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Arthur Igreja

Palestrante TEDx e Master em Intl. Business pela Georgetown University-EUA

OpCP79

Formação profissional versus automação na era da IA
Desde o final de 2022 vivemos intensamente a era da IA generativa em que grande parte das empresas e profissionais buscam entender quais são os impactos e oportunidades que essa camada de tecnologia traz. Seria exagero? É preciso compreender duas características essenciais da IA generativa que justificam grande parte da atenção que o tema vem recebendo: ela é uma tecnologia de uso geral e que impacta fortemente pela primeira vez a forma como fazemos tarefas dentro da chamada economia do conhecimento. Vamos por partes.
 
Tecnologias que causam os impactos mais profundos são aquelas que têm aplicações transversais, ou seja, potencial em praticamente todas as áreas da economia e atingem grande parte da população. Foi assim com o vapor, a eletricidade, a internet, smartphones e agora com a inteligência artificial. Para que ela serve? 

A resposta é a mesma para todas as gerações tecnológicas mencionadas: depende unicamente de como será aproveitada, pode ser livremente moldada e permite a construção de soluções inéditas. É uma plataforma de desenvolvimento ao invés de ser algo com destinação específica e definida. 

O segundo ponto é que a IA muda pela primeira vez a forma como construímos o conhecimento. Vivemos por décadas um longo processo de digitalização da economia. Tudo aquilo que era anotado em um caderno se tornou uma planilha em um computador. Em um segundo momento, esses mesmos dados passaram a ser inseridos em algum software mais elaborado como um ERP ou um CRM. 

Note que o processo ainda era fundamentalmente o mesmo, dados inseridos por pessoas, o que mudou foi a forma de armazenamento, do papel para os arquivos. Com a chegada da internet vivemos a revolução da distribuição. Se antes a informação chegava até mais pessoas por meio de jornais e revistas, passa a estar instantaneamente disponível para muitas pessoas. 

Foi também o início do fim do broadcast, a distribuição com o mesmo formato para todos. Passamos a ter nossas timelines curadas por algoritmo, o conteúdo que uma pessoa recebe é completamente diferente daquilo que outra pessoa receberá, vide Spotify e Netflix.

Nessa época, considerava-se que o futuro da capacitação consistia em dois pilares: formação com base tecnológica e a economia do conhecimento ou economia criativa. Isso porque o emprego de tecnologia nunca parou de crescer e porque, ao trabalhar com conhecimento, estaríamos nos afastando da mecanização das tarefas repetitivas e que demandam esforço físico. No século XIX e ao longo do século XX, vimos a substituição de pernas e braços por tratores, robôs e impressoras 3D. É justamente aqui que muda tudo com a chegada da IA generativa, ela redefine o que é trabalho. 

Explico: lembra-se da tarefa que era feita no papel e foi para o computador e depois para um smartphone? Ela continuava a ser feita de uma forma muito parecida, dependia de um processo realizado ou supervisionado por uma pessoa em sua totalidade. 

Exemplificando: um texto, um relatório, uma análise, um gráfico, uma apresentação de Powerpoint ou um desenho. Avance para a era ChatGPT. Nós passamos a descrever (prompt) qual é o alvo e todo o processo é feito por IA. 

Fica perfeito? Não, mas pouco importa. O tempo para corrigir ou ajustar é imensamente menor do que o tempo para realizar a tarefa a partir do zero. Isso não apenas traz um salto de produtividade, mas altera o cerne deste artigo que é: o que ainda continua relevante em nossa formação profissional? Como será o trabalho a partir de agora? Perceba que, assim como máquinas substituem braços e pernas, estamos convivendo pela primeira vez com uma tecnologia que pode substituir cérebros.

Muito longe de achar que isso é necessariamente distópico. Alguns acreditam que ficaremos obsoletos e sem serventia ou significado. Acredito exatamente no oposto. O que a IA nos pressiona e causa uma boa dose de desconforto é que ela questiona o que de fato é valioso naquilo que fazemos. Ela passa a automatizar e substituir aquelas tarefas que enquadramos como “correria”. 

Tarefas que são execução pura (inserção ou processamento de informação). Paradoxalmente, a IA pode eliminar a parte robótica do nosso cotidiano e despertar os aspectos humanos mais singulares. Na prática, isso significa não ter receio, conhecer cada vez mais a fundo como a IA pode nos ajudar e focar no conhecimento mais core de nossas carreiras. E obviamente que a parcela mais valiosa sempre estará na atuação mais estratégica e, principalmente, nos relacionamentos.

Na agricultura e na silvicultura não será diferente. Se, em um primeiro momento, parece que as ferramentas de IA generativa estão mais ligadas ao mundo da produção de conteúdo (texto, imagens e vídeos) e parecem mais distantes destes segmentos, lembre-se que foi exatamente o que aconteceu com a chegada da internet. É cedo demais para se tornar cético.
 
Vimos nas últimas décadas uma drástica mudança na atuação no campo e nas florestas. Se antes eram sinônimo de atividades penosas, repetitivas e pouco tecnológicas, hoje vivemos uma realidade de alta produtividade, profissionalização, dados e muita tecnologia. Todos formam a base onde essa próxima camada chamada IA vai sendo conectada aos poucos.

Conclusão: veremos uma curva de adoção e capacitação neste tema parecida com o que vimos na transição do final dos anos 1990 para o começo dos anos 2000. Muitos acharão que o tema não tem conexão com suas atividades atuais e deixarão de lado. Outros investigarão e acompanharão de perto, irão adotar IAs que aumentarão sua produtividade e irão expandir sua atuação profissional. Assim, serão capazes de colher antes os benefícios gerados. Ou seja, mudança tecnológica demanda mudança de mentalidade, sempre.