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Marcos Giongo Alves

Professor de Engenharia Florestal da UF-Tocantis e Diretor do CeMAF - Centro de Monitoramento Ambiental e Manejo do Fogo

Op-CP-46

Manejo integrado do fogo
Coautor: Jader Nunes Cachoeira, Coordenador do CeMAF 

As contribuições das florestas, naturais ou plantadas, para o bem-estar da humanidade são extraordinariamente vastas. As florestas desempenham um papel fundamental no combate à pobreza rural, oferecem oportunidades de crescimento a médio prazo e serviços vitais a longo prazo para os ecossistemas.
 
A silvicultura ocupa um lugar fundamental na promoção de uma abordagem integrada para abordar os principais problemas relacionados com a produção da floresta, o desenvolvimento rural, a utilização dos solos e a gestão sustentável dos recursos naturais.
 
As práticas de manejo florestal adotadas pelos empreendimentos de base florestal mudaram consideravelmente nos últimos 25 anos. De um modo geral, esse período registrou uma série de desenvolvimentos positivos. A atenção prestada ao manejo florestal sustentável (MFS) nunca foi maior: mais terras são designadas como florestas permanentes, mais avaliação, monitoramento, proteção, planejamento e envolvimento das partes interessadas, e os marcos legais sendo revisados e adotados.
 
No entanto, em que pese os avanços nos MFS, os riscos do empreendimento florestal perpassam questões como a definição da melhor área para os plantios, a correção e a adubação do solo, o déficit hídrico, as variações do mercado e a rentabilidade, devendo alcançar a sustentabilidade do recurso florestal, com a integração da produção e da proteção com os fatores sociais e ambientais.
 
Nesse sentido, no cenário florestal mundial, com foco nos empreendimentos florestais brasileiros, os incêndios florestais destacam-se por possuírem grande potencial de destruição. Na atualidade, a comunidade científica florestal já comprovou que as culturas homogêneas são mais suscetíveis aos incêndios florestais, por, naturalmente, apresentarem condições favoráveis para a ignição e a propagação do fogo.
 
No Brasil, tanto a gestão pública quanto a privada têm sido alvos periódicos de críticas de organizações conservacionistas, e mesmo instituições governamentais de outros países, com relação à falta de proteção de suas florestas contra o fogo.  Sabe-se que o fogo é um problema sério para florestas nativas e plantadas em várias regiões brasileiras, e as consequências ultrapassam a seara econômica.
 
O fogo tem sido o responsável direto por prejuízos de ordem econômica, social e ambiental, em que prejuízos causados pelos incêndios envolvem morte ou redução da capacidade produtiva dos cultivos, impactos nos rios, solos e, ainda, emissões de gases nocivos ao ambiente que impactam diretamente nas variações climáticas com o agravamento do efeito estufa.
 
Em plena era pós-constituição de 1988 e com o advento do Novo Código Florestal, os assuntos ambientais estão crescendo em importância para a comunidade empresarial em termos de responsabilidade social, e as empresas de base florestal têm se visto empenhadas na proteção de seu patrimônio florestal e na manutenção do equilíbrio ambiental de suas áreas, com a viabilização de projetos de prevenção e de controle de incêndios florestais.
 
A inclusão da proteção do ambiente quanto aos incêndios florestais entre os objetivos da administração amplia substancialmente os valores inerentes à atividade, agregando rentabilidade, com promoção da imagem e da participação da empresa na implementação de ações integradas quanto ao manejo do fogo, rompendo paradigmas sobre as plantações florestais.
 
Recentemente, o desenvolvimento das ciências florestais no Brasil tem demonstrado seu importante papel, servindo como ferramenta de gestão para empresas privadas, apontando para a necessidade de mudança de comportamento sobre como responder aos incêndios florestais nas áreas de florestas, reconhecendo que nem todo fogo é ruim, trazendo metodologias que visam utilizar o fogo como ferramenta na consolidação da responsabilidade socioambiental.
 
Apesar de sua implementação se encontrar em processo de validação, mas que já vem demonstrando resultados plausíveis, as técnicas que perfazem o manejo integrado do fogo (MIF) contribuem para a redução das áreas queimadas, dos riscos de ignição e de propagação, uma vez que pode se reduzir a quantidade de material combustível, a diminuição dos gases causadores do efeito estufa e os problemas de saúde humana e, principalmente, o envolvimento e a aproximação da gestão empresarial com a sociedade do seu entorno.

O MIF, portanto, atua de forma holística, visto que considera o fogo mais um elemento de manejo e que incorpora as dimensões ecológica, socioeconômica e o manejo propriamente dito (prevenção, supressão e uso do fogo). Não é, portanto, sinônimo de queima prescrita e tampouco prescinde das ações de supressão e controle de incêndios. 
 
Os resultados das ações de MIF em áreas de vegetação natural têm demonstrado que as práticas do fogo zero não têm alcançado com eficiência e efetividade a mitigação dos problemas advindos dos incêndios florestais e queimadas irregulares. Transcendendo os objetivos do MIF para a gestão e manejo de florestas plantadas, sua implementação tende a dar nova perspectiva sobre o papel que os empreendimentos florestais devem ter nessa era de revolução ambiental.
 
A proteção das florestas, bem como a de povoamentos florestais, torna-se eficiente quando existe um planejamento prévio das atitudes e das atividades a serem tomadas ou implementadas nas diferentes situações que podem apresentar. Quanto ao controle de incêndios florestais, os investimentos voltados com foco nos processos preventivos não têm se mostrado como o de maior eficiência. Aceiros manuais e/ou mecânicos, gradagens internas ao povoamento e um bom sistema de vigilância – este, muito praticado entre empresas florestais vizinhas –, não garantem, por si só, a mitigação e os riscos do fogo.
 
A abordagem que deve nortear os planos de proteção deve observar os vários fatores existentes quando o tema são os incêndios florestais. A gestão de incêndios florestais pelas empresas florestais, além de um foco singular na supressão, deve procurar avaliar os processos que causam efeitos diretos e indiretos do fogo e, consequentemente, pautar suas ações integrando o meio social onde estão inseridas, garantindo retorno na forma de promover sua imagem e por serviços ecossistêmicos prestados. 
 
O manejo integrado do fogo, que pode ser entendido como o conjunto de técnicas, princípios e metodologias que permitem o uso do fogo para se alcançarem benefícios econômicos, sociais e ambientais, encontra respaldo legal no Novo Código Florestal ou permite (em grau de exceção) o uso do fogo em locais ou regiões cujas particularidades justifiquem o emprego do fogo em práticas agropastoris ou florestal. Porém seu uso dependerá de autorização do órgão estadual ambiental que exigirá estudos para o licenciamento da atividade rural no planejamento específico sobre o emprego do fogo.
 
Os retornos almejados pelo setor florestal serão consequência das atividades de proteção, até porque é primordial tratar a questão dos incêndios florestais de maneira sistêmica, passando a manter um relacionamento mais próximo às comunidades, a interagir mais com a população do entorno, melhorando sobremaneira a sua imagem.

E, nesse aspecto, tanto os gestores de florestas plantadas como os de áreas naturais prescindirão de suporte da comunidade técnico-científica, a exemplo do Centro de Monitoramento Ambiental e Manejo do Fogo – CeMAF (www.cemaf.org), que tem como objetivo a geração de informações e de desenvolvimento de processos e metodologias que subsidiarão as ações das instituições públicas e privadas.