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Laércio Couto

Membro da WBA - World Bioenergy Association

Op-CP-38

As inovações

O Brasil possui 236 milhões de hectares de terras destinadas para a agricultura, pecuária e florestas plantadas, sendo que essas últimas ocupam algo em torno de 6 a 7 milhões de hectares, 0,7% do território nacional. Um País de dimensões continentais como o Brasil, com as condições climáticas e edáficas aqui existentes e com a topografia favorável, principalmente nos biomas cerrado, na caatinga e nos pampas sulinos, deveria aproveitar melhor esses fatores de produção para ter a biomassa florestal necessária para diminuir cada vez mais a dependência dos combustíveis fósseis.

As instituições de ensino e de pesquisa, bem como as empresas do setor florestal brasileiro, têm feito, ao longo do tempo, desde a introdução do eucalipto por Edmundo Navarro de Andrade, em Rio Claro, São Paulo, o seu dever de casa. São mais de 100 anos de pesquisas e desenvolvimento que contribuíram para que o Brasil seja, hoje, conhecido e respeitado como um dos mais avançados na área da eucaliptocultura.

Nossas plantações de eucaliptos são estabelecidas, hoje, com um avançado grau de tecnologia, e o seu produto, a biomassa de eucaliptos, alimenta vários segmentos e indústrias do setor florestal brasileiro: carvão vegetal, papel e celulose, laminados, compensados, chapas de madeira reconstituída, chapas de fibras, madeiras serradas, madeiras tratadas para os mais diversos fins, biomassa para produção de vapor, eletricidade e biocombustíveis.


No campo da silvicultura, pode-se citar o advento do plantio adensado de curta rotação para a produção de biomassa para energia, em trabalho de tese de doutorado no Departamento de Engenharia Florestal da UFV, com o apoio da Cemig, MME, Aperam Bioenergia, Capes, CNPq e Renabio, no período de 2001 a 2005, como um dos mais importantes.

Esse trabalho resultou no World Bioenergy Award 2010 para o Brasil e o Presidente da Renabio  naquela época. O plantio adensado de eucaliptos para a produção de biomassa para energia em curta rotação permite que se alavanquem os empreendimentos de produção de vapor e de eletricidade em diversas regiões do País, a curto prazo, mesmo quando ali não existe a base florestal. Posteriormente, se for o caso, plantios tradicionais poderão ser, então, estabelecidos para continuarem a fornecer a biomassa para os processos produtivos locais. O interessante é que, inicialmente desenhados para atender às necessidades de produção de vapor e de eletricidade, esses plantios adensados de curta rotação se mostraram também adequados para abastecer as fábricas de MDF.

Podem também ser usados para a produção de cavacos para fábricas de papel quando a tecnologia permite o uso da casca, o que ocorre, por exemplo, em países como a Índia, com plantações jovens de eucaliptos. O melhor exemplo de um plantio semiadensado de eucalipto para produção de biomassa para energia encontra-se em Alagoinhas, na Bahia, destinada para a ERB - Energias Renováveis do Brasil, em seu projeto pioneiro com a Dow Chemical no Polo Petroquímico de Camaçari.

No caso de biomassa para produção de MDF, o melhor exemplo é o da Duratex, em Lençóis Paulista, São Paulo. Não se pode deixar de mencionar a grande área experimental instalada pelo Grupo Bertin na região de Lins, São Paulo, que resultou em grande divulgação do sistema, em nível nacional e internacional. No setor sucroenergético, a URP - Usina Rio Pardo, foi a grande pioneira, plantando uma área piloto visando à produção de biomassa para a sua térmica em Avaré, São Paulo.

A solução para a colheita dos plantios adensados de eucaliptos para a produção de biomassa para energia em curta rotação veio da Austrália, por meio do engenheiro mecânico Richard Sulman. O primeiro protótipo foi utilizado para a colheita de algumas áreas de eucaliptos na Austrália. Uma  nova versão está sendo construída após visitas técnicas a empresas florestais no Brasil, para identificar as características dos seus plantios de eucaliptos e dos tipos de cavacos desejados.


Essa versão deverá retornar para a área os resíduos, representados por folhas e galhos finos dos povoamentos colhidos, evitando, assim, a exportação de uma quantidade considerável de nutrientes do site. Posteriormente, poderá ser possível se proceder à produção de cavacos sem casca, podendo, assim, atender também ao setor de celulose e papel.

Hoje, este tipo de equipamento atende aos empreendimentos destinados a produzir cavacos para a produção de vapor e de eletricidade, de MDF e de etanol de segunda geração. A produção de etanol celulósico a partir da ação de  enzimas produzidas por empresas como a Novozymes em biomassa de eucalipto e a produção de biocombustíveis e de nanoprodutos a partir dessa matéria-prima florestal estarão, sem dúvida, na relação das próximas inovações que deverão ocorrer nos próximos anos. Por outro lado, não apenas da biomassa dos troncos das árvores, mas também dos tocos remanescentes das colheitas florestais, bem  como das maiores raízes a eles agregadas, opção que se tornou possível graças a uma das maiores inovações que ocorreram neste ano no setor florestal brasileiro, com a chegada do Tyrex.

Até então, não existia no Brasil um equipamento que permitisse a extração técnica e economicamente viável dos tocos de eucaliptos nas áreas de plantações de eucaliptos no sistema de talhadia, quando, em determinado momento, a empresa tinha em mente a substituição dos clones ali plantados, ou seja, nos casos de renovação das plantações florestais.


Assumindo-se que o Brasil tenha 6 milhões de hectares de plantações de eucaliptos e que 20% dessa área esteja passando pela renovação acima mencionada, seria 1,2 milhão de hectares onde se faria necessária a remoção dos tocos para facilitar os trabalhos de implantação e de manutenção florestal, com uma considerável redução dos custos da renovação dos povoamentos de eucaliptos.

Por outro lado, caso essa biomassa de tocos e raízes de maiores dimensões que permanecem no solo caso não sejam extraídos, representa, pelo menos, 24 milhões de toneladas de cavacos com umidade em torno de 30%. A Caterpillar, juntamente com a PESA e a OperFlora, desenvolveram, neste ano, o Tyrex, um equipamento destinado a extrair os tocos de eucaliptos das áreas a serem renovadas, em uma das inovações de maior impacto, nos últimos tempos, no setor florestal brasileiro.

Trata-se de uma pinça hidráulica desenvolvida pela Pesa, acoplada a uma escavadeira Caterpillar, com a capacidade de extrair uma média de 9 tocos por minuto em áreas planas nas operações conduzidas pela OperFlora, uma Empresa da Columbia Energia. Atualmente, as operações têm sido realizadas por várias empresas florestais nos estados de São Paulo, de Mato Grosso do Sul e do Pará, devendo extender-se para outras regiões do País e até para o exterior. 

Os tocos são extraídos e enleirados no campo por um período aproximado de 30 dias para que possam perder uma parte de sua umidade e também as partículas de solo que ficam agregadas nas raízes que os acompanham. Em seguida, são removidos para a praça onde se localiza o picador, munido de peneiras, para produzir um cavaco com baixo teor de contaminação.

Observou-se também que, além dos benefícios de redução do custo de implantação florestal, a extração dos tocos de eucaliptos permitem uma receita adicional com a venda da biomassa deles resultantes, que varia de 20 a 50 toneladas de cavacos por hectare, dependendo de os tocos serem de primeira ou de segunda ou de terceira rotação.

Além disso, com a extração dos tocos e das raízes maiores que os acompanham, ocorre uma maior aeração do solo e um aproveitamento maior das águas das chuvas que irão penetrar no solo ao invés de se perderem pelo escoamento superficial. Essa maior quantidade de água acumulada no solo irá promover um crescimento maior dos eucaliptos estabelecidos na área de onde os tocos foram extraídos.