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Marcos Cesar Passos Wichert

Coordenador do Programa Temático de Silvicultura e Manejo (PTSM) do IPEF

Op-CP-03

Evolução do preparo de solo e plantio e seus efeitos na profundidade das florestas plantadas

As informações e opiniões sobre o setor de celulose e papel, que são agrupadas nesta importante revista, só são possíveis porque todos os dias existem árvores de Eucalyptus e Pinus sendo colhidas e mudas sendo plantadas para repô-las. Este ciclo auto-sustentável de produção de florestas plantadas envolve grande planejamento e um complexo sistema de logística para manter as fábricas abastecidas de matéria-prima, ininterruptamente.

A silvicultura no Brasil evoluiu da agricultura, onde, nas décadas de 60 e 70, eram utilizados métodos convencionais de preparo intensivo do solo em área total (aração, gradagem) e com a limpeza do terreno feita com a queima dos resíduos. A partir da década de 80, foi introduzido o uso da grade bedding, sendo este um primeiro passo rumo à melhoria da conservação do solo para o plantio de florestas. O próximo e definitivo passo neste sentido foi dado com a introdução do sistema de cultivo mínimo.

Em um levantamento feito em 2002, nas empresas associadas ao IPEF, de mais de 2,1 milhões de ha de efetivo plantio, 77% da área era cultivada no sistema de cultivo mínimo, onde o preparo de solo é localizado, realizado com um subsolador florestal ou com a abertura de covas (manual ou mecanicamente) e os resíduos da colheita são mantidos sobre o solo. Atualmente, esta porcentagem tem aumentado, porque a maio-ria das grandes empresas do setor utilizam o sistema de cultivo mínimo.

O preparo de solo afeta o crescimento florestal e sua produtividade final, por atuar diretamente sobre os fatores físicos, químicos e biológicos do solo, alterando a disponibilidade de recursos hídricos e nutricionais às plantas. Em geral, há uma relação positiva entre o volume de solo preparado e o ritmo de crescimento das plantas. Concomitantemente, o preparo afeta a conservação de solo, podendo aumentar as perdas erosivas. Segundo estimativas da FAO, 140 milhões de ha estarão degradados no ano 2010, a não ser que sejam adotadas melhores práticas de manejo do solo.

Felizmente, na silvicultura, com a adoção do cultivo mínimo, e pelo cultivo florestal ter um ciclo longo, os níveis de erosão são baixos e comparáveis àqueles que ocorrem naturalmente na floresta nativa, mas não se deve descuidar do risco erosivo, principalmente no manejo do solo em áreas declivosas (preparo do solo e locação das estradas).

Das práticas silviculturais, cerca de 28% do custo é utilizado nas operações de preparo de solo e plantio. Estas duas atividades são cruciais para o estabelecimento inicial das mudas e para garantir que a produtividade esperada seja alcançada. O preparo de solo representa um custo ainda mais baixo (8%), contudo se esta operação for mal conduzida, pode causar prejuízos com o aumento da erosão e o comprometimento da produtividade florestal.

A somatória da evolução das técnicas de cultivo mínimo e práticas silviculturais, bem como do melhoramento genético das espécies e sua adaptação para as diferentes condições edafoclimáticas, foi responsável pela triplicação da produtividade dos plantios, nos últimos 45 anos. Considerando todos os investimentos feitos na área florestal pelo setor, a menor parte foi em tecnologia de silvicultura e manejo. Já a maior parte ficou com a mecanização da colheita e com a construção e aparelhamento de modernos laboratórios de melhoramento genético.

Apesar do pouco investimento feito nas práticas silviculturais, a contribuição do avanço tecnológico nesta área, para o incremento em produtividade dos plantios, é considerável. Para quantificar esta contribuição, foi feito um estudo fatorial na África do Sul (Pallet, R. N. and Sale, G., 2004), onde se constatou que a contribuição do fator melhoramento genético no incremento em produtividade foi de 16% e a contribuição do fator práticas silviculturais (espaçamento de plantio, irrigação, fertilização, controle de plantas invasoras), foi de 78%.

Sendo que a interação entre estes fatores demonstrou ser aditiva e quando combinados houve um incremento de 100% na produtividade. Para as condições brasileiras, estes valores devem ser diferentes, mas o importante deste estudo foi mostrar a relevância que têm as práticas silviculturais no incremento da produtividade.

De nada adianta ter um clone de alta produtividade e no momento do plantio e manutenção cometer erros operacionais, que irão comprometer o alcance da produtividade esperada, causando, assim, impactos no abastecimento da indústria, no longo prazo. Para desenvolver as práticas silviculturais e as novas tecnologias de equipamentos e insumos, as empresas têm se aliado a universidades e instituições de pesquisa.

O interessante destas parcerias é que mesmo as empresas sendo concorrentes, na área de silvicultura elas se unem e investem em programas cooperativos de pesquisa e desenvolvimento, nos quais as informações e tecnologias são compartilhadas. Este é o caso do Programa Temático de Silvicultura e Manejo (PTSM) do IPEF, que, desde o seu início, em 1995, ajudou na sedimentação dos conceitos do cultivo mínimo e, mais recentemente, no desenvolvimento de tecnologias, como o subsolador florestal, o plantio mecanizado, e o uso de gel absorvente.

As 14 empresas associadas ao PTSM (Aracruz, Bahia Pulp, CAF, CESP, Cenibra, Duratex, Eucatex, Jari, Klabin, Ramires, Ripasa, Suzano, VCP e Veracel) fazem três reuniões técnicas anuais, onde o grupo compartilha as informações dos experimentos cooperativos e também realiza um benchmarking em silvicultura e manejo, sendo apresentadas as melhores práticas e novas tecnologias conquistadas.

Atualmente, o grande desafio da silvicultura é garantir que as práticas silviculturais executadas pelos terceiros sejam feitas exatamente de acordo com a prescrição das normas técnicas das empresas e, para tanto, faz-se necessária a utilização de ferramentas adequadas de controle de qualidade, bem como a sua integração com a silvicultura de precisão, a qual estamos trabalhando para que se torne realidade, num futuro próximo.