Diretora Global de Ecossistemas Agrícolas Sustentáveis da Monsanto e VP para as Américas da Conservação Internacional
Op-CP-31
A importância da natureza e a interdependência dos ecossistemas e pessoas têm ficado cada vez mais evidentes, e, hoje, percebemos que pessoas em geral têm uma clara noção da necessidade da natureza para sua própria sobrevivência e mesmo para sua capacidade de prosperar.
Isso porque, cada vez mais, evidencia-se que a biodiversidade é a guardiã de serviços ambientais essenciais – seja por meio da qualidade e da quantidade do provisionamento de água, seja através da manutenção da qualidade do solo –, que permitem a manutenção dos níveis de produtividade em atividades econômicas humanas.
O desafio é que a biodiversidade está desaparecendo em taxas sem precedentes, resultado de uma combinação de consumo desenfreado no mundo desenvolvido e pobreza persistente nos países em desenvolvimento. A particularidade do Brasil é termos esses dois mundos aqui presentes.
E foi no sentido de contribuir um pouco para enfrentar na prática o desafio que essas duas realidades trazem que, há pouco mais de cinco anos, no Brasil, iniciamos um diálogo não comum entre uma organização não governamental – a Conservação Internacional – e uma empresa do agronegócio – a Monsanto.
Desse diálogo, nasceu a parceria Produzir e Conservar, com o foco na sinergia entre as duas entidades e suas cadeias, que visa contribuir, de alguma forma, para a maior conservação da biodiversidade em áreas de crescimento agrícola significativo.
Qual seria a contribuição da parceria almejada a longo prazo? O fim do desmatamento, o fim da extinção de espécies e o respeito à legislação ambiental nas regiões onde atuássemos.
E, desde o início, já na definição dos locais onde a parceria atuaria, duas perspectivas foram avaliadas, com a total integração desses dois olhares diferentes, que se constituiu um fator fundamental para seu sucesso. Por um lado, as regiões com maior crescimento do agronegócio foram apresentadas pela equipe Monsanto. Por seu lado, o time da Conservação Internacional expôs o ponto de vista das áreas que seriam prioritárias conservar em termos de biodiversidade.
O cruzamento desses dois pontos de vista levou à eleição de duas áreas de atuação, baseadas, sobretudo, em nossas atividades: mata atlântica do Nordeste, no bioma mata atlântica, e oeste da Bahia, no cerrado. A efetivação do trabalho passou por capacitação de equipes, diálogo com a cadeia agrícola e principais stakeholders locais e integração de ONGs locais à parceria.
Nosso olhar visava trazer soluções efetivas para essas duas realidades: na primeira, o Brasil desenvolvido, que vemos no Brasil do agronegócio. Nesse, nós acreditamos que a produtividade elevada depende de tecnologia e, por outro lado, sabemos também depender da natureza conservada.
E um exemplo bem evidente é a garantia da água – qualitativa e quantitativamente –, base da sustentabilidade dos plantios. Conseguindo alta produtividade sobre as terras hoje já utilizadas, esperamos que o desmatamento não seja mais visto como saída para o aumento da produção.
Nesse sentido, em nossa parceria, somados com toda a cadeia agrícola, pudemos garantir cumprimento do Código Florestal em várias fazendas parceiras.
Como resultado direto desse trabalho, tivemos, inclusive, a emergência de legislação ambiental municipal focada na regularização da área total de Áreas de Proteção Permanente, por meio da Campanha LEM APP 100% Legal, no município baiano de Luís Eduardo Magalhães, seguindo a linha que o setor florestal brasileiro já há muito realiza.
Na outra realidade distinta, no Brasil em desenvolvimento, a situação ainda é de pessoas que coletam lenha diariamente para sua sobrevivência. E foi com essa compreensão somada à necessidade de uma resposta imediata a esse cotidiano que, na mata atlântica do Nordeste, trabalhamos também com um projeto de instalação de ecofogões.
Através de parceiros locais como o Cepan (Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste), apoiamos a implementação de uma tecnologia mais eficiente, gerando a oportunidade de menor necessidade de lenha coletada por parte daqueles que ainda dependem de fogões a lenha para sobreviver.
Com essa tecnologia, a saúde dessa população também obteve melhorias, pois houve a redução do nível de fumaça dentro dos lares, acompanhada da redução da utilização de lenha e, consequentemente, proteção à biodiversidade local. Voltando ao cerrado, a melhoria da situação de comunidades que vivem no oeste da Bahia ocorreu por meio da criação da Rede de Coleta de Sementes – implementada pela parceria com o governo local e parceiros locais, como o Instituto Lina Galvani.
Essa rede traz a capacitação para valorização das sementes nativas por parte da população local, a melhoria de rendimento através de fundo municipal criado para esse fim e a restauração com mata nativa. Assim, ajuda a restaurar, a sensibilizar e a melhorar o rendimento das famílias.
Gostaríamos de destacar, ainda dentro das ações da parceria, que o maior conhecimento da biodiversidade traz maior valoração. De modo geral, a falta de entendimento dos serviços ambientais e seus limites derivados da biodiversidade acarretam falta de cuidado e desvalorização. Por assumirmos que esses serviços existirão para sempre, deixam de participar das contas públicas ou contas privadas.
Nesse sentido, a parceria também está desenvolvendo, no oeste baiano, um projeto ligado ao TEEB (The Economics of Ecosystems and Biodiversity) para o setor de negócios brasileiro, que vai valorar os recursos hídricos na região utilizados pela agricultura. Esse estudo permitirá um melhor entendimento dos custos financeiros, potenciais dependências e impactos ambientais e, mais ainda, o entendimento de oportunidades de bons negócios baseados em um meio ambiente sadio.
Assim, acreditamos poder contribuir para essas duas realidades tão desafiadoras quanto diferentes: a produção e a conservação, na prática, hoje, no campo, e ajudando a preparar a valoração de ecossistemas e biodiversidade para uma nova economia, produzindo mais, conservando mais e ajudando a melhorar vidas.