Quando fui honrosamente convidado para escrever este artigo como articulista da respeitada Revista Opiniões, pensei em inúmeros casos de que participei ao longo dos meus mais de 30 anos no setor florestal e, mais recentemente, no agronegócio, desde que assumi a presidência do Comitê de Inovação da Abag – Associação Brasileira do Agronegócio, e também pela minha atuação nas empresas do grupo que presido. Ambos os cargos têm extrema representatividade em vários segmentos da cadeia de valor desse setor.
Em alguns casos, estive diretamente envolvido e, em outros, participei como membro e colaborador das ações ou até assistindo e torcendo pelo sucesso. Muito foi feito pelo setor de florestas plantadas, que é naturalmente vencedor, ESG e que tem, em seu DNA, a integração entre ações de longo prazo, que é a visão estratégica, e as de curto prazo, que são as atitudes táticas.
Ao refletir sobre o artigo, me veio à mente uma música do Pink Floyd, que é uma verdadeira poesia: “enquanto as sementes da vida e as sementes da mudança eram plantadas”, e mais à frente reflete que “matemos o passado e voltemos à vida” (traduções livres). Para quem tiver curiosidade, a música é a “Coming back to life”.
Obviamente, a interpretação é livre, mas quis trazer esses trechos para fazer um texto de leitura agradável, pensando especialmente no empreendedorismo e em como o setor de florestas plantadas se construiu de maneira brilhante e vencedora ao longo mais de um século.
Nós, latinos, e especialmente os brasileiros, somos bastante críticos, e, em algumas situações, colocamos nossas posições e interesses individuais sobre os da coletividade – vale ressaltar que também temos um olhar pessimista dos fatos e seus desdobramentos. Neste artigo, procuro lembrar e destacar os acertos que tivemos e olharei para frente de forma mais otimista.
Aprendi, junto com o amigo Antonio Maciel Neto, que talvez o maior programa de inovação aberta realizado no Brasil tenha sido o “Programa de Águas Profundas”, da Petrobras, liderado pelo brilhante João Paulo Silveira, que levou o Brasil à vanguarda sobre o tema e possibilitou a viabilização do pré-sal.
Lembro-me desse programa, pois entendo que fizemos outro espetacular no Brasil, que foi transformar a nossa nação em referência mundial do agronegócio e florestas plantadas. Segundo o MAPA e o MDIC, em 2020, os produtos florestais representaram 13,3% das exportações do agronegócio, atrás apenas do complexo da soja e das carnes.
Tempo de “sementes plantadas” (inovação aberta)
De acordo com o infográfico abaixo, com dados estruturados em 2009 para um evento interno da Suzano, empresa em que trabalhava, e também utilizado para um planejamento estratégico, o qual foi discutido por quase um ano em reuniões ocorridas em Brasília sobre o setor de florestas plantadas, o setor experimentou um crescimento sustentável e com lastro em muito planejamento de longo prazo, ações governamentais, integração das empresa com a academia, inúmeros programas cooperativos capitaneados pela Embrapa, SIF, Ipef, Fupef, entre outras entidades cooperativas, atuação de entidades no âmbito nacional e estatual (SBS – Sociedade Brasileira de Silvicultura – e Bracelpa, entidades estaduais muito atuantes junto aos produtores independentes, Ibá, entre outros). Obviamente, os resultados alcançados não seriam possíveis sem a perfeita integração que nos levou à vanguarda mundial do setor de forma cooperativa (inovação aberta).
Sabemos que vivíamos em ambiente pré-competitivo na maioria dos segmentos, e isso certamente beneficiou essa jornada vencedora. Como pode ser visto na linha do tempo abaixo, também enfrentamos muitas barreiras e desafios. Toda essa jornada de acontecimentos é inerente a uma sociedade que está em busca de maturidade nas instituições, movimentos sociais, aumento da competitividade global, mudanças climáticas e, especialmente, o entendimento cada vez mais presente da importância da bioeconomia como o melhor caminho para as gerações futuras.
Se procurarmos falhas e desacertos, acharemos alguns, mas quem não os comete? Por outro lado, o resultado está expresso na grandeza desse segmento. Somos naturalmente sustentáveis dentro dos conceitos de sustentabilidade ampla, temos muito que melhorar na relação com os produtores independentes e precisamos romper o paradigma de tratá-los como fornecedores de madeira e tratarmos como verdadeiros parceiros em alianças duradouras e de qualidade.
O produtor independente é peça fundamental nesse “jogo”. Aí reside um ponto que temos de atuar setorialmente, e verificamos avanços satisfatórios recentes e boas discussões em grupos que se formam em prol do segmento, por meio de mídias sociais, reuniões de classe, lives, entre outros. Ou seja, mais uma vez, as lideranças do setor mostram suas atitudes proativas em busca do melhor para todos (novamente falamos de inovação aberta).
Agora, “voltemos à vida” (ambiente competitivo e nova ordem mundial)
Se listarmos as megatendências mundiais, olhando nosso papel, podemos citar as mudanças socioeconômicas e espaciais, intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção, mudanças climáticas, riscos, agregação de valor nas cadeias produtivas, convergência tecnológica e de conhecimento e protagonismo do consumidor. Em todos esses pontos, temos soluções para a sociedade.
Mais recentemente, chegamos, talvez, ao “tipping point” do setor, com as mudanças do ambiente de negócios, necessidades da sociedade, desafios tecnológicos, entre outros. Aqui, coloco minha opinião sincera, e talvez controversa, mas, no meu entendimento, para o setor de florestas plantadas, deve-se ajustar seu caminho e dar o próximo salto de competitividade. Além disso, é necessário dar um salto de importância humana, que engloba trabalharmos para que o Brasil seja a primeira “potência socioambiental e da biodiversidade”.
Porém não conseguiremos isso atuando apenas como “setor de florestas plantadas”, pois temos de tratar floresta como floresta (como diria Joésio Siqueira: “quem não entende da teoria dos conjuntos, não entende de floresta”). Temos que alinhar o manejo das florestas plantadas, incorporar cada vez mais a agrossilvicultura (prefiro esse termo a iLPF) e os produtores independentes, transferir tecnologia das empresas para seus “fazendeiros florestais” parceiros e estar juntos em ideias, como manejo sustentável de nativas e bioeconomia de florestas em pé.
Em 2019, o Brasil formou mais de 20 mil doutores (ficamos atrás apenas dos Estados Unidos e da China). Temos inúmeros casos vencedores no agronegócio e na floresta (nativa e plantada), e, cada vez mais, novos gêneros florestais exóticos e nativos são plantados com fins econômicos sustentáveis, entre outros.
Como tentei descrever rapidamente aqui, temos profissionais experientes e uma juventude ansiosa por mudanças. Por isso, vamos tratar floresta como floresta e voltemos à vida. Só assim, seremos “a potência socioambiental e da biodiversidade”.