Vice-Presidente da Pöyry Consulting - Finlândia
Op-CP-08
Ao longo das últimas três décadas, as transformações do mercado mundial e as mudanças do ambiente competitivo têm levado a uma profunda reestruturação da indústria mundial de base florestal. Ocorre um verdadeiro processo de seleção natural. Este fenômeno apresenta dois componentes principais. O primeiro, associado a distintas dinâmicas de mercado.
Há um incremento acelerado do consumo dos principais produtos florestais nos países emergentes. Simultaneamente, percebe-se tendência à estabilização, saturação ou mesmo redução do consumo nas regiões tradicionais de demanda, como na América do Norte, no Japão e nos países mais desenvolvidos da Europa. O segundo componente acompanha a gradativa redução da rentabilidade financeira das empresas, com enfoque centrado nestes mercados maduros.
A estabilização do consumo nestas regiões tem gerado sobre capacidade de produção e conseqüente redução do nível de preços. Verifica-se, também, que uma parte considerável dos ativos industriais, em certos países, encontra-se desatualizada tecnologicamente. Estas alterações fundamentais no ambiente de negócios provocam reações diversas na busca pelo aumento da competitividade. Entre elas, destacamos alguns exemplos de mudanças tecnológicas, estímulos políticos e o fenômeno da migração industrial.
Mudanças tecnológicas: Observa-se que, uma grande parte das inovações propostas tem enfoque na otimização do uso da matéria-prima fibrosa. Por exemplo, as gramaturas baixas ganham espaço, pois reduzem a necessidade de fibras e promovem economias na cadeia logística. Ao mesmo tempo, a evolução tecnológica da produção de papel e o aumento da coleta, impulsionam o consumo de fibras recicladas – cerca de 48% da produção mundial de papel hoje é baseada nestas fibras.
Também o víeis tecnológico promove o uso de fibras curtas, provindas das plantações de rápido crescimento, as quais se consolidam como as grandes fontes de fibra virgem de alta qualidade e homogeneidade. Estima-se que mais de 20% do consumo mundial de madeira para fins industriais, em 2020, virá destas plantações florestais (atualmente 14%).
Estímulos políticos: Diversas iniciativas políticas, muitas delas encabeçadas pela União Européia, promovem o uso energético dos recursos naturais renováveis. Esta atitude político-ambiental tem despertado interesse dos agentes econômicos pelo uso da biomassa de origem florestal (e agrícola). Por exemplo, legislação específica promovendo a geração de eletricidade provinda de biomassa, como na Espanha e em Portugal, altera a competitividade da produção de celulose nestas regiões – produzir celulose passa a ser um negócio literalmente energético. Ainda neste contexto, encontra-se o tema dos biocombustíveis.
São lançados grandes metas e ambiciosos programas de pesquisa, envolvendo iniciativas governamentais e empresariais. A tecnologia de produção das chamadas biorefinarias provavelmente ainda não assegura amplos retornos financeiros, porém, os compromissos políticos visam mudanças estruturais no médio prazo, incentivando o produtor rural e a indústria.
Ainda neste tema político e cultural, os consumidores tornam-se mais exigentes quanto às credenciais ambientais dos produtos de base florestal. Basta observar a rápida evolução da importância dos selos verdes e das diversas demandas sociais, associadas a grandes projetos de investimento, para constatar que a competitividade da indústria está hoje intimamente relacionada à sustentabilidade – e principalmente ao sucesso do tom do diálogo entre a indústria e a sociedade.
Migração Industrial: O fenômeno da migração industrial está diretamente relacionado ao crescimento do mercado Asiático - leia-se China, e ao acesso às matérias-primas florestais competitivas - leia-se Brasil e plantações de rápido crescimento. Assim, o capital e, conseqüentemente, a indústria migram para estas regiões, na busca por maiores retornos.
Isto comprova claramente as projeções da consultoria estratégica e industrial da Pöyry: até o ano 2020, mais da metade do consumo e da produção mundial de papel deverá ocorrer nas economias emergentes. Ao mesmo tempo, a celulose provinda de plantações de alto rendimento, principalmente as de eucalipto, ganhará espaço.
Países como o Brasil beneficiam-se em várias perspectivas. Sendo o mercado regional relativamente pequeno e a competitividade da produção de fibras alta, a indústria ainda é essencialmente exportadora. Outra realidade importante diz respeito ao acesso a mais avançada tecnologia de plantações florestais do planeta, criada, desenvolvida e aperfeiçoada no Brasil.
A competitividade florestal e agrícola do Brasil é evidente. A continuidade destas vantagens comparativas, porém, está na agenda dos investidores. Fazendo um breve paralelo histórico entre o sucesso comercial e tecnológico de algumas culturas agrícolas (soja, cana-de-açúcar) e florestais (eucalipto, pinus), percebe-se que a rentabilidade do negócio está ligada, essencialmente, ao acesso à terra, à tecnologia genética e à competitividade logística e estrutural.
No futuro, veremos se intensificar a concorrência provinda de plantações florestais em outras regiões – nota-se hoje interesse crescente por investimentos na África ou até mesmo em algumas regiões da própria China. Também no Brasil, as culturas (agrícola ou florestal) e os países que vierem a oferecer maiores retornos ao capital (e previsibilidade de riscos) atrairão a atenção dos investidores. Em 1864, o filosofo inglês Herbert Spencer promoveu o princípio da “sobrevivência do mais apto” – a globalização da indústria de base florestal parece seguir regras semelhantes ao processo de seleção natural.