Diversos fatores vêm deixando a questão dos incêndios florestais cada vez mais grave e complexa, relacionados especialmente à grande expansão das florestas plantadas e à sua interação com o ambiente e com as questões sociais. Para fazer frente a esse cenário, é fundamental adotar uma estratégia ampla para a proteção, passando por monitoramento, prevenção e combate aos incêndios.
Um dos primeiros passos é conhecer o ambiente em cada local e determinar os graus de risco e os recursos possíveis, no espaço e no tempo, para atuar nos pilares monitoramento, prevenção e combate.
Evidentemente, não esquecendo que existem períodos críticos para diversos aspectos, sejam ambientais – como períodos de seca atipicamente longos –, sociais – como conflitos pontuais por terra ou pela própria madeira –, e até econômicos – como crises, nas quais os recursos financeiros para a proteção podem ficar mais escassos.
A partir desse ponto, deve-se traçar o plano contra incêndios, na medida do risco que a empresa está disposta a correr, procurando não subestimar as possíveis consequências dos incêndios e olhar o investimento considerando a sinergia com outras atividades e recursos disponíveis na empresa. Pensar estrategicamente para montar a estrutura de combate a incêndios passa também por integrar seus pilares com o ambiente, com outras atividades e com os demais recursos existentes na empresa.
Assim, por exemplo:
? O monitoramento de incêndios pode ser integrado ao controle espacial dos recursos de combate, como também ao monitoramento patrimonial e colaboração da comunidade local.
? A prevenção de incêndios pode andar junto:
• Com a educação ambiental e outras interações com as comunidades;
• Com o manejo de ervas daninhas (os incêndios são menos intensos, com consequências mais brandas para a floresta, quando existe menor quantidade de sub-bosque).
? O combate aos incêndios pode ser baseado em veículos e equipes multifuncionais.
Recursos exclusivamente voltados para o combate aos incêndios na empresa florestal implicam veículos e pessoal parados, sem atividade na maior parte do tempo, o que gera um custo muito alto e, normalmente, não proporciona ação tão eficiente quanto contar com uma estratégia, na qual o recurso de combate é integrado às outras atividades. Até os bombeiros militares, que têm como um dos focos principais o combate aos incêndios, contam com veículos multifuncionais (veículos ABS: autobomba e salvamento) na sua estratégia de combate a incêndios.
A eficiência no combate a um foco de incêndio depende: • do tempo entre início do foco e detecção do mesmo; • do tempo entre a detecção e o acionamento da equipe de combate; • do tempo de deslocamento da equipe até o foco; • da capacidade da equipe de extinguir o foco (autonomia e poder de combate por unidade de tempo).
Quanto menor o tempo entre início do incêndio e início do combate, mais fácil é a operação de combate e menor é a área queimada. Portanto minimizar esse tempo deve ser meta fundamental da estratégia de proteção, adotando medidas como:
• sistemas eficientes de detecção dos focos;
• sistemas eficientes de comunicação da ocorrência dos focos para as equipes de combate;
• planejamento da alocação dos recursos de combate, priorizando as áreas críticas quanto à frequência e à intensidade dos incêndios;
• ter um número maior de equipes de combate espalhados na floresta;
• ter equipes com maior mobilidade.
Os sistemas de detecção podem se basear desde na parceria com a comunidade e canal para esta comunicar a ocorrência, passando por torres com vigias, até nos sistemas com câmeras ou satélites. Para cada situação, deve-se estudar a viabilidade técnica, operacional e econômica para adoção de um desses métodos ou, de preferência, de um conjunto deles.
A partir desse ponto, passa a ser fundamental a comunicação eficiente para acionamento de uma equipe de combate disponível, o que deve estar bem claro nos procedimentos operacionais.
Foco detectado e equipe acionada, o ponto limitante passa a ser a agilidade da equipe para chegar ao local. Além de depender da rede de estradas e de sua conservação, o conjunto veículo mais equipamento pode fazer muita diferença. No entanto pensar em ganhar agilidade no deslocamento pode implicar prejudicar o desempenho da etapa seguinte, o combate.
Ou seja, veículos mais leves são mais ágeis, mas têm menor capacidade de carregar água e equipamentos, implicando menor autonomia e/ou poder de ataque (poder de extinção do fogo por unidade de tempo, por exemplo, vazão de água). Para aumentar a mobilidade sem prejudicar a capacidade de extinguir um incêndio, só há um modo, que é compensar o menor poder de carga do veículo com uso de tecnologia.
Um caminhão-pipa carregado de água é lento. A água é o melhor material, em termos de custo/benefício, para o controle do incêndio, mas só em alguns casos, pois a água não é o material mais eficiente. Com tecnologia, é possível empregar, por exemplo,
veículos leves, levando pouca água e equipamentos que multiplicam o volume de água em 10, 20 ou mais vezes na geração de espuma, economizando água e sendo 5 a 15 vezes mais eficiente do que o uso apenas de água. A maioria dos focos de incêndios em florestas plantadas é rasteira, pouco intensa, onde é mais importante a autonomia do que a vazão (água, espuma, etc.).
Em alguns desses casos, quando não existe sub-bosque, aquela equipe com veículo de alta mobilidade ainda pode utilizar, por exemplo, sopradores costais, com ou sem água (uns 0,3 litros/minuto), misturada com um supressante de chama, sendo mais eficiente nesses focos do que uma mangueira jorrando muita água (100, 200, 300 ou mais litros/minuto), porque se consegue percorrer e extinguir a linha de fogo mais rapidamente com o soprador costal.
Para aumentar o número de equipes de combate e diminuir o tempo entre detecção e início do combate a incêndios, também existe possibilidade de utilização de veículos e equipamentos especiais, em equipes multifuncionais, para diversas atividades na empresa florestal, como:
• vigilância patrimonial;
• monitoramento de pragas, doenças e qualidade das operações;
• serviços de silvicultura, que são mais bem executados por equipes pequenas;
• supervisão de atividades, etc.
Nesse caso, empregar tecnologia no conjunto veículo mais equipamento também é fundamental para sobrar espaço e capacidade de carga para as outras funções da equipe, sem perder muito na mobilidade e na capacidade de combater os incêndios.
Muitas configurações ainda podem ser desenvolvidas utilizando essa estratégia. Uma das experiências mais bem consolidadas de multifuncionalidade na área florestal, incluindo o combate a incêndios, são as equipes de monitoramento florestal. Existe o investimento no equipamento de combate e, às vezes, até na carroceria especial para realização do serviço diversificado.
No entanto o que se observa é que a vida útil dos equipamentos, ou pelo menos de seus componentes principais, é bem maior do que o veículo, o que torna o investimento no equipamento muito compensador.
Não se pode esquecer que a estratégia precisa considerar recursos de maior poder de combate, para incêndios de grandes proporções. Mas, mesmo nesse caso, é possível pensar em multifuncionalidade (caminhões-pipa e atividades de silvicultura) e emprego de tecnologia para maior desempenho do combate, nesse caso, caminhões-pipa com, por exemplo, equipamentos de tipo CAFS – Compressed Air Foam System –, que geram muito mais espuma com a mesma quantidade de água, valendo-se de ar comprimido a partir de compressores rotativos.
Outros aspectos igualmente importantes englobam ações preventivas, especialmente em locais críticos, treinamento de todas as equipes envolvidas, com simulação de situações de incêndios e testes regulares nos equipamentos de combate.
A estratégia mais eficiente para estabelecimento de um plano de prevenção, detecção e combate aos incêndios é considerar todos os aspectos, procurando aplicar tecnologia e integrar recursos.