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Fausto Hissashi Takizawa

Diretor de Pesquisa e Relações Institucionais da TRC Agroflorestal

Op-CP-58

Brasil: importante player mundial na produção de teca de plantações
A primeira experiência brasileira para plantações puras de teca, com finalidade comercial, ocorreu em 1959, através da iniciativa do professor Helládio do Amaral Mello. Nessa experiência, a espécie já mostrou seu potencial como produtora de madeira nobre.
 
A partir de 1971, aconteceram as primeiras plantações em escala comercial no Mato Grosso, entretanto foi a partir do início da década de 1990 que se deu a maior aceleração da expansão em área plantada de teca no País, multiplicando a área em mais do que 4,5 vezes, e, segundo dados da Ibá, já são 93.957 hecatares.
 
O Brasil possui a maior da área plantada de teca na América Latina e, em breve, será o maior exportador de madeira dessa espécie oriunda de plantações. Segundo estatísticas oficiais de exportação de produtos agropecuários brasileiros, nos últimos 10 anos, somente a exportação de toras saltou de pouco menos de 10 mil metros cúbicos para mais de 140 mil metros cúbicos anuais, sendo a Índia o principal comprador mundial de toras.
 
No Mato Grosso e Pará, estão mais de 80% da área e mais de 60% são resultados de investimentos estrangeiros e que, em plantações de menor escala, despertaram interesse e impulsionaram produtores rurais e empreendedores locais a também entrarem na atividade como forma de complementar e diversificar a renda.
 
O seu ótimo crescimento e a alta qualidade estão relacionados à temperatura anual média entre 22 ºC e 27 °C, 1.500 a 2.500 mm de precipitação, com estação seca definida de até 5 meses, solo fértil com pH neutro a levemente ácido, profundo, bem drenado e sem impedimento físico.
 
As plantações apresentam grandes amplitudes na produtividade, com IMA entre 4 m3/ha/ano e 28 m3/ha/ano e média de 15,5 m3/ha/ano; estão em regiões sem restrições climáticas para o ótimo crescimento da espécie, reflexo da grande variabilidade das condições edáficas e de tratos culturais em diferentes níveis, como o controle de ervas daninhas, fertilização, desbaste e desrama.
 
Nos dias atuais, a adoção da silvicultura clonal da teca no Brasil é predominante nos novos empreendimentos, tem se mostrado superior em forma do fuste, tolerância a doenças, crescimento volumétrico e diamétrico. O emprego de materiais geneticamente superiores permitiram um salto tecnológico, ampliando a capacidade da espécie em ocupar uma variabilidade maior de condições edáficas, justificando uma menor  densidade inicial do povoamento, propiciando maiores e melhores respostas às melhorias dos tratos culturais, em especial à fertilização e à adoção de diferentes regimes de desbastes, e também despertou maiores investimentos e iniciativas do seu melhoramento genético.
 
A produtividade registrada em certos plantios clonais somada à adoção de melhorias no manejo já superam 30% de ganho, sem contar o ganho na uniformidade, padronização e sanidade do povoamento, precocidade para o corte final, qualidade do fuste e da madeira. 
 
Foram vários os fatores e acontecimentos que criaram este ambiente atrativo para a teca no Brasil durante esse período: 
a) Declínio do suprimento de madeira de teca de origem nativa, em função da exploração excessiva e do desmatamento;
b) Restrições crescentes ao consumo de madeira sem a garantia de legalidade, resultados da regulamentação da União Europeia sobre a madeira (EUTR);
c) Ampla adaptação da teca às regiões tropicais fora de sua área de origem, incluindo o Brasil, e viabilidade técnica testada e comprovada para plantações puras ou até mesmo integradas com certas culturas agrícolas;
d) Madeira conhecida no mercado internacional, de uso múltiplo, alto valor, sendo uma das mais valiosas dentro da sua categoria;
e) Disponibilidade de solos aptos em condições competitivas para empreendimentos de teca em larga escala;
f) Ótima reputação internacional do know-how da silvicultura brasileira, em especial do eucalipto, aplicado às plantações de teca.

Os princípios básicos da silvicultura da teca no Brasil já se encontram estabelecidos: produção de mudas via propagação vegetativa, material clonal com superioridade genética, preparo de solo, fertilização, controle de ervas daninhas, desrama e desbaste. Grande parte das informações já podem ser encontradas em diversos estudos das principais faculdades de engenharia florestal e centros de pesquisas da Embrapa ligadas às principais regiões produtoras, com cases de sucesso de viabilidade econômica da teca como componente florestal no consórcio com a pecuária.

Entretanto a busca pela otimização dos recursos e a manutenção da competitividade têm exigido do setor de teca avançar além do nível básico, trilhando o caminho da silvicultura do eucalipto. O País já possui 3 certificados de manejo florestal de teca pelo FSC, caminhando para ampliar em mais duas áreas certificadas; em breve, estará disponível a regulamentação que tornará possível a proteção de cultivares da teca, evidência dos investimentos no melhoramento genético da espécie; sem dizer as diversas iniciativas em pesquisa de manejo dos vários empreendimentos em parcerias com as faculdades de engenharia florestal e centro de pesquisa da Embrapa. 
 
Dentre os principais desafios para maior avanço da teca, podemos citar o alto custo de implantação e manutenção: seu ciclo de produção é longo, cujo retorno financeiro acontece no corte final; ampliação e realização de oportunidades no mercado doméstico e outros mercados não Índia; alto custos logísticos, sendo um dos maiores dentre os países produtores; necessidade de inovação e disseminação da tecnologia de produção de madeira de teca; barreiras regulatórias e burocráticas na adoção das inovações para a cultura da teca − como exemplo, podemos citar a falta de registro de vários defensivos para as culturas florestais não tradicionais com suporte fitossanitário insuficiente.
 
Aqueles empreendimentos e plantações que não acompanharem esse salto tecnológico, tanto na aplicação de materiais genéticos superiores quanto na melhoria das práticas silviculturais, poderão ficar muito abaixo da produtividade média do setor e dificilmente encontrará sustentabilidade.
 
Dificilmente a madeira de teca de plantações atingirá os altos valores da madeira de teca de origem nativa, entretanto a madeira de teca de plantações continuará se destacando pelas características de beleza, resistência, durabilidade e estabilidade dimensional; ela já garantiu seu lugar no mercado e seus empreendimentos mantêm boa atratividade para investimentos.
 
Os investimentos em plantações de teca continuam fluindo, entretanto numa escala menor do que a vivenciada em períodos anteriores, pois a situação da economia mundial atual passou por mudanças, e o momento atual é de realização das primeiras plantações, validação das premissas iniciais, depuração daquelas situações muito abaixo da média e foco no novo cenário das oportunidades propiciadas pela silvicultura clonal aplicada à teca. Além disso, tem sido crescente o interesse de produtores rurais, em especial os ligados à pecuária, na inclusão da teca como componente florestal com o objetivo de complemento e diversificação de renda. Portanto a teca já tem seus passos trilhados rumo a outro exemplo de sucesso da silvicultura brasileira.