Diretor-geral da NRG Consultoria em Energia e Meio Ambiente
Op-CP-28
A sustentabilidade da produção florestal nos moldes atuais, de um ponto de vista estritamente físico e biológico, dependerá fundamentalmente da nossa capacidade em combinar essa produção – exitosa no Brasil, em muitos aspectos – com a restauração parcial dos ecossistemas que foram substituídos pelas florestas de produção.
Explica-se. As atuais plantações de árvores ocupam o espaço físico, químico e biológico de sistemas naturais que evoluíram ao longo de milhões de anos para produzir vida diversa e interdependente em território brasileiro. Esses sistemas são o que chamamos Mata Atlântica, Cerrado, Campos, Caatinga e Amazônia, em largos traços.
Sem pretender desenvolver aqui uma Hipótese Gaia para as florestas brasileiras, basta considerar que as florestas de produção não são viáveis na natureza sem a constante intervenção humana, tanto na sistemática redução da biodiversidade como na injeção de nutrientes e componentes do solo, para repor o que foi retirado ou degradado ao longo do crescimento e exploração comercial dos espécimes “produtivos”.
Assim, o que uma floresta de produção fornece é basicamente o resultado do trabalho humano presente desde o momento em que a mata original é retirada, o solo é empobrecido do ponto de vista da sua biodiversidade e uma plantação de clones é implantada e cuidada ao longo de toda a vida útil do empreendimento.
Essa substituição não seria problemática se a base do processo produtivo biológico não exigisse a diversidade como garantia de continuidade. A fotossíntese é o processo biofísico de captura da energia solar na estrutura de macromoléculas orgânicas.
É a diversificação, combinação e síntese das macromoléculas orgânicas que tornam possíveis as diferentes formas de vida. Esse processo, embora bastante sofisticado e preciso na escala molecular, tem baixa eficiência na escala macroscópica. Menos de 1% da energia solar que incide sobre os indivíduos arbóreos ao longo da sua vida transforma-se em biomassa. O que torna as florestas nativas viáveis não é sua eficiência em capturar a energia solar através da fotossíntese.
O que torna viável uma floresta nativa é a sua diversidade, na qual as diferenças entre as espécies e indivíduos são complementadas pelas formas de cooperação, competição, simbiose e parasitismo. É essa complementação que torna uma mata nativa não só possível, mas adaptável, resiliente, evolutiva e sustentável.
A Constante Solar é uma medida da energia solar incidente sobre uma área hipoteticamente localizada acima da atmosfera terrestre. Para uma incidência azimutal, essa constante é de 1,37 KW por metro quadrado na forma de luz solar.
Ao atravessar a atmosfera, grande parte dessa radiação solar é absorvida nos fenômenos atmosféricos, como os ventos e o movimento das nuvens. Pouco mais de 10% dessa radiação chegam à superfície onde estão localizadas as plantações. Como um indivíduo ocupa uma área tipicamente de 10 metros quadrados, numa plantação, temos que cada árvore recebe 1,37 x ½ x 8.760 KWh ao longo de um ano. Para um ciclo de 7 anos, a energia total incidente é da ordem de 42 MWh por indivíduo!
O modelo atual de implantação de florestas de produção tem como primeiro momento a eliminação da diversidade biológica presente na mata nativa, inviabilizando qualquer forma posterior de complementação entre os indivíduos ou partes da plantação. Esse primeiro momento sela, portanto, a efemeridade desse trabalho humano.
A superação desse modelo exige que a diversidade biológica esteja presente ao lado das plantações de clones, para que sejam preservados o controle das pragas, as interações positivas com o fluxo local de água e nutrientes, bem como com o microclima. Experimentos localizados nessa direção têm sido feitos em pequena escala, principalmente nas plantações para a produção de celulose de mercado.
Os resultados encorajadores permitirão radicalizar os experimentos, revertendo a situação em que a mata nativa é limitada a bolsões dentro das plantações, para uma paisagem em que as plantações serão bolsões dentro de um contínuo de mata nativa ao longo de cursos d’água e encostas demasiadamente íngremes. Isso é parte de um futuro necessário. Cabe a nós trabalhar para que ele se torne possível.