ao preparo convencional.
A lâmina não é mais padrão, mas exceção. O plantio de floresta está muito comum em solos antes degradados. Não é porque o eucalipto é capaz de se desenvolver sobre eles que não devamos restaurá-los, ou que não tenhamos ganhos com isso.
Não existe café grátis. Cada escolha tem uma consequência, boa ou ruim, e as decisões precisam considerar os impactos a longo prazo, incluindo aspectos técnicos e econômicos, mas também sociais e ambientais. Está aí o manejo integrado de plantas daninhas: pensar de forma mais ampla e cuidadosa, flexível e adaptativa. Precisamos colocar as pessoas no centro e agir com responsabilidade ambiental, ou estaremos acrescentando dificuldades a um cenário já insustentável.
Trabalhamos para continuar fazendo boas florestas em meio às condições adversas, mas não adianta lidarmos com as consequências apenas. As melhores soluções para os problemas estão nas raízes. Nós, como setor, precisamos estar continuamente engajados no objetivo de mitigar e reverter as mudanças climáticas. Porque os efeitos estão aí, são muito visíveis e não vão desaparecer por conta própria.