Coautoria: Luís Thadeo Poianas Silva, Professor da Faculdade de Ciências Agronômicas, do Departamento de Proteção Vegetal da Unesp
O Brasil é referência mundial na produção de eucalipto, por sua atuação pautada em sustentabilidade, competitividade e inovação. Um dos componentes mais importantes, na garantia da produtividade, depois da resistência, é o manejo integrado de pragas e doenças. Dentre as doenças, se destacam as que atacam o sistema radicular, do tronco, do sistema vascular, e as foliares. No presente artigo, iremos focar as doenças foliares de origem bacteriana, que englobam um grupo de patógenos com certa similaridade morfológica, necessitando de estudos bioquímicos e moleculares para a caracterização desses patógenos.
Os danos se iniciam no viveiro onde causam redução da produtividade de mudas e podem seguir para o plantio definitivo, onde podem causar desfolhas intensas, seca de ramos e dos ponteiros e mortalidade das plantas, conforme a espécie do patógeno envolvida.
O eucalipto e as doenças bacterianas:
A área com cultivos florestais no Brasil é de mais de nove milhões de hectares. Esses plantios estão localizados, principalmente, nos estados da Bahia, de Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais e de São Paulo. Diversas espécies de Eucalyptus são cultivadas no mundo, e, no Brasil, com alta produtividade, devido ao melhoramento genético e aos programas de Proteção Florestal, que garantem ao setor florestal brasileiro ser um dos mais competitivos mundialmente. O setor de base florestal representa 1,2% do PIB Nacional, com receita bruta total de R$ 97,4 bilhões, gerando renda para 3,75 milhões de brasileiros. Entretanto, o plantio do eucalipto em grandes maciços homogêneos, com poucas espécies/clones, favorece a ocorrência de doenças e pragas, com prejuízos econômicos.
As doenças bacterianas mais conhecidas, no eucalipto, são as murchas vasculares, causadas por Ralstonia solanacearum, as manchas de folhas, com o complexo Xanthomonas sp. e Pseudomonas sp., as manchas foliares, a seca deponteiros em jardim clonal e a seca de ramos e dos ponteiros por enterobactérias (vide Tabela).
A murcha de Ralstonia foi reportada no Brasil, pela primeira vez, no início da década de 1980, no município de Prata, Minas Gerais, em plantios de Eucalyptus grandis. Em 2005, foram estimadas as perdas de mudas e propágulos na fase de multiplicação de estacas e concluiu-se que a doença resultou em elevadas perdas econômicas em viveiros de eucalipto nos estados da Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais e Pará, totalizando um prejuízo estimado em R$ 50 milhões.
A mancha bacteriana causada pelo complexo bacteriano Xanthomonas sp. e Pseudomonas sp. obteve seus primeiros registros na metade da década de 1990 em mudas de Eucalyptus spp., em viveiros do estado de São Paulo. Em um levantamento feito entre os anos de 2003 e 2008, em doze viveiros nos estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, foram perdidos cerca de R$ 15 milhões, com descartes de 11.266.819 de mudas e 553.991 minicepas.
Por fim, a seca de ponteiros do eucalipto, primeiro causada por Erwinia psidii, originou-se inicialmente no Uruguai e na Argentina e, posteriormente, no Brasil. Entre os anos de 2010 e 2016, no Sul do Brasil, cerca de 314 hectares de áreas com plantios de eucalipto foram afetados pela doença, com média e alta severidade, reduzindo crescimento em altura e em circunferência à altura do peito (CAP). Até que, em 2019, encontraram o gênero Pantoea e outras enterobactérias, associadas aos sintomas.
Portanto, percebe-se a real necessidade de serem aprofundados os estudos com relação às fitobactérias relatadas, visando esclarecer a interação entre elas e os danos crescentes aos plantios florestais, pois o controle de doenças bacterianas em plantas é geralmente difícil, tornando-se praticamente impossível após o início da epidemia.
O manejo deve ser iniciado no jardim clonal, e a adoção de medidas, ainda no viveiro, para evitar que esses patógenos cheguem ao campo. Consiste o objetivo do presente trabalho evidenciar as medidas de controle e o manejo para esse importante grupo de fitopatógenos.
Manejo das doenças bacterianas:
Temos salientado, em nossos cursos in company de “Manejo Integrado de Doenças de Viveiros (MIDV)”, que as medidas de assepsia e limpeza são fundamentais para se caminhar ao “marco zero” das doenças bacterianas, aliadas a um método de diagnóstico preciso.
Esses inimigos do viveiro podem adentrar as instalações pelos tubetes, com sujidades que chegam do campo, pelo substrato utilizado na formação de mudas, pela água de irrigação, pelas mudas e os clones que formam o minijardim e pelos caminhões utilizados para o transporte dos insumos.
Dentro do MID-Viveiro, se preconiza dentro das medidas preventivas, resumidamente: ter um layout adequado, separando-se a área contaminada (recepção de tubetes, batedouro e lavador de tubetes) da área de jardim clonal e estaqueamento. Assim como o depósito de insumos deve ser externo a essa área. O trator para adentrar com tubetes e insumos deve passar por uma piscina com cloro, denomidada pé-de-lúvio, retirando a sujidade dos pneus. Proceder ao tratamento dos tubetes e bandejas com água aquecida (a 85 oC por 1 minuto). Periodicamente, fazer o teste PCR, com primers específicos da água e do substrato, assim como das mudas expedidas.
Fazer visitas periódicas em todas as partes do viveiro: jardim clonal, casas de vegetação e área de crescimento e expedição. Ao localizar plantas com sintomas, fazer a diagnose de campo; na dúvida, encaminhar material para o Laboratório de Patologia Florestal/FCA, para diagnose laboratorial.
A erradicação das touças e plantas doentes é uma medida adequada às enterobactérias e à murcha de Ralstonia. Para as manchas foliares, marcar as touças e fazer aplicação de bactericida e ou indutor de resistência, autorizados.
Em clones muito suscetíveis a enterobactérias e murcha de Ralstonia, fazer a substituição desses clones por materiais resistentes. A inspeção das mudas para serem enviadas ao campo deve ser feita por pessoas treinadas na diagnose visual; para manchas de Xanthomonas/Pseudomonas, as mudas devem estar isentas de manchas e com mais de 10 pares de folhas. Para as enterobactérias e Ralstonia, que são endofíticas nessa fase, fazer o teste PCR periodicamente, com primers específicos.
No caso de as mudas infectadas chegarem e serem plantadas no campo, os danos e os prejuízos podem ser muito elevados, pois ainda não existem medidas efetivas de controle para essas doenças bacterianas.