Professor de Colheita e Transporte da UF do Paraná
Op-CP-20
Quando se fala de “colheita de madeira”, logicamente hoje, no Brasil, está se falando de plantações florestais, justamente para não confundir com a retirada de madeira de florestas nativas. Nesse contexto, a evolução desse segmento foi notável nas duas últimas décadas, ou seja, pós era Collor, que, convenhamos, quando chamou nossos automóveis de “carroças” e, por consequência, abriu a economia, fez com todos os segmentos buscassem no mercado máquinas e equipamentos com melhor performance tecnológica.
No início, tivemos um gap tecnológico tremendo, não tínhamos mão de obra adequada para usufruir da tecnologia disponível, ou seja, as máquinas e equipamentos potencializavam várias opções tecnológicas, mas, com o conhecimento dos operadores, não se conseguia obter a melhor produtividade. Era a mesma coisa do uso de um computador que pode ser de última geração, mas o usuário somente o utiliza para ver e-mails.
Entendo que essa fase já está superada, e, hoje, temos operadores a contento. Quando se observa a evolução dos sistemas de colheita de madeira no Brasil, observamos que, hoje, temos três modelos: madeira curta, madeira longa e cavacos no campo. Não vou discutir máquinas e equipamentos, mas sim o que hoje implica a mecanização desses sistemas.
À medida que se aumenta o grau de mecanização dos sistemas, diversas outras variáveis devem ser consideradas. Primeiramente, nota-se a inversão de porcentuais dos custos operacionais, nos quais o de mão de obra vai se tornando menor e, por conseguinte, o das máquinas e equipamentos, maior, daí a forma de visualização também começa a mudar, pois se podem trabalhar mais turnos diários, a logística operacional deve ser mais bem planejada e executada, melhor qualificação da mão de obra, necessidade de maior investimento, etc.
Essa é, hoje, a realidade das empresas de maior porte, que possuem certificação florestal no Brasil, e entendo que a mecanização das atividades de colheita de madeira e transporte florestal não tem mais volta. Mas quero aproveitar o ensejo para discutir outra forma de visualizar a produção de madeira proveniente de plantações florestais, que, em meu entender, não é composta somente da colheita, e sim da integração das atividades que compõem a cadeia produtiva da madeira, lançando aqui uma ideia baseada no que entendo ser o futuro desse segmento, ou seja, quando quisermos definir as melhores práticas, não falaremos de “silvicultura de precisão”, mas sim de “florestas de precisão”, nas quais devemos integrar a silvicultura, ou seja, a formação de florestas, com a colheita florestal — a obtenção de sortimentos de madeira que serão transportados para as unidades fabris.
Nesse contexto, a silvicultura será a “fornecedora” para a “colheita”, e, posteriormente, a “colheita será a “fornecedora” para a silvicultura, por ocasião dos novos plantios. O que interessa é a integração de todas as atividades que compõem a cadeia produtiva e não segmentos isolados. É de extrema relevância que se conheçam, desde o início, todos os fatores que possam afetar a produtividade e o custo operacional por unidade produzida, para então poder planejar, organizar, executar e controlar todas as atividades que compõem a produção de madeira.
O que se procura hoje é maior produção por unidade de área, e, para tanto, as atividades de silvicultura e colheita devem ser ”integradas”, para que se possa reduzir o custo por unidade produzida e manter a capacidade produtiva do solo. Portanto, práticas inadequadas dentro da cadeia produtiva devem ser abolidas.
Voltando à colheita de madeira, sempre se podem fazer conjecturas sobre o futuro, quais as tendências do mercado, etc. O que se pode antever é que, provavelmente, não teremos novos sistemas de colheita de madeira, mas sim muita tecnologia embarcada nas máquinas e equipamentos atuais. A utilização de biomassa residual aumentará, e, por conseguinte, variações dos sistemas de colheita ocorrerão para atender essa demanda.
O uso de ferramentas de geoprocessamento aumentará, tanto para planejamento como para controle de operações, etc. Mas, talvez, o maior desafio estará com o governo, que deverá resolver o caso dos prestadores de serviço, que atualmente querem trabalhar, e têm muitos com bastante competência, mas estão, neste momento, bastante preocupados com a pressão do Ministério Público para que várias empresas assinem “Termo de Ajuste de Conduta”, então primarizando as atividades de colheita de madeira, o que considero um retrocesso, quando se compara com países que consideramos mais evoluídos que o nosso.