Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola
Op-CP-12
Colaboração: Francisco Graziano Neto, Secretário do MA-SP
A utilização de florestas como fonte de energia é tão antiga quanto a história da humanidade. O enfoque bioenergético procura resgatar essa característica, dando-lhe um cunho mais atual e propondo utilizações mais racionais, já que, tradicionalmente, a madeira foi e ainda é usada, basicamente, como lenha para a produção de energia.
E o que é mais surpreendente é que há uma complementaridade muito grande entre produção florestal e produção de alimentos. Basta que se use a terra de forma racional, utilizando como base a classe de capacidade de uso do solo. Acrescente-se a isso o fato de ainda haver um enorme espaço para usos adicionais no leque de alternativas energéticas, como, por exemplo, a complementação da geração de eletricidade, por meio de usinas termoelétricas das agroindústrias sucroalcooleiras, através de madeira produzida pelo manejo sustentado de florestas; utilização de óleos vegetais combustíveis, extraídos de plantas florestais, resultando no bio-óleo; o uso de gasogênios à lenha ou a carvão vegetal para produção de calor ou acionamento de motores; o incentivo à utilização da lenha para cocção nas áreas rurais, bem como a criação de uma rede de usinas de carbonização produtoras de carvão vegetal, ácido pirolenhoso e outros produtos.
Propostas para o setor florestal, como produtor de bioenergia, são calcadas na perspectiva da utilização das florestas não só como insumo energético, como também fixador de carbono na biomassa. No estado de São Paulo, recentemente, foi produzida uma série de estudos, visando à proposição de uma política de bioenergia articulada e de longo prazo. Ficou patente que a utilização tanto da madeira, quanto de seus resíduos, como fonte de energia em território paulista, atualmente, ainda é pequena e tem um perfil “tradicional”.
Tal característica, no entanto, apresenta um potencial de crescimento diferenciado, seja pelo desenvolvimento ou adoção de novas tecnologias, seja pela utilização de terras que não são adequadas à produção de alimentos, seja ainda pelo baixo custo de produção de uma unidade energética, comparativamente a outros produtos bioenergéticos ou aos atuais preços do petróleo. Uma tonelada de lenha substitui 33% de uma tonelada de óleo combustível, que também pode ser substituída em 67%, por uma tonelada de carvão vegetal.
O estado possui mais de 3,5 milhões de hectares de terras com aptidão florestal – aquelas que não competem com a produção agropecuária, ou seja, basicamente de alimentos – os quais podem ser usados para o plantio de até 800 mil hectares, visando à produção florestal bioenergética, cujo potencial de produção por hectare rivaliza com o da cana-de-açúcar. Tais plantios deverão ser realizados através de projetos, sob o tríplice enfoque de:
a. cadeia produtiva;
b. uso múltiplo e,
c. prestação de serviço ambiental - principalmente, quanto à manutenção da biodiversidade, à produção de água e à fixação de carbono.
O estado possui 4,14 milhões de hectares utilizados com florestas e outros tipos de vegetação nativa. Para se atingir um índice de equilíbrio, seria preciso plantar florestas naqueles outros mais de 3,5 milhões de hectares, liberando terras hoje com florestas, para produção alimentar. Esse parâmetro foi obtido através do procedimento científico da aptidão florestal das terras, levando-se em conta, fundamentalmente, a sua capacidade de uso para fins agrícolas, que determina que se tenha floresta onde é adequado existir floresta, que se preservem os locais que precisam ser preservados e que se utilizem agropecuariamente as áreas indicadas para isso.
A superfície necessária para fins energéticos, foi calculada através de projeções de crescimento da demanda, tomando por base taxas anuais, verificadas nas últimas décadas. Projetando-se para 25 anos, com uma produtividade média estimada em 40 m3/ha/ano, resultou em 780 mil hectares, as necessidades de florestas para energia.
É importante considerar que durante esse período e com a adoção de uma política oficial de bioenergia, esse cenário pode ser bastante modificado. Por exemplo, a produção de energia elétrica para cogeração, feita por cavacos de madeira – plantadas em áreas de reserva legal, com aptidão florestal – em usinas de cana-de-açúcar, durante o período de entressafra, poderia redundar em um acréscimo de demanda de quase 13%.
Outro parâmetro considerado foi a comparação entre estimativas de custo de produção médio de uma unidade de energia gerada pelas culturas da cana-de-açúcar e do eucalipto, que em uma primeira análise apresentam potencial semelhante de produção de bioenergia por área e são muito eficientes na produção energética.
Assim, as florestas, notadamente as de eucalipto, podem vir a ser uma opção interessante para a produção de bioenergia, pela agropecuária paulista. A existência de uma considerável extensão de terras com aptidão florestal, localizadas em várias regiões do estado, aliada a uma rentabilidade atraente por unidade de área, são elementos importantes no fomento da atividade.
O desenvolvimento de tecnologias que aproveitem mais intensivamente o potencial energético da floresta poderá, em um futuro não muito distante, gerar novos pólos de desenvolvimento, baseados na utilização de madeira como matéria-prima. A estruturação de uma proposta nesse sentido deve, portanto, englobar atividades como zoneamento, regionalização, suporte político institucional e desenvolvimento científico e tecnológico, sustentadas por ações, como assistência técnica, fomento, produção de sementes e mudas, alternativas produtivas e substituição de fontes energéticas.