As conhecidas geotecnologias extrapolam os limites de sua ciência de desenvolvimento e aplicação. Dentre os vários setores produtivos nos quais ela é utilizada, a silvicultura é uma atividade que aproveita ao máximo o universo de soluções para diversos setores da gestão florestal.
Tudo o que ela tem para oferecer pode ser aproveitado em benefício da gestão florestal. A geotecnologia se apresenta como uma ferramenta poderosa, oferecendo novas maneiras de se coletar dados, monitorar ecossistemas florestais e tomar decisões informadas. Atualmente é impossível imaginar que a gestão de uma floresta plantada possa ser realizada sem o uso desta potente ferramenta.
Desde sempre a gestão florestal fez uso de ferramentas de geotecnologia, ainda que de forma simples e sem integração entre sistemas. Abrir mão desse recurso seria como navegar sem bússola. O cadastro de talhões, através do mapeamento obtido por levantamento topográfico – muitas vezes informatizado em plataformas CAD – pode ser considerado o pontapé inicial da geotecnologia na silvicultura.
Neste ponto, mesmo que incipiente, quando comparada com o momento atual, ter uma base georreferenciada com informações cadastrais básicas já auxiliava operações e os gestores na tomada de decisão no desenvolvimento das atividades. Em paralelo, a utilização de imagens de satélites promoveu um salto adiante no uso agregado das geotecnologias como provedora de informações para a gestão florestal.
Neste momento, a escala temporal – determinada pelo intervalo entre as revistas do satélite sobre a área de interesse – era uma questão a ser enfrentada, pois em períodos de grande nebulosidade, ficava-se meses sem uma boa imagem para trabalhar. Havia também a questão da resolução espacial, pois produtos com alta resolução eram extremamente caros, e apesar das dificuldades na aquisição de imagens com boa porcentagem de aproveitamento, com o tempo, a construção de bibliotecas cênicas permitiu a incorporação de análises multitemporais no dia a dia da silvicultura.
Com a disseminação do monitoramento meteorológico automático dos plantios, ocorrido em meados da década de 1990, novas camadas de informação passam a ser trabalhadas dentro de sistemas GIS (Sistema de Informações Geográficas) através de ferramentas de interpolação. Com isso, os gestores e usuários envolvidos nas operações silviculturais dispunham de um grande volume de informações espacializadas que possibilitaram o cruzamento entre as fontes, as simulações com interpoladores diferentes, a criação de cenários de produtividade considerando várias condições de solo, clima, relevo, entre outros, abrindo, dessa maneira, uma nova seara na produção florestal.
Graças a evolução do processamento computacional ocorrida em paralelo com a massificação da cultura geo – lembremos que o Google Earth surge 2001 e o Google Maps em 2005, ambos popularizando o acesso das pessoas aos mapas – não só municiou o mercado silvicultural, como também capacitou pessoas de diversas formações, trazendo outros olhares para o meio.
E foi exatamente a diversidade de perspectivas que promoveu os avanços dentro da silvicultura. Resultados de pesquisas desenvolvidas tanto em empresas como nas universidades, foram absorvidas através do emprego de novas técnicas de manejo e conservação. Dessa forma, é inegável afirmar que as geotecnologias não se limitam apenas ao fornecimento de dados, elas transformaram a silvicultura, influenciando a forma como é feito o manejo florestal, maximizando retornos, reduzindo custos, aumentando a produtividade e otimizando processos.
A implantação de corredores ecológicos foi facilitada a partir do uso de dados espaciais, sendo impossível imaginar a aplicação do conceito de manejo de paisagem sem o uso de geoinformação. Cito também avanços na proteção florestal mediante análises multiparâmetros na identificação e desenvolvimento de algoritmos de alerta para pragas e doenças do eucalipto, bem como na modelagem de risco de incêndio. E não podemos esquecer da gestão hídrica em plantios florestais que é sempre um ponto sensível e que com as possibilidades oferecidas pelas geotecnologias passou a ser muito mais assertiva tanto no que se refere ao monitoramento quanto no desenvolvimento de sua modelagem.
Já no fim dos anos 2000, o termo silvicultura de precisão ganhou força e permeou os centros de pesquisas florestais pelo mundo. A ampliação dos produtos satelitais, seu barateamento e melhoria na qualidade das imagens, associada ao uso de drones, a coqueluche daquele momento, permitiu que as informações fossem produzidas a qualquer tempo, dando mais autonomia aos usuários e reduzindo os custos de produção dos dados. A partir daí, todo talhão poderia ser imageado e/ou fotografado, tendo seu desenvolvimento acompanhado quase que instantaneamente.
Geotecnolgias, base para um futuro promissor da silvicultura: O drone como ferramenta é um grande marco na geotecnologia. A possibilidade de municiar cada equipe de campo com um drone com uma câmera fotográfica embarcada elevou o nível da geotecnologia aplicada na silvicultura a um patamar nunca vivenciado.
Claro que este avanço teve que superar questões como a dificuldade no processamento de tantas imagens capturadas, na identificação de indivíduos e na separação entre espécies através de técnicas de sensoriamento remoto. Dificuldades essas que se ampliaram com o surgimento de sensores LiDAR embarcados, que detalha o espaço com precisão milimétrica, sendo certo que a resolução dessas demandas abriu muitas possibilidades para o manejo silvicultural, especialmente para o inventário florestal.
Atualmente o estado da arte da geotecnologia aplicada na silvicultura está representada nos seguintes usos:
• Big Data Geoespacial: A explosão de dados geoespaciais gerados por uma variedade de fontes, incluindo sensores remotos, dispositivos móveis e estações de monitoramento, está impulsionando o desenvolvimento de técnicas de análise de big data geoespacial. Isso inclui algoritmos do tipo machine learning e inteligência artificial para análise de padrões espaciais, previsão e tomada de decisões.
• Internet das Coisas (IoT) Geoespacial: A integração de sensores geoespaciais em equipamentos de monitoramento cria um ambiente de IoT geoespacial. Isso permite a coleta contínua de dados em tempo real sobre o ambiente e árvores individuais aumentando a compreensão das interações floresta-ambiente.
• Geotecnologia para Inteligência Artificial: A geotecnologia está sendo integrada a algoritmos de inteligência artificial para uma variedade de aplicações, incluindo detecção de mudanças no uso da terra, identificação de espécies individuais e doenças a partir de imagens aéreas, previsão de eventos climáticos extremos, otimização de recursos operacionais, entre outras.
Esta rápida revisão do histórico do uso das geotecnologias na silvicultura serve para percebermos o quanto avançamos. Não há dúvidas que a geotecnologia tem enorme participação no aumento da produtividade florestal experimentada nos dias de hoje, seja na melhoria do manejo, na conservação hídrica e do solo, seja no aproveitamento de regiões antes consideradas inaptas para a silvicultura.
Esse tema não se esgota por aqui e à medida que novos desafios surgirem, novas tecnologias despontarão, criando um círculo virtuoso de avanço, de oportunidades e de aperfeiçoamento da maneira como produzimos florestas plantadas.