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Paulo Squariz

Diretor de Negócios de Energia da Suzano

OpCP80

Bioenergia florestal: desafios e soluções
O Brasil, com sua vasta extensão territorial, clima favorável e tradição consolidada no uso de bioenergia, apresenta um cenário altamente promissor para a produção em larga escala de energia renovável a partir da biomassa florestal. Essa fonte energética, composta por resíduos de madeira, plantações energéticas como eucalipto e pinus, além de subprodutos da indústria florestal, representa uma alternativa sustentável para a geração de eletricidade, biocombustíveis sólidos (como pellets), biogás e até mesmo para a captura de CO2 biogênico, utilizado na produção de combustíveis renováveis.
 
Apesar de seu potencial, a expansão dessa matriz energética enfrenta desafios significativos, especialmente no que se refere à produtividade florestal. Tais desafios abrangem aspectos agronômicos, logísticos, econômicos e ambientais. No entanto, os avanços tecnológicos têm-se mostrado fundamentais para superar essas barreiras, promovendo maior eficiência e sustentabilidade. 
 
Com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e condições climáticas que favorecem o crescimento acelerado de espécies florestais, o Brasil configura-se como um dos principais candidatos à liderança global na produção de biomassa florestal. Espécies como o eucalipto, que atinge a maturidade entre cinco e sete anos, e o pinus, amplamente cultivado no Sul do País, são particularmente adequadas para fins energéticos. Além disso, resíduos provenientes das indústrias de celulose, papel e madeira serrada constituem uma fonte abundante de matéria-prima.

Atualmente, a bioenergia representa cerca de 8% da matriz elétrica brasileira, conforme dados do Balanço Energético Nacional da EPE (Empresa de Pesquisa Energética). No entanto, o potencial da biomassa florestal é significativamente superior, especialmente em um contexto global que demanda fontes renováveis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. 

A biomassa florestal destaca-se por sua neutralidade em carbono — desde que manejada de forma sustentável — e por sua capacidade de complementar fontes intermitentes, como a solar e a eólica. Além disso, contribui para a geração de empregos e o desenvolvimento regional.

São vários e muito diversos os desafios à produtividade florestal no Brasil, a começar pelo manejo sustentável do solo. Os solos tropicais brasileiros, frequentemente pobres em nutrientes e suscetíveis à erosão, representam um desafio à produtividade florestal. 
 
A monocultura de eucalipto, embora eficiente, pode comprometer a fertilidade do solo se não for acompanhada de práticas como adubação equilibrada, rotação de culturas e reposição de matéria orgânica. As mudanças climáticas, com padrões irregulares de precipitação e aumento das temperaturas, também exigem o desenvolvimento de variedades mais resilientes.

A infraestrutura logística também é um ponto crítico. O transporte da biomassa de regiões remotas até as unidades de conversão energética constitui um desafio logístico relevante. A precariedade das vias de acesso eleva os custos operacionais e compromete a eficiência do processo, enquanto o armazenamento inadequado pode resultar na deterioração da biomassa devido à umidade.

Outro desafio à produtividade florestal tem origem na competição pelo uso da terra: A expansão das florestas energéticas compete com atividades como agricultura, pecuária e conservação ambiental, especialmente em biomas sensíveis como a Amazônia e o Cerrado. O risco de desmatamento para abertura de novas áreas é uma preocupação crítica. A utilização de terras degradadas e a adoção de sistemas agroflorestais representam alternativas viáveis, embora demandem planejamento estratégico e incentivos adequados.

A viabilidade econômica é, obviamente, outra variável a ser superada. A produção de biocombustíveis a partir de resíduos florestais, tão relevantes quando falamos de transição energética, ainda enfrenta desafios econômicos, notadamente os elevados custos de produção e a concorrência com fontes fósseis de menor custo. A ausência de políticas de incentivo fiscal e a volatilidade dos preços da energia renovável dificultam a atração de investimentos.

Por fim, o desafio proveniente dos impactos ambientais e sociais. A intensificação de monoculturas pode comprometer a biodiversidade, contaminar o solo e os recursos hídricos com agroquímicos e gerar emissões de gases de efeito estufa, caso não sejam adotadas práticas adequadas de manejo. Além disso, é imperativo garantir condições laborais dignas e respeitar os direitos das comunidades locais. Certificações que atestam a qualidade das práticas na cadeia são instrumentos relevantes, mas sua adoção ainda é limitada entre pequenos produtores.

Sem dúvida, a inovação tecnológica constitui um elemento-chave para a superação dos desafios mencionados acima, promovendo ganhos de produtividade, redução de custos e maior sustentabilidade. Dentre as principais soluções, destacam-se:
• Melhoramento Genético e Biotecnologia: Técnicas como edição genética (CRISPR), seleção genômica e clonagem de árvores têm permitido o desenvolvimento de variedades mais produtivas e resistentes a estresses ambientais;
• Agricultura de Precisão: O uso de drones com sensores multiespectrais, sistemas de informações geográficas (SIG) e sensores conectados via Internet das Coisas (IoT) possibilita o monitoramento em tempo real das plantações, otimizando o uso de insumos e reduzindo impactos ambientais;
• Inovações em Colheita e Logística: A adoção de colheitadeiras automatizadas, rastreamento por blockchain, bem como veículos autônomos, tem contribuído para maior eficiência operacional;
• Tecnologias de Conversão da Biomassa: Processos como gaseificação, pirólise rápida, cogeração e produção avançada de pellets aumentam a eficiência energética e a competitividade do setor;
• Armazenamento Inteligente: Sistemas de secagem avançados e silos equipados com sensores garantem a preservação da qualidade da biomassa;
• Soluções Ambientais: A integração de sistemas agroflorestais, a captura e armazenamento de carbono (BECCS) e o monitoramento por inteligência artificial são estratégias que reforçam o compromisso ambiental do setor.

Além das inovações tecnológicas, o êxito da bioenergia florestal depende de políticas públicas eficazes. Incentivos fiscais, linhas de crédito acessíveis e programas de capacitação técnica são fundamentais para apoiar pequenos e médios produtores. 

A produção em larga escala de energia renovável a partir da biomassa florestal deve estar vinculada, portanto, a uma análise sistêmica de toda a cadeia, dos seus desafios e oportunidades, e ciente de que ela pode elevar o Brasil à condição de protagonista na transição energética global. 

Afinal, a despeito dos desafios relacionados à produtividade, logística e sustentabilidade, as soluções tecnológicas disponíveis oferecem caminhos promissores. E, com investimentos consistentes em inovação, infraestrutura e políticas públicas, é possível transformar a biomassa florestal em uma fonte de energia limpa, competitiva e socialmente responsável, contribuindo de forma significativa para um futuro mais sustentável.