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Amantino Ramos de Freitas

Presidente da SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura

Op-CP-01

Expansão da produção de celulose e papel: de onde virá a madeira?

Durante o meio século de sua existência, a Sociedade Brasileira de Silvicultura, SBS, tem acompanhado de perto a evolução do setor florestal brasileiro, cumprindo a missão de promover a produção florestal sustentável, como vetor de desenvolvimento econômico, social e ambiental. Por sua disponibilidade de terras e clima adequados, o Brasil tem uma enorme vocação para a silvicultura.

Embora nosso país seja detentor da maior área de florestas tropicais do planeta, em 2002 cerca de dois terços da madeira usada como matéria-prima pelas nossas indústrias originou-se de florestas plantadas. Este fato não ocorre somente no Brasil. De acordo com as estatísticas da FAO/ONU, embora os plantios florestais representem apenas 5% das florestas, respondem por 35% de toda madeira consumida pelas indústrias.

São inúmeros os fatores que têm favorecido a expansão das florestas plantadas nas várias regiões do globo. Dentre eles podemos citar: a qualidade da madeira, produzida com padrões homogêneos, demandados pelo processo industrial; produtividade significativamente maior que a das florestas naturais; proximidade dos centros consumidores e das redes de transporte e comunicações; possibilidade de maior controle dos ciclos de produção; e, cada vez mais importante, aspectos ambientais e sociais relacionados com a conservação das florestas naturais.

Até o início da década de 60, a maior parte das atividades florestais no Brasil tinha por base as florestas naturais, sem maiores preocupações com a sustentabilidade dos respectivos ecossistemas. A exaustão das reservas de pinho do Paraná e de peroba rosa nas regiões sul e sudeste, até então as duas principais espécies comerciais brasileiras, levou à criação, em 1966, do programa de incentivos fiscais para o reflorestamento, que durou até 1987.

Embora passíveis de críticas, o plantio efetuado com recursos deste programa, nos seis milhões de hectares dos projetos aprovados, trouxeram expressiva mudança na fisionomia e na economia florestal do Brasil. O plantio de árvores para fins econômicos tornou-se realidade, sobretudo nas regiões sul e sudeste, com geração de trabalho e renda em áreas remotas e sem perspectivas de desenvolvimento.

Durante as duas décadas desse programa, foi possível desenvolver e consolidar uma tecnologia de implantação e manejo de florestas de rápido crescimento, com base, principalmente, em dois gêneros: Pinus e Eucalyptus. A partir da década de 90, os empreendimentos com base em florestas plantadas incorporaram os conceitos de sustentabilidade, abrindo o caminho para a certificação florestal. Hoje, o Brasil conta com 2,6 milhões de hectares de plantações florestais certificadas, a maior dentre os países do hemisfério sul.

A oferta de madeira desses plantios, inicialmente pouco valorizada, possibilitou uma expansão das indústrias, que utilizam madeira oriunda de florestas plantadas e que hoje respondem por 3% do PIB e 7,3% das exportações brasileiras. Por exemplo, as exportações de móveis, que em 1992 eram de US$ 32 milhões, em 2004 saltaram para mais de US$ 1 bilhão, dos quais 70% se referem a móveis de pinus do sul do País.

A produção nacional de celulose, baseada em madeira de reflorestamento, passou de 5,8 milhões de toneladas, em 1994, para 9,5 milhões, em 2004. Nos últimos 30 anos, a pesquisa florestal, que contou com inves-timentos da ordem de US$ 100 milhões, envolvendo mais de 10.000 ha de áreas experimentais das empresas, resultou num aumento de produtividade. O eucalipto passou de 10 m3/ha/ano, em 1965, para 40 m3/ha/ano, e o pinus, de 20 para 35 m3/ha/ano.

Enquanto a imprensa noticia o fechamento de fábricas no hemisfério norte, o setor no Brasil planeja larga expansão, com investimentos de US$ 14,4 bilhões, entre 2003-2012. Como resultado, nos próximos sete anos, a produção de celulose passará para 14,5 milhões de toneladas anuais e as exportações anuais devem subir dos atuais 4,9, para 7,4 milhões de toneladas.

A área plantada deverá aumentar em 1,1 milhão de hectares, atingindo 2,6 milhões de hectares em 2012, envolvendo regiões ainda sem tradição de projetos de reflorestamento. Tomando-se por base uma produtividade média de 40 m3/ha/ano e um consumo específico de 3,8 m3 por tonelada de celulose (eucalipto), essas novas florestas deverão assegurar a expansão da produção industrial, com certa margem de segurança.

Por outro lado, o crescimento das indústrias que consomem madeira de reflorestamento, aliado à diminuição de oferta de espécies da Amazônia e ao consumo crescente de lenha, em substituição a derivados de petróleo, têm elevado o preço da madeira na região sul-sudeste e estimulado novos plantios. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, em 2004, foram plantados 465.000 hectares, e a previsão para 2005 é de 500.000 hectares, taxa superior aos melhores anos dos incentivos fiscais.

Contudo, a grande preocupação das empresas e do Governo Federal, através do Programa Nacional de Florestas, tem sido criar condições para que essas expansões aconteçam respeitando e otimizando os princípios da sustentabilidade. E, nesta direção, o fomento florestal constitui-se no mais importante instrumento para a expansão da silvicultura, agregando pequenos e médios produtores, gerando empregos, renda e ocupando áreas improdutivas.

Esse tipo de parceria, além de proporcionar a inclusão de pequenos proprietários, pode se beneficiar dos programas oficiais de financiamento da produção florestal, como o Propflora e o Pronaf Florestal. A empresa, além de viabilizar o fornecimento de mudas e insumos e prestar assistência técnica, poderia firmar contratos de compra da madeira, como garantia ao agente financeiro.

O fomento florestal representará papel cada vez mais significativo no abastecimento de matéria-prima das fábricas de celulose e papel e já se constitui em componente essencial de suas estratégias operacionais. Para muitos, o fomento florestal representa a mais importante das atividades empresariais do setor florestal brasileiro, na última década.

A interação positiva com os produtores rurais aprimora as relações com as comunidades e abre espaço para programas de educação ambiental e proteção ao meio ambiente. Alguns especialistas acreditam que as parcerias para a produção florestal podem responder por um terço da necessidade da indústria, diminuindo os investimentos em terras e florestas e consolidando a sustentabilidade da silvicultura brasileira.