As plantas daninhas apresentam alta competitividade na obtenção de nutrientes, água e luz, em função de uma série de características, entre elas velocidade e variabilidade de germinação de sementes e propágulos em vários ambientes e diferentes épocas do ano, seu porte, arquitetura, desenvolvimento radicular e eliminação de substâncias alelopáticas. Portanto, quando ocorrem no ambiente de produção florestal, interferem negativamente no desenvolvimento dos plantios comerciais. A interferência pode reduzir o crescimento em altura e diâmetro, além de comprometer a uniformidade dos estandes, acarretando perdas expressivas de produtividade.
Refletir sobre um checklist para florestas plantadas no que diz respeito a manejo de plantas daninhas, nos direciona a considerar todos os fatores que interferem nas relações entre as florestas plantadas, os ambientes de produção, métodos de controle, recursos disponíveis, custos envolvidos, demandas ambientais, entre outros. Denominamos de manejo integrado de plantas daninhas, MIPD, a interação entre esses fatores na definição do processo decisório.
Etapas do MIPD
a. Caracterização ambiental: Nesse aspecto, é preciso entender as condições a que estão submetidas as florestas plantadas e seu entorno. O tipo de solo, sua fertilidade, além de fatores como pH, capacidade de troca catiônica e características físicas (teor de argila e matéria orgânica) influenciam na capacidade de desenvolvimento das florestas plantadas e seu fechamento. Por outro lado, de modo análogo, podem favorecer o crescimento da população de plantas daninhas. Em função das caraterísticas físico-químicas dos herbicidas, sua dinâmica e comportamento também são influenciados pelas caraterísticas físicas dos solos.
A topografia da região também é fator decisivo nas determinações dos planos de controle das plantas daninhas. Regiões como as do Vale do Paraíba, em SP, e outras no Vale do Aço, em MG, não permitem operações mecanizadas em função do relevo acidentado, diferente de áreas como a costa leste do MS, onde praticamente todas as áreas são mecanizáveis.
O maior fator de restrição de crescimento de plantas é a falta de água. Assim, o regime hídrico, em termos de volume e distribuição de chuvas, tem influência expressiva sobre a população de plantas daninhas e sobre o crescimento das florestas. Entender os movimentos de entrada de água no sistema de produção ao longo do ano e dos ciclos de produção pode ser um fator determinante na adoção de diferentes opções de manejo.
A temperatura e fotoperíodos podem oscilar ao longo do ano e, por vezes, dentro do mesmo dia de trabalho. Com isso, há interferências importantes na germinação de banco de sementes, na capacidade de realização de fotossíntese pelas plantas e na ação de determinados herbicidas pós-emergentes.
Regiões que estão mais sujeitas a ocorrência de pragas e doenças que causam desfolha, possibilitam a incidência solar nos solos e, com isso, o ressurgimento de plantas daninhas. A identificação das plantas daninhas, em termos de tipos, espécies, resistência a herbicidas, densidade populacional, estágio fenológico e porte, interfere na escolha dos métodos de controle dento do MIPD. Uma planta de regeneração do cerrado, com alto porte em períodos muito secos, precisa de operações mecânicas de controle, diferente de um banco de sementes de gramíneas em período chuvoso, que pode ser controlado com herbicidas pré-emergentes.
Em função das dimensões continentais do Brasil, encontram-se diferentes biomas, que estão sujeitos a situações ambientais particulares. Por exemplo, a dinâmica das populações das florestas plantadas e das plantas daninhas é muito diferente na região do Dom Elizeu, no PA, no período mais chuvoso, quando comparada a Três Lagoas, no MS, no período seco, ou a Telêmaco Borba, no PR, no inverno com geadas.
b. Espécie florestal: As florestas plantadas têm hábitos de crescimento e manejos quanto à nutrição e aos espaçamentos muito diferentes. Com isso, uma floresta de eucalipto pode apresentar o fechamento de dossel total aos 8 meses de idade; em contrapartida, uma floresta de pínus plantada no mesmo espaçamento pode levar 3 anos para o mesmo nível de sombreamento sobre o solo. Outro aspecto está no manejo da floresta: quando se promovem desbastes ao longo do crescimento da cultura, como no caso do cedro-australiano ou do mogno-africano, novas exposições do solo acontecem, possibilitando novas infestações de plantas daninhas.
