Para falar de médio e longo prazo, precisamos falar do momento atual e que nos fazem prospectar o que será a floresta plantada no Brasil daqui para frente. Precisamos urgentemente medicar o nosso setor, pois hoje ele sofre de bipolaridade. O Brasil possui o terceiro maior setor de árvores plantadas do mundo, com US$ 27 bilhões em 2011, representando 1,1% do PIB nacional, entretanto a presença internacional do Brasil se destaca apenas na cadeia de celulose, sendo irrisória nas outras.
A celulose branqueada, oriunda de plantações, bate seus recordes tanto de produção como de valor, sustentado principalmente por um alto valor do dólar, enquanto outros setores, como siderurgia e chapas, vêm amargando prejuízos e céus não tão azuis como o da celulose. Para se ter uma ideia do que acontece no setor siderúrgico, em 2015, a expectativa é de atingirmos o mesmo nível de consumo aparente de aços longos de 2008, ano anterior à crise no Brasil, e, mesmo se houver uma recuperação da economia, a previsão é de que o consumo aparente de aços longos retornará ao patamar de 2013 somente a partir de 2021.
Não há como separar a estrutura silvicultural baseada em cultivos florestais da indústria e da realidade econômica preocupante que o nosso país atravessa. Para 2015, vemos uma inflação com possibilidade de ultrapassar os 10,5%, e já uma previsão bastante desoladora de uma inflação a 6,5% para 2016, com o dólar alto trazendo impactos diretos e indiretos para nossa atividade, como os adubos, que subiram, em média, 20%. Isso sem contar a instabilidade política que mina a confiança dos investidores e suscita a insegurança jurídica de vários temas que são cruciais para a viabilidade da silvicultura nacional.
Para quem conhece a obra de Alvin Tofler e, em especial, o livro A terceira onda, vai perceber que o momento que a maior parte do setor vive, devido à precariedade da economia e da instabilidade política instalada, é o da primeira onda(!): “lutando pela sobrevivência”, foco no básico, um senso crítico de urgência aguçado quando não se pode pensar em demorar a reagir. A redução de despesas é doída; gestores atordoados atuam com um raciocínio míope somente pensando no curto prazo, com isso, um alto desgaste emocional de líderes e liderados nas organizações.
Menciono isso porque a silvicultura, a médio e longo prazos, também estará diretamente relacionada com o perfil dos líderes e seus desafios em assumir riscos, propor metas e atingir os resultados, atuar de forma a atender a toda uma expectativa social que o cultivo de grandes áreas traz, influenciar pessoas e tomar decisões muitas vezes não muito confortáveis. Ao mesmo tempo, estimular e colaborar para o desenvolvimento de toda uma rede tecnológica e operacional que consiga, em curto prazo, atuar em fatores que aumentem a produtividade dos cultivos, visando à sua sustentabilidade.
O gestor florestal terá que ser muito disciplinado para que, através de métodos e instrumentos práticos, possa se capacitar para ter um equilíbrio emocional que o deixe no eixo favorável que permeie a confiança, mas que não o torne vítima e nem corajoso demais de forma que se torne feroz como líder. Em médio e longo prazo, a realidade da silvicultura, ou o seu futuro, estará diretamente ligada a várias questões importantes, mas quero me ater a apenas duas: a primeira é o licenciamento ambiental, e este em todas as suas esferas: outorga de uso da água e jazidas minerais (cascalho e argila), químicos, etc. Para você ter uma ideia, prezado leitor, Minas Gerais tem processos de licenciamento de grandes empresas reflorestadoras parados desde 2011. Pasme!
A plantação precisa ser encarada como um produto que foi planejado e plantado para ser colhido e beneficiado, observado de forma técnica, sem paixões e sem os processos “burrocráticos” que enfrentamos hoje. Recentemente, fizemos um trabalho comparando toda a base jurídica que envolve o processo de licenciamento aqui no Brasil e na Europa. Um processo de licenciamento no Brasil, desde a sua protocolização até sua licença, não demora menos do que 180 dias, imagine o impacto disso para quem esteja investindo.
O outro ponto nevrálgico que citarei são os transportes. Segundo o último relatório de competividade do World Economic Forum, o Brasil caiu do 48º para 56º lugar no quesito infraestrutura de transportes; ainda segundo a ANTF, o Brasil aproveita apenas 58% de seu potencial rodoviário e, apesar de investimentos de R$ 38 bilhões desde 1997, somente 25% do ferroviário e apenas 17% do aquaviário.
Não só para o escoamento dos produtos florestais, mas esses números traduzem um alto risco para a economia nacional: além de deficiente, a má qualidade da infraestrutura tem sido apontada como o principal problema para se fazerem negócios no País. Analisando somente a qualidade das rodovias, 144 países foram avaliados no estudo, e o Brasil ficou no 120° lugar! Se falarmos em pavimentação, o Brasil ocupa o último lugar, quando comparado aos quatro membros fundadores do BRIC.
Em médio e longo prazo e sem pensar na crise que assola alguns setores florestais hoje, entendo que, necessariamente, a realidade da silvicultura passará por um aumento da demanda de madeira suprida via cultivos florestais, por aumento de produtividade ou de áreas, sendo um destaque o uso de biomassa para energia e os bioprodutos.
Quando analisamos os desafios que temos pela frente, quase podemos apostar que as estratégias para investimentos vultosos para os próximos 50 anos tendem a focar no aumento de produtividade, na prática da silvicultura de precisão alinhada com a genética, e, nesse ponto, não podemos deixar de nos lembrar das árvores geneticamente modificadas (AGMS), no uso mais intensivo dos sistemas de informação geográfica, nutrição com tendência a redução substancial do parcelamento e no controle de pragas. Mesmo assim, a pergunta que não quer realmente calar é: seremos capazes de aumentar substancialmente a produtividade das plantações florestais, ao invés de aumentar a área plantada?
A silvicultura de médio e longo prazo terá cada vez mais a sustentabilidade como fator chave, isso englobará políticas, as relações de trabalho e as certificações. As plantações não se resumirão apenas a madeira, portanto a tendência é que as análises dos processos de silvicultura venham diretamente relacionadas com a qualidade e a quantidade dos recursos hídricos, com avaliações sistêmicas da qualidade do ambiente, ciclagem de carbono e a “bola da vez”, que será a proteção à biodiversidade.
As tendências técnicas e operacionais da silvicultura do futuro estão sendo moldadas a partir das nossas necessidades e desafios de hoje, mas a realidade de médio e longo prazo para a floresta plantada no Brasil vai depender de uma melhoria sustentável da economia também em longo prazo, e, para isso, é necessário resolver questões estruturais que compõem o “Custo Brasil”, além, é claro, da desvalorização cambial.