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Fábio Luis Brun

Diretor para a América do Sul da RMS Administração de Florestas

Op-CP-15

A crise e o mercado florestal brasileiro: perspectiva do investidor

Há um consenso geral de que a produção de florestas plantadas na América do Sul e, em especial, no Brasil, beneficia-se de características particulares regionais, que produzem um significativo diferencial comparativo. De maneira geral, há disponibilidade de grandes áreas reflorestáveis, ambiente e clima favoráveis, custos operacionais competitivos e desenvolvimento tecnológico satisfatório.

Muito embora essas características estejam especialmente evidentes no Brasil, as particularidades do mercado florestal local no passado pouco contribuíram para que investimentos florestais de origem internacional fossem atraídos na mesma escala observada em outros países. Protecionismo, insegurança legal e econômica, problemas de cunho social e, de certa forma, a conformação dos mercados - concentrado em eucalipto, disperso em pinus, estão entre os elementos que sempre foram cuidadosamente pesados quando havia interesse externo em investir.

Em função destes, e por determinadas facilidades fiscais, as empresas tradicionais de produtos de madeira – altamente integradas e verticalizadas – alguns pequenos/médios empreendedores locais e, indiretamente, o Estado, foram essencialmente os únicos reais investidores em florestas plantadas no país.

A condição de longo prazo intrínseca à produção de madeira também sempre limitou o interesse de pequenos investidores, uma vez que o valor aplicado no estabelecimento da floresta – geralmente alto – necessariamente se imobiliza por vários anos, até sua realização. Apesar do baixo risco, a pouca liquidez do negócio, portanto, impossibilita a exploração dessa oportunidade, por uma vasta gama de potenciais investidores.

A estabilização da economia nos anos 90 e a sua posterior consolidação produziram a condição básica para que novos investidores pudessem considerar mais seriamente a hipótese de financiar projetos florestais no país. Ainda nessa década, o efeito produzido por uma economia mais previsível e por uma base legal mais definida possibilitou a entrada de investimentos por intermédio da atividade de TIMOs - do inglês Timberland Investment Management Organizations, organizações de objeto florestal, comuns em países como Estados Unidos e Canadá, mas sem grande apelo no Brasil.

A proposta de se criar florestas rentáveis em si mesmas passou a ser uma alternativa concreta às florestas comumente integradas dentro de um processo fabril. Interessante, pois, paradoxalmente, em inúmeros casos, florestas são absolutamente necessárias para a obtenção do produto final, mas representam apenas um item de custo no balanço final e, muitas vezes, nem o principal item.

Não é incomum, portanto, que não ocorra a devida remuneração do uso da terra por essas empresas, conceito comum em praticamente todos os países de grande tradição florestal.
O significativo incremento da participação de parceiros florestais e fomentados no abastecimento de indústrias de base florestal também impulsiona hoje a criação de um mercado florestal real e efetivo.

Enfim, os fundamentos que permitem o investimento estrangeiro no Brasil estão devidamente estabelecidos.
A crise financeira mundial, que tecnicamente se iniciou em 2007, tem, evidentemente, impactado diversos negócios de base florestal no país – especialmente os que tinham como objetivo maximizar as vantagens comparativas locais por intermédio da exportação de seus produtos.

 

A original lógica de que há oportunidades em crises, mesmo quando da gravidade da atual, sustenta-se também nesse caso. Para efeito deste artigo, vamos desconsiderar a hipótese de investimento em greenfields – o que por si mereceria um artigo distinto – e focalizar no investimento em florestas formadas. De maneira simplista, há duas oportunidades proporcionadas por essa situação, no curto prazo, para proprietários florestais:

a) Empresas grandes e fortemente integradas podem considerar a liberação de seus ativos florestais como forma de suprirem-se financeiramente e consolidar/fortalecer sua base manufatureira, reposicionando-se de forma mais sólida, para colherem os frutos de um eventual upturn futuro dos mercados.
b) Pequenos e médios proprietários florestais passam a considerar a hipótese de garantir recurso financeiro por intermédio da venda de seus ativos florestais e potencial utilização destes em meios econômicos mais líquidos – boa estratégia quando a crise é de crédito e liquidez, como a atual.

Para o investidor, oportunidades surgem da chance de penetrar em mercados antes considerados impermeáveis, em função da sua alta integração. As grandes empresas de papel e celulose, por exemplo, sempre consideraram estratégica a manutenção do seu recurso florestal próprio. Além disso e, evidentemente, a crise pode produzir a real necessidade de tornar ativos de baixa liquidez em dinheiro imediato, em alguns casos. As atuais taxas de câmbio são efetivamente favoráveis ao investidor externo e merecem citação, ainda que a geral alta volatilidade desse meio proíba considerá-las como uma vantagem definitiva.

Apesar de parecer evidente que o momento seja para investir, é importante considerar que alguns outros elementos da equação também foram afetados: o crédito não está mais tão disponível em condições favoráveis, quantitativa e qualitativamente; potenciais fundos investidores foram também impactados pela mesma crise e, portanto, reduziram sua capacidade de adquirir ativos; investimentos florestais continuam a competir com outros investimentos de alto retorno no Brasil (infraestrutura, agricultura); os preços de vários produtos de madeira estão muito abaixo do seu patamar histórico; e finalmente, há a expectativa da crise produzir um intervalo maior entre a execução do investimento e seu efetivo retorno, ditado basicamente pelo prazo para o consumo retornar aos patamares observados antes de 2007 – algo que não pode ser efetivamente previsto sem risco.

Há uma chance de que a atual crise ajude a estabelecer as bases para o funcionamento de uma economia florestal brasileira futura mais conforme com a lógica de que a produção florestal é um negócio em si, e não apenas um apêndice – embora essencial – de um processo manufatureiro.

Alternativas antes descartadas ou simplesmente desconhecidas para o uso da floresta plantada – como cogeração de energia, fixação de carbono e creditação, produção de biocombustíveis alternativos, como o etanol celulósico (promissor na madeira, que é essencialmente açúcar ultraconcentrado), devem ser consideradas pelo investidor como potencial upside futuro em sua avaliação de investimento. As condições atuais podem ser bem promissoras para investidores e vendedores. Quem sobreviver verá.