Cada vez mais, os ciclos florestais são diminuídos, e os plantios florestais, concentrados em grandes empresas. Tudo isso é normal e necessário, tendo em vista o foco do negócio das grandes empresas de celulose e papel e de madeira processada (MDF, MDP, etc.), que, cada vez mais, buscam aumentar a produtividade de polpa por unidade de área, diminuindo a idade das florestas. Investimento em pesquisas genéticas, preparo do solo, adubação, etc., elevaram a nossa produtividade do eucalipto e do pínus a níveis imbatíveis internacionalmente, fazendo com que produzíssemos a celulose mais barata do mundo.
Tudo isso faz do Brasil o país com a maior produtividade florestal do mundo, mas... isso é silvicultura? Em minha opinião, não é. Os plantios de eucaliptos das grandes empresas são, na verdade, uma agricultura de ciclo longo, onde se produz um único produto para um único destino. Existe uma semelhança com os plantios do agronegócio: grandes áreas, grandes colheitadeiras, caminhões 9 eixos e até mais, e já inventaram uma fábrica de mudas, para a qual tenho lá minhas dúvidas.
Dúvidas à parte, tudo isso está correto para os propósitos que foram desenvolvidos, tenho até orgulho de ter participado desse desenvolvimento, mas, mais uma vez, afirmo que isso não é silvicultura. A própria instituição que representa o setor em nível nacional mostra que não somos silvicultores e sim “fabricantes” de árvores, uma linha de montagem de árvores, ou seja, Indústria Brasileira de Árvores.
Essa instituição faz um trabalho importante junto aos órgãos governamentais, às universidades, à imprensa, defendendo o setor e mostrando sua importância para a sociedade; entretanto, como não poderia deixar de ser, o foco não é a silvicultura e sim a agricultura de árvores.
A floresta de regime único atende perfeitamente aos interesses das grandes empresas, pois a análise econômica do seu negócio é na ponta da indústria. Mas essa mesma floresta feita por pequenos e médios produtores, que precisam que ela dê resultado lá no campo, vale a pena? Eu já escrevi uma vez na edição nº 42 de dez-fev-2016 que uma árvore de primeiro desbaste de pínus teria o valor de um repolho, e que isso não remuneraria nem os custos de implantação feitos pelo produtor.
Hoje, é possível que tenha melhorado e que, com uma árvore, talvez se compre um repolho mais uma cenoura. Continua não valendo a pena plantar árvores nesse regime de manejo que seria direcionado a meia dúzia de grandes consumidores, os quais determinam os preços no mercado.
Esse sistema está desestimulando o pequeno e o médio produtor, fazendo com que muitos façam a conversão de suas áreas florestais para a agricultura. Isso não é nada bom para a imagem do setor para a sociedade. Eu diria para aqueles que já possuem florestas ou os que desejam plantá-las − está muito difícil novos produtores entrarem no mercado − que o façam pensando numa floresta multiprodutos.
A floresta feita dessa forma se aproxima da silvicultura de fato, ou seja, aquela que usa a maioria dos atributos de uma floresta, que, mesmo homogênea, cria diversidade em seu ambiente e agrega valor às árvores, protegendo o produtor, inclusive, de possíveis adversidades do mercado, isto é, desde que bem manejadas, se o mercado não está bom e o recurso não é necessário de imediato, deixe a floresta crescer que vai continuar agregando valor ao produto.
Outro fator fundamental para o sucesso do negócio florestal é que as florestas multiprodutos, desde que logisticamente bem localizadas, geram um parque industrial diversificado, que, num circulo virtuoso, atrai novos segmentos da cadeia produtiva, agregando ainda mais valor à madeira e, consequentemente, à floresta.
Nesse caso, a presença das grandes empresas é fundamental para que os desbastes gerem alguma receita ao produtor, desde que os preços remunerem ao menos os custos da operação, sobrando algum para a madeira em pé. Diferentemente do setor de celulose e papel, que necessita de milhões de dólares por tonelada instalada, as indústrias de madeira sólida, mesmo as de alta tecnologia, necessitam de investimentos muito menores para sua instalação.
Enquanto uma fábrica de celulose precisa de US$ 1,5 milhão a US$ 2 milhões por tonelada instalada, as pequenas e médias serrarias precisam de US$ 1 mil a US$ 100 mil por tonelada instalada, sendo essas últimas de alta tecnologia. Essas indústrias de pequeno e médio porte são as que permitem ao produtor remunerar o capital investido a taxas atraentes, fazendo com que a floresta plantada e manejada se transforme, de fato, em um plano de aposentadoria confortável ao pequeno e médio produtor, ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos, com centenas de produtores que se frustraram com seus “planos de aposentadoria”.
O futuro da floresta multiprodutos está no aumento da produção de toras de maior diâmetro em detrimento da produção de madeira de polpa. Para isso, a mudança do regime de manejo, desde o aumento dos espaçamentos de plantio até a execução de desbastes pré-comerciais, é condição fundamental para agregação de valor à floresta.
Considerando o tema proposto, ou seja, o futuro do reflorestamento no Brasil, certamente a concentração das áreas florestais nas mãos das grandes empresas deve aumentar, reduzindo as áreas destinadas ao multiproduto. Com isso, a oferta de toras no mercado com diâmetros maiores, destinadas a serrarias e a laminação, deve diminuir, fazendo com que os preços desses grandes venham a aumentar. Toras com diâmetros acima de 35 cm, cuja oferta no mercado atual já é pequena, devem diminuir ainda mais. Isso indica que os produtores independentes que manejarem suas florestas de forma correta certamente terão suas rentabilidades bastante aumentadas.
Outro fator importante, ligado ao futuro do setor florestal, é que está havendo uma entrada importante de recursos de TIMOs, comprando ativos florestais em diferentes regiões do País. Desses investimentos, muito pouco tem sido destinado ao plantio de novas áreas, concentrando-se na aquisição de ativos que estejam em produção. Apesar de serem diversas empresas com esse mesmo objetivo, ou seja, visando a uma alternativa de investimento a diferentes investidores, esse negócio, em sua grande maioria, não tem muito compromisso com o futuro das florestas plantadas no País, já que tem prazos definidos de entrada e saída do negócio.
Com isso, a preservação do material genético não tem nada a ver com esse negócio; caberia, sim, às empresas verticalizadas e às instituições públicas manter o material que, estrategicamente, garantiria a continuidade de nossos plantios, os quais, num futuro muito próximo, deverão ser expandidos para as regiões tropicais.
A certificação florestal que, há mais de 20 anos, vem trazendo avanços importantes na área ambiental e social, traz também preocupação, principalmente ao pequeno produtor, cuja madeira produzida com esses selos tem um valor diferenciado; ele não participa desse diferencial, pois não tem a menor condição de certificar suas florestas.
Entendo, inclusive, que dois dos pilares da certificação, que é ser socialmente justo e economicamente viável, nesse caso, são injustos com o produtor. O “negócio certificação” deveria buscar alternativas que atendesse a quem não tem a menor condição de contratar uma consultoria para dar suporte ao complicado processo de obtenção do selo.
Enfim, o resumo dessa história é que haverá uma concentração cada vez maior dos plantios florestais nas mãos das grandes empresas e das TIMOs e uma redução de pequenos e médios produtores cujas terras serão convertidas para a agricultura ou arrendadas para as grandes empresas.