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Alexandre Barboza Leite

Diretor da Teca Consultoria e Empreendimentos Florestais

Op-CP-17

Crise: fomento e sustentabilidade

Na grande maioria das empresas, os programas de fomento foram bastante prejudicados com a crise. Felizmente, em algumas exceções, a crise não existiu, foram preservados os compromissos assumidos e o fomentado não sofreu nenhuma discriminação. Todo procedimento ocorreu exatamente como defendido nos discursos de sustentabilidade.

Sem dúvida, esses casos serão modelo e servirão de estímulo para mostrar o caminho a ser adotado pelas empresas, na eventualidade de futuras crises. A defesa do fomento e do fomentado é a base do que sempre foi pregado e tudo que se esperava das empresas, principalmente daquelas que não poupam palavras para enriquecer seus discursos, enobrecendo seus procedimentos na direção da sustentabilidade.

No entanto, na maioria das empresas os programas de fomento foram seriamente prejudicados, mesmo após a retomada do ritmo normal dos trabalhos empresariais. Nesses casos, a crise é muito maior do que a simples retomada dos plantios ou a continuidade dos fornecimentos de madeira. A crise só irá passar para esses programas de fomento, quando as empresas se aproximarem de seus fomentados, assumindo, respeitosamente, uma discussão sobre os prejuízos causados.

Foram prejudicados programas de plantio, programas de fornecimento de madeira, viveiros de produção de mudas, prestadores de serviço, etc. Enfim, toda a cadeia produtiva, em formação, no entorno dos empreendimentos, foi abalada e, em muitos casos, desestruturada. Sem a aproximação aos fomentados e sem as devidas explicações e eventuais compensações pelos impactos causados, essas empresas jamais resgatarão a credibilidade e o respeito até então alcançados.

Um prejuízo incalculável às regiões de excelente vocação florestal e um passivo social indesejável pela transformação de ricas parcerias em fortes e concretas adversidades. Nesses processos, as reações dos fomentados foram as mais variáveis possíveis, e, com certeza, ainda é impossível se fazer qualquer previsão a respeito dos desdobramentos futuros. Com certeza, pelos envolvimentos criados, há de se esperar até respingos comprometedores para os sistemas de certificação florestal.

Na verdade, o fomento já era apontado por muitos como grande bandeira social e elogiável avanço na integração das empresas com as comunidades. Com certeza, as empresas comprometidas com políticas empresariais de sustentabilidade não pouparão esforços para minimizar os danos causados à sua imagem institucional. Se as empresas envolvidas não se conscientizarem dos prejuízos causados e ficarem esperando que o tempo resolva os problemas pendentes, o prejuízo será ainda maior.

Se o descrédito se perpetuar nas regiões fomentadas, novos focos de insatisfação com a silvicultura empresarial surgirão, e novas restrições à atividade serão inevitáveis. Espera-se que as empresas tenham a clara dimensão entre o custo das medidas necessárias para corrigir tal situação e o custo dos problemas que se consolidará com o descrédito.

Há fortes indícios de que os reflexos negativos das paralisações dos programas de fomento, tanto de plantio quanto de abastecimento, já foram sentidos pela alta direção das empresas, e, com certeza, medidas mitigadoras serão tomadas para o bem da silvicultura sustentável e das próprias empresas. Há informações seguras de que, em algumas situações, o problema no campo junto aos fomentados só se agravou em função da falta de informações e de devidos esclarecimentos junto à alta direção das empresas. Falha de comunicação ou falha pela não valorização dos programas de fomento.

De qualquer forma, um absurdo injustificável. No entanto, nas regiões onde o mercado é sempre comprador, e para aqueles produtores que conseguiram com recursos próprios passar pelos apertos, não prejudicando o desenvolvimento de suas florestas, a expectativa é a de que, nos próximos anos, a madeira de eucalipto tenha uma valorização substancial, constituindo-se num negócio ainda melhor para o produtor rural.

Há dados mostrando que a queda na área plantada em 2008/2009 foi superior a 40%. Nos programas de fomento, o impacto deve ter sido ainda maior. Ninguém duvida de que vai faltar madeira. Essas perspectivas favorecerão, nesses casos, a retomada de trabalhos perdidos e poderão criar ambiente favorável para renegociações com interessados insatisfeitos.

Mas tudo, sempre, dependerá de uma nova postura empresarial. Mais profissional, mais adulta e de mais respeito com o fomento e os fomentados. Quando conseguirmos juntar o reposicionamento dessas empresas em falta com seus compromissos e o posicionamento exemplar daquelas de discurso e de ações verdadeiramente sustentáveis, poderemos admitir que o fomento, realmente, superou a crise. Ninguém duvida do comprometimento dos trabalhos silviculturais das empresas com as diretrizes da sustentabilidade. Vamos esperar e torcer.