A vocação florestal do Brasil é inquestionável. Por ser um país continental, reúne condições excelentes para o cultivo de árvores, com vantagens em relação à dimensão de área física, solos, climas e potencialidades produtivas. De acordo com o último relatório anual da IBÁ, a cadeia florestal brasileira gera cerca de 2,7 milhões de empregos diretos e indiretos e representa, atualmente, 0,9% do PIB (Produto Interno Bruto).
A sustentabilidade é uma das forças desse segmento. As comunidades inseridas em áreas florestais quase sempre entregam índices de desenvolvimento superiores à média da região onde estão instaladas. Mais de 6,9 milhões de hectares são destinados à conservação da vegetação nativa, e as atividades do setor sequestram 4,9 bilhões de toneladas de CO2 da atmosfera todos os anos, evidenciando o setor como um importante aliado à agenda ESG.
Neste contexto, o Brasil se consolidou como um dos maiores produtores de florestas plantadas do mundo. Ao longo da última década, observou-se um aumento de cerca de 40% dos plantios florestais. Atualmente, o país conta com mais de 10,2 milhões de hectares e com expectativa de continuidade no crescimento para os próximos anos. Estamos tratando de um setor pujante, que entrega bons números e possui ótimas oportunidades de desenvolvimento.
O futuro das florestas plantadas no Brasil é próspero, o que não impede de termos de enfrentar desafios relevantes, que precisam ser trabalhados de forma consistente para assegurar o ritmo de crescimento dos últimos anos. O primeiro deles passa pelas pessoas. Estamos atravessando um período de escassez de profissionais em diversos níveis, do operacional aos cargos de liderança.
O desafio de engajar os jovens neste setor não é uma tarefa fácil, mas acredito que o caminho passa por bons programas de desenvolvimento de pessoas. Apostar em uma trilha de formação continuada, customizada para as diversas realidades e estabelecer rotinas claras de meritocracia certamente trarão resultados. O envolvimento colaborativo com instituições de ensino também apresenta boas oportunidades.
Na ArcelorMittal, por exemplo, firmamos recentemente uma parceria com o Departamento de Engenharia Florestal da UF-VJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) que já está gerando valor e resultados. A iniciativa conta com estágios supervisionados, projetos especiais e metas claras, tudo isso com engajamento dos professores, estagiários e profissionais da empresa.
Acredito que, ao final de cada ciclo, teremos jovens profissionais preparados e com potencial interesse em permanecer conosco. Outro desafio relevante diz respeito à inovação. É necessário e fundamental para a perenidade do setor florestal investir e impulsionar as inovações. A mecanização está avançando em ritmo ascendente e abrindo caminhos promissores para a autonomação, com destaques em processos importantes como o plantio, a irrigação e o controle da matocompetição.
Diversas iniciativas nessa linha estão em curso no setor, e, à medida que elas estiverem consolidadas, certamente teremos um ponto de inflexão nestas operações, com ganhos em segurança, qualidade, produtividade e custo. A inteligência artificial possui destaque no universo das inovações, e vejo que o setor florestal está atento.
Diversas soluções estão implementadas e gerando valor na cadeia produtiva, mas obviamente existe um caminho a ser explorado, com inúmeras oportunidades. Nesse contexto, destaco um aplicativo florestal, uma solução exclusiva desenvolvida entre o AçoLab, o laboratório de inovação aberta da ArcelorMittal e uma startup.
Trata-se de uma solução que utiliza IA para prever o risco de infestação de pragas, exceto formigas cortadeiras, em florestas plantadas. Basicamente o aplicativo coleta dados de diversas fontes, como informações meteorológicas, histórico do plantio e padrões das ocorrências, para criar um modelo preditivo. Por meio das saídas do aplicativo, o gestor direciona a tomada de decisão para o combate.
Em nosso caso, desde a implantação da solução, optamos pelo MIP (Manejo Integrado de Pragas) e, por conta da agilidade e assertividade na predição das ocorrências, potencializamos o controle com inimigos naturais nas áreas, tornando a estratégia de combate ainda mais robusta e eficiente. Como resultado concreto, reduzimos drasticamente o uso de químicos no controle de pragas em nossas operações. Além das vantagens socioambientais, entregamos ganhos financeiros importantes ao negócio.
Por fim, mas não menos importante, um desafio permanente em nosso setor, que não foge à regra nas demais atividades econômicas do país, é a busca contínua pelo controle de custos. Nos últimos anos, vivenciamos aumentos expressivos nos custos florestais. A contratação de serviços, aquisição de máquinas, implementos e insumos estão se tornando um enorme desafio para o setor. Obviamente, essa condição aumenta a exaustão da madeira e pressiona o restante da cadeira produtiva.
Ocupar-se do tema é necessário, e a gestão florestal assume um papel cada vez mais estratégico para as empresas. Construir pacotes tecnológicos robustos, com diretrizes claras e otimizadas, focadas em expressar o potencial produtivo de cada unidade de manejo é fundamental. Além disso, acredito que devemos promover estratégias robustas de compras, que acompanhem as tendências, inovações e capturem rotineiramente as melhores oportunidades do mercado.
Mesmo diante deste contexto desafiador, continuo acreditando no poder do básico “bem-feito”. Devemos investir esforços para alcançar a excelência operacional. A disciplina, a perseverança e a busca pelas melhores práticas sempre farão muito bem para a formação de florestas produtivas.