As diferentes espécies também podem suportar diferentes pressões de convivência com plantas daninhas. Estudos de período de convivência e faixas de controle podem auxiliar nas decisões para cada cenário. Entender o manejo e o hábito de crescimento da espécie florestal, em função das caraterísticas ambientais comentadas acima, é fundamental para definir uma estratégia de manejo para plantas daninhas.
c. Recursos disponíveis: O controle de plantas daninhas, em geral, pode ser realizado com operações mecânicas, como capina manual, coroamento, roçada manual ou mecanizada, gradagem, uso de rolo faca, correntões, tratores com lâminas frontais, reabaixadores de cepas, lâminas, etc.; ou químicas, com o uso de herbicidas, que podem ser pré-emergentes ou pós-emergentes, com aplicações manuais ou mecanizadas.
Tanto em métodos mecânicos como em químicos, a mão de obra é um dos fatores de produção fundamentais, a capacitação e a disponibilidade de mão de obra podem, por vezes, direcionar manejos, com custos mais elevados ou tecnicamente menos adequados, em função da força de trabalho ofertada.
Em geral, o emprego de operações mecânicas no controle de plantas daninhas é disponível em todas as áreas de produção florestal. O tipo de operação e a intensidade de uso podem variar em função de caraterísticas regionais, conforme o estudo ambiental destacado na etapa anterior.
Sob o ponto de vista de controle químico de plantas daninhas, existem, no Brasil, algumas culturas com suporte fitossanitário insuficiente, ou seja, algumas das culturas florestais não têm herbicidas registrados para compor o MIPD. À exceção do eucalipto e do pínus, as demais culturas florestais podem ser consideradas com suporte insuficiente. Na tabela a seguir, estão algumas das principais espécies plantadas no Brasil, a quantidade de marcas comerciais e de princípios ativos registrados.
Para aquelas onde o uso de herbicidas é possível, é preciso levar em conta as características físico-químicas dos produtos, como solubilidade, pka, koc, kow e pressão de vapor. Esses fatores definem a dinâmica dos ativos ou seus subprodutos no ambiente, como sua persistência de se manter nos locais de interesse, seja nos solos ou plantas, seu potencial de contaminação ambiental e de migração para fora das áreas-alvo.
Aspectos de performance em controle de plantas daninhas, como espectro de controle (folhas estreitas e/ou folhas largas), posicionamento (pré ou pós-emergência), risco de efeitos fitotóxicos nas culturas de interesse, momento de aplicação (pré ou pós-plantio), potencial de perdas por deriva, entre outros, devem ser levados em conta para definição de qual produto pode ou deve ser usado em cada cenário.
Em geral, as aplicações de herbicidas são realizadas com pulverizadores. O objetivo dessas máquinas é a distribuição uniforme, contínua e na quantidade necessária de um tratamento químico nas áreas-alvo.
Do ponto de vista de tecnologia de aplicação, é possível definir um novo checklist, abordando os principais fatores de interferência nos objetivos da pulverização, como homogeneidade das caldas, seleção correta das pontas de pulverização, sistemas de filtragem, dimensionamento de bombas, regulagens de altura de aplicação, pressão e vazão, além da capacitação e da adequação da mão de obra envolvida.
d. Matriz de decisões: A partir dos fatores discutidos, é possível construir matrizes de tomada de decisão para diferentes fases das florestas, desde a limpeza de áreas para plantio, operações de manejo de daninhas no plantio, até operações de manutenção florestal.
Na matriz de decisão, é possível construir diferentes caminhos de MIPD, indicando rotas, com quais operações mecânicas ou químicas, em que época do ano, com quais herbicidas e em que doses, definir quanto tempo será possível manter a floresta livre de competição com plantas daninhas e prever quais operações futuras deverão acontecer.
Dessa forma, é possível estabelecer os caminhos críticos em termos de custos e eficácia, encontrando as melhores soluções para cada espécie florestal, aliadas aos objetivos de produção sustentável.