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Jorge Roberto Malinovski e Ricardo Anselmo Malinovski

Professores na UF-PR e na UNESP de Itapeva

Op-CP-06

Colheita e transporte de madeira: o avanço tecnológico e a academia

Para falar da academia referente ao ensino sobre colheita e transporte de madeira, necessitamos lembrar o foco de trabalho das atividades, que devem ser lecionadas para os futuros engenheiros. Devido às características inerentes ao objeto deste artigo, praticamente não podem existir divagações somente teóricas, pois este segmento é responsável pelo abastecimento de indústrias de transformação e, portanto, deve ser intrinsecamente ligado à prática de operações.

Para melhor entender a questão, faz-se necessário lembrar a evolução do uso de florestas no Brasil, ou seja, até os anos 70, praticamente eram só utilizados produtos oriundos de florestas nativas, porém, com a implantação e a manutenção de florestas plantadas, seja do gênero pinus ou eucalipto, iniciou-se um novo ciclo de produtos.

No início, simplesmente se adaptou máquinas e sistemas já utilizados para a exploração de florestas nativas. Posteriormente, quando realmente as florestas plantadas ganharam “valor”, desenvolveram-se sistemas adequados para a colheita das culturas florestais. Com a globalização, sistemas e máquinas para uso na colheita e transporte de madeira foram introduzidos no Brasil, e hoje são similares com outros países produtores de madeira homogênea.

Com o decorrer dos anos, o uso da madeira oriunda de reflorestamentos ganhou cada vez mais valor. Anteriormente, era comum utilizar toras somente acima de determinadas dimensões e com preço unitário relativamente baixo. Hoje, até a biomassa residual, oriunda da colheita de madeira, possui valor, e sistemas para coletá-la na floresta já fazem parte da atividade de muitas empresas florestais.

O setor de florestas plantadas ganhou respeito e representatividade no Brasil, e hoje é tratado como negócio e não mais como uma atividade isolada. A colheita e o transporte de madeira são atividades que estão, exatamente, entre a “produção de madeira” e a “transformação” da mesma, sendo, portanto, o elo de ligação na cadeira produtiva da madeira.

Desta forma, a maioria absoluta das empresas possui profissionais ligados a esta área, tornando-se, com isso, uma das áreas que mais emprega profissionais, no setor florestal. A interação entre as instituições de pesquisas e as universidades, com a questão, está diretamente relacionada com os fatores “tempo” e “desenvolvimento”. Se, por um lado, na década de 70, eram somente 3 cursos de engenharia florestal no Brasil, hoje são 35.

Também pode-se dizer que, para atender a uma demanda crescente do setor, foi criada uma nova variante, ou seja, o da engenharia industrial madeireira, que já conta com 4 cursos. Lembramos que, no início, as técnicas ensinadas aos alunos eram variantes da exploração de florestas nativas. Atualmente, são conceitos relacionados com sistemas de colheita e transporte de madeira, de alta tecnologia, onde não se discutem mais somente “motores”, mas sistemas, módulo de trabalho, planejamento operacional, rendimentos, custos de operação e, principalmente, a interface com a silvicultura e a indústria transformadora.

Muitos dos profissionais que saem do curso de graduação devem ter o espírito transformador, pois um grande nicho de trabalho é a criação de empresas prestadoras de serviço. Os cursos de pós-graduação, a nível de mestrado e doutorado, também têm contribuído para a profissionalização do setor e, na maioria das vezes, seus trabalhos de pesquisa são relacionados de forma científica, técnico/prática, com as atividades potencialmente usadas nas empresas florestais.

Institutos e fundações de pesquisas têm dado suas contribuições no aprimoramento do conhecimento da área, através de pesquisas que, em sua maior parte, são aplicadas diretamente na prática. Eles possibilitam também a organização de eventos (seminários, simpósios e congressos) para apresentar, discutir e difundir os conhecimentos práticos, por meio de atualizações periódicas de conhecimentos e práticas, utilizadas por empresas de ponta do setor.

Na década de 80, encontros de atualização em colheita e transporte de madeira preocupavam-se em difundir técnicas para se realizar estudos de tempos e rendimentos e cálculo de custos de operações. Esta forma era para tentar homogeneizar a apresentação de resultados e assim poder compará-los entre empresas. O custo de atividade era considerado um “tabu” e tratado como “segredo”. Hoje, com a profissionalização da atividade e a homogeneidade entre sistemas de colheita já se fala e se discute custos, com qualquer outro fator.

Com certeza, a profissionalização das atividades e o amadurecimento do setor trouxeram resultados positivos, e hoje, além de custos, discute-se: a relação com prestadores de serviço, logística, introdução de novas tecnologias, cadeia produtiva da madeira, gestão de pessoas, entre outros. Esta foi a tônica, por exemplo, do último seminário de atualização sobre sistemas de colheita e transporte florestal, ocorrido em agosto deste ano, em Curitiba, onde estiveram presentes mais de 800 participantes.

Este evento contou com uma efetiva integração entre técnicos de empresas tomadores e prestadoras de serviço, fabricantes e distribuidores de máquinas e equipamentos e a comunidade acadêmica. Portanto, os desafios da academia e das instituições de pesquisa, no sentido de manter a integração com as empresas florestais, fazem com que o estudo e o ensino das técnicas de colheita e transporte de madeira não sejam somente teóricos, mas diretamente relacionados com a responsabilidade do abastecimento fabril.