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Carlos Augusto Lira Aguiar

Presidente da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas - Abraf

Op-CP-01

Riqueza florestal

O setor florestal é um dos mais dinâmicos do mundo. O comércio mundial de produtos florestais movimenta US$ 150 bilhões por ano. Alguns países, de clima frio e com condições muito menos propícias que as nossas, lideram este comércio, como o Canadá, com 16%, os Estados Unidos, com 9%, e a Finlândia, com 8%. O Brasil participa com apenas 3% desse comércio.

Esta posição é paradoxal para um país com tantos fatores competitivos, como clima e solo – que asseguram taxas de crescimento até dez vezes superiores aos dos países de clima frio – amplas áreas já desmatadas, com baixa utilização econômica, facilidade de acesso marítimo, domínio tecnológico, gestão profissional e mão-de-obra qualificada.

Temos características ideais para potencializar o desenvolvimento do setor florestal, com empresas nacionais de expressão global ajudando a promover este crescimento. Apesar da participação no comércio mundial estar muito abaixo de seu potencial, o setor de base florestal já é expressivo para a economia nacional. Ele é a fonte de matéria-prima e fator de competitividade fundamental para segmentos importantes, como papel e celulose, carvão vegetal, biomassa, móveis e uma ampla gama de produtos madeireiros. O faturamento do setor, em 2004, alcançou aqui US$ 17,5 bilhões.

As exportações atingiram no ano passado US$ 5,8 bilhões. Temos hoje no país 5,4 milhões de hectares de florestas plantadas.Trata-se de uma proporção mínima da área brasileira, e uma fração da área ocupada pelas florestas plantadas em outros países, como o Chile, que possui 2 milhões de hectares de plantios florestais, em uma superfície muito menor e mais acidentada.

A atividade florestal também é importante em termos ambientais e sociais. As empresas do setor adotam avançados padrões de manejo, internacionalmente reconhecidos. Obedecem estritamente ao código florestal e à legislação ambiental. Preservam, intercalados aos plantios, mais de 1,6 milhão de hectares de ecossistemas nativos, que em algumas regiões constituem as maiores reservas naturais existentes.

Contribuem, com o suprimento de madeira, para a redução das pressões sobre as florestas nativas. Em termos sociais, o setor atrai para regiões remotas uma ampla cadeia de atividades produtivas, que produz crescimento, arrecada impostos e gera milhares de empregos, reduzindo o êxodo rural. Apesar do potencial, o Brasil está vivendo um impasse com a escassez de madeira de florestas plantadas.

A demanda tem aumentado, enquanto cai o ritmo de crescimento das áreas de florestas plantadas, provocando o chamado “apagão florestal”. A demanda atual já é maior do que a oferta, e as duas curvas afastar-se-ão cada vez mais uma da outra, de forma irreversível em curto prazo, transformando o Brasil em grande importador de madeira.

Isto terá efeitos nefastos, como o impacto negativo na balança de pagamentos, o aumento do preço da madeira, a limitação do crescimento dos setores que usam madeira como matéria-prima e o aumento da pressão sobre as florestas nativas, por parte dos setores menos organizados da sociedade. Para reverter este quadro, precisamos de uma política setorial de longo prazo, que, através do planejamento, integre as metas da cadeia produtiva com as necessidades de novas áreas de plantio para o suprimento de madeira.

Dentro desta política, é preciso assegurar linhas de crédito adequadas ao ciclo das florestas plantadas, a implementação de programas de fomento nas pequenas e médias propriedades rurais e o uso de grandes empresas como pólos de desenvolvimento, aplicando sua capacidade tecnológica, de financiamento e de aquisição de madeira.

É preciso também incrementar a competitividade do setor, desonerando a produção de custos burocráticos e improdutivos, e otimizando as exigências legais, taxas e tributos, para comercialização e produtos florestais. Precisamos ainda simplificar e adequar a legislação, revendo alguns dos seus aspectos discriminatórios, como restrições ou proibições não fundamentadas aos plantios florestais.

É necessário aprofundar a revisão das atribuições e superposição de atribuições nas esferas federal e estadual e equiparar as normas e regulamentos das florestas plantadas às das demais atividades desenvolvidas no campo. Isso não significa exigir menos controle ambiental, mas ter formas mais eficazes de controle. Por último, precisamos assegurar a inserção dos pequenos e médios produtores rurais na atividade silvicultural.

O modelo atual provocou a concentração dos plantios pelas grandes empresas e limitou a extensão da atividade aos pequenos e médios produtores. Esta inserção promoverá a distribuição de renda, a fixação da mão-de-obra no campo e a melhoria do meio ambiente. É essa a agenda da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas, Abraf.

Se bem-sucedida, poderá, entre 10 e 15 anos, elevar as exportações de produtos florestais para US$ 15 bilhões ao ano, aumentar a arrecadação de impostos para US$ 6 bilhões anuais, gerar milhares de empregos e promover a incorporação de mais de 2 milhões de hectares às reservas nativas das empresas. Para ser bem-sucedida, essa não pode ser apenas uma agenda do setor de florestas plantadas, mas de toda a sociedade brasileira. Assim, precisamos promover uma ampla discussão, envolvendo o Governo Federal, o Congresso Nacional, os governos dos Estados, as prefeituras, as Organizações Não-Governamentais, além de outros segmentos da sociedade.