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Marcelo Carvalho Minhoto Teixeira Filho

Professor de Nutrição de Plantas na Unesp-Ilha Solteira

Op-CP-77

Bactérias e fungos aumentam a eficiência da adubação e produtividade
Estamos vivendo a “Era da Micro Revolução Verde”, ou seja, para grandes transformações e incrementos produtivos, precisamos entender os benefícios daqueles seres vivos que não conseguimos enxergar sem microscópio. Para avançarmos nesta fronteira do conhecimento, são necessárias mais pesquisas de prospecção e uso de microrganismos benéficos, os quais podem proporcionar para as plantas, quando aplicados de forma inteligente, um incremento na nutrição, crescimento e produtividade das florestas plantadas. 
 
A maioria dos solos ocupados por florestas plantadas com eucalipto e pinus são naturalmente ácidos e de baixa fertilidade natural e apresentam baixa disponibilidade de nutrientes, sendo necessária comumente a adubação equilibrada para o fornecimento N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu e Zn, para que as plantas possam se desenvolver bem e atingir altas produtividades.

Contudo, a eficiência das adubações ainda precisa ser aumentada, principalmente da nitrogenada e fosfatada, e o Brasil é um grande importador de fertilizantes minerais, importando cerca de 80% do que é consumido no país, o que encarece o custo de produção, principalmente quando o dólar está mais valorizado frente à moeda brasileira. 

Uma possibilidade, devido ao alto custo dos fertilizantes minerais e à conscientização em prol de uma agricultura sustentável e menos poluente, na qual as pesquisas estão crescendo, é o uso de inoculantes contendo microrganismos que promovem o crescimento e incrementam a produtividade de plantas, muitas vezes por aumentar a eficiência das adubações.

Os pesquisadores brasileiros são reconhecidos mundialmente, e o Brasil tem tradição de pesquisas com microrganismos benéficos, os quais já são utilizados e aplicados por meio de inoculantes, há décadas, na cultura da soja e, nos últimos 14 anos, em culturas graníferas como milho e trigo. Porém, as pesquisas e a prática da inoculação com microrganismos benéficos, principalmente com bactérias promotoras de crescimento de plantas (BPCP), em florestas plantadas ainda são escassas. 

Os benefícios de fungos e bactérias na agricultura podem ocorrer por múltiplos mecanismos de atuação no crescimento de plantas, como a produção e secreção de fitormônios como o ácido indol-3-acético (AIA), citocininas, giberelinas e etileno; de reguladores de crescimento de plantas (ácido abscísico, óxido nítrico e de poliaminas como espermidina, espermina); aumento na disponibilidade de nutrientes, solubilização do fosfato e de outros nutrientes, na atividade da redutase do nitrato e na eficiência de uso do N; biocontrole de doenças; proteção das plantas contra estresse salino, hídrico e elementos tóxicos do solo; além de fixação biológica de nitrogênio (FBN). Diversos estudos relataram os efeitos positivos da inoculação de microrganismos na fotossíntese, crescimento, absorção de nutrientes, eficiência do uso da água e produtividade das plantas.

DOSES DE INOCULANTES ENTREGUES (EM MILHÕES) POR NÚMERO DE EMPRESAS (ANPII BIO)
O setor de inoculantes biológicos apresenta consistência e crescimento continiado ao longo dos anos apresentando uma média de crescimento acima de 14% ao ano.
 


O uso de microrganismos benéficos é considerado uma das alternativas biotecnológicas mais viáveis e sustentáveis na redução do custo dos insumos agrícolas e dos impactos ambientais relacionados à adubação mineral para aumentar a produtividade das culturas, melhorar e restaurar a fertilidade do solo e promover o crescimento das plantas. A inoculação com microrganismos promoveu maior eficiência da adubação mineral com nitrogênio e fósforo, absorção de nutrientes, crescimento e produtividade de diversas culturas, como soja, milho, trigo, cana-de-açúcar, aveia, tomate, sorgo, feijão, entre outras.

A maioria das pesquisas reportaram que as bactérias promotoras de crescimento de plantas e fungos micorrízicos promoveram, por meio de diversos mecanismos de ação, maior eficiência da adubação mineral, possibilitando a redução em média de 25% das doses N, P e/ou K, com obtenção de produtividades agrícolas satisfatórias. Neste sentido, é muito importante o fomento a pesquisas com inoculação de microrganismos em espécies florestais de interesse econômico, principalmente de eucalipto e pinus, tanto a nível de viveiro de mudas como no campo em florestas plantadas. 

Adicionalmente, as interações benéficas de plantas e microrganismos, ao promoverem maior absorção e assimilação de nutrientes, podem aumentar a tolerância contra estresses bióticos e abióticos. Os microrganismos atenuam as respostas ao estresse pela regulação do equilíbrio nutricional das plantas. A associação entre plantas e microrganismos benéficos é interessante e boa para ambos, pois os microrganismos ajudam as plantas a absorverem mais nutrientes do solo, e as plantas propiciam alimento e servem de hospedeira.

BACTÉRIAS PROMOTORAS DO CRESCIMENTOS DE PLANTAS (BPCPs)
1-2: Bacillus subtilis
3-4: Pseudomonas fluorescens
5-6: Azospirillum brasilense


Vários microrganismos estão envolvidos em atividades benéficas, incluindo aumento do reservatório de carbono orgânico, redução das emissões de gases de efeito estufa, aumento do crescimento das plantas, indução de resistência a doenças e remediação de solos contaminados. A interação planta-micróbios adapta vários mecanismos complexos que melhoram a produtividade das culturas e a mitigação contra mudanças climáticas adversas.
 
Os microrganismos benéficos também atenuam o estresse abiótico adaptando várias estratégias, como produção de fitormônios, redução dos teores de óxido de etileno, regulação positiva da resposta à desidratação e atividades antioxidantes. 

Com relação à nutrição de plantas e qualidade agrícola, os principais microrganismos estudados na atualidade são as chamadas BPCPs, com destaque aos gêneros Azospirillum, Bacillus, Pseudomonas, Herbaspirillum e Burkholderia. Entretanto, uma longa lista de inoculantes comerciais contendo bactérias pode ser citada, como: Agrobacterium radiobacter, Azospirillum brasilense, Azospirillum lipoferum, Azotobacter chroococcum, Bacillus firmus, Bacillus licheniformis, Bacillus megaterium, Bacillus mucilaginous, Bacillus pumilus, Bacillus subtilis, Bacillus amyloliquefaciens, Bacillus aryabhattai, Burkholderia cepacia, Delftia acidovorans, Paenibacillus macerans, Pantoea agglomerans, Pseudomonas aureofaciens, Pseudomonas chlororaphis, Pseudomonas fluorescens, Pseudomonas solanacearum, Pseudomonas syringae, Serratia entomophila, Streptomyces griseoviridis, Streptomyces lydicus, e Rhizobium spp. 

No Brasil, além das bactérias, estudos com fungos como o Trichoderma harzianum, principalmente na área de controle biológico, têm crescido, e este fungo também incrementa a nutrição de plantas. Além do gênero Trichoderma, há também diversas pesquisas com fungos solubilizadores de fosfato e fungos micorrízicos arbusculