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Robert Flynn

Diretor da RISI - International Timber, EUA

Op-CP-15

A floresta é o elo principal da cadeia produtiva
Colaboração: Amantino Ramos de Freitas

Foi um grande prazer tornar a visitar, recentemente, algumas das principais empresas de celulose e papel do Brasil. Fiquei bastante satisfeito em verificar que, apesar do caos econômico global do momento, as empresas brasileiras continuam focadas no futuro, planejando novos plantios e desenvolvendo projetos que irão garantir uma fatia crescente dos mercados globais.

Ainda que reconheça que a atual crise financeira vai certamente diminuir o ritmo dos plantios e a implantação de novas fábricas no período 2009-2010, posso afirmar que as condições para o estabelecimento de grandes reflorestamentos em outros países são muito piores. Não existe outro país no mundo, cujas vantagens para o desenvolvimento de projetos de celulose de fibra curta, possam se equiparar ao Brasil.

Por mais de uma década, analistas financeiros de muitos países vêm aconselhando as companhias de celulose e papel a venderem suas florestas para fundos de pensão e outros investidores, sob o argumento de que esses imensos ativos não remuneram adequadamente os acionistas. Estes gurus têm encorajado as empresas a “monetarizar” seus ativos florestais e usar o dinheiro para expandir sua base industrial ou para pagar dividendos aos acionistas.

Contudo, as indústrias brasileiras de celulose e papel estão absolutamente corretas em não aceitar esse conselho e continuar mantendo a propriedade de suas florestas de alta qualidade.
Para as empresas brasileiras de celulose e papel, o objetivo das plantações florestais não é apenas cultivar árvores que lhes trarão lucro.

Essas empresas consideram que a floresta é apenas o primeiro passo numa longa cadeia de suprimento destinada a fornecer fibra de alta qualidade ao preço mais baixo possível a ser entregue aos seus clientes na Europa, nos Estados Unidos ou na Ásia. Cada vez mais essa fibra é melhorada, de forma a atender aos rigorosos requisitos técnicos de uso final de uma ampla gama de clientes.

Isso requer um trabalho de pesquisa permanente, de forma a garantir que a floresta que está sendo plantada hoje irá atender às necessidades do mercado na época de sua colheita. Temos observado que em outros países, investidores institucionais com ativos florestais, como as TIMOs – Timber Investment Management Organizations, têm uma visão de curto prazo e, normalmente, não se dispõem a manter o mesmo nível de investimento em pesquisa e desenvolvimento da floresta, que foi o principal responsável pela conquista da liderança mundial em florestas plantadas pela indústria brasileira.

Nos modelos de florestas de eucalipto de ciclo curto, como os praticados pelas empresas de celulose, é fundamental manter a continuidade dos trabalhos de melhoramento genético, para se garantir um rigoroso controle de pragas e insetos. Nesses modelos, há também necessidade de uma busca contínua de novos métodos de colheita e transporte da madeira, que sejam mais eficientes e mais seguros.

Na forma e na escala em que operam as indústrias de celulose e papel no Brasil, a floresta não é apenas um ativo financeiro que pode ser vendido a qualquer momento para melhorar o balanço da empresa – a floresta é, de fato, uma parte integral de toda a cadeia produtiva. Já de algum tempo, as empresas brasileiras reconhecem que não há necessidade de manter o controle de 100% dos ativos florestais de que necessitam para suprir suas fábricas.

Os programas de fomento florestal mantidos pelas empresas de celulose e papel têm promovido o desenvolvimento econômico das áreas de sua influência e facilitado uma política de boa vizinhança com os demais proprietários de terra.
Um arranjo que me parece razoável, e que já está sendo adotado por várias empresas, seria garantir 70% do fornecimento de madeira de florestas próprias e 30% de terceiros, principalmente de parceiros dos programas de fomento.

E algumas dessas empresas, como a Klabin, desenvolveram formas inovadoras de interação com investidores interessados no plantio de novas florestas.
Certamente, existe um grande número de investidores, estrangeiros e nacionais, com muito interesse em participar desse tipo de negócio, voltado ao plantio de florestas nas proximidades das empresas de celulose.

Outro uso, que tem despertado o interesse crescente dos investidores, é o plantio de florestas de eucalipto no Brasil, para fins energéticos.
Contudo, programas que estimulam o plantio de florestas por terceiros envolvem responsabilidade e confiabilidade, sobretudo quando se trata de pequenos e médios proprietários de terra.

Tenho visto casos de outros países
em que os agricultores foram estimulados a plantar eucalipto e que, na hora da colheita, as empresas de celulose não se dispunham a comprar a madeira, devido às condições de mercado.
Esse tipo de comportamento deteriorou o relacionamento da empresa com os agricultores, que passaram a cultivar outros produtos.

Acho que no Brasil esse problema não ocorre, pois as empresas compreendem perfeitamente a importância de se manter um mercado consistente para a madeira produzida por pequenos proprietários.
Apesar das condições econômicas pouco animadoras para 2009, no meu ponto de vista, o futuro das empresas brasileiras de celulose em relação aos mercados internacionais é extremamente promissor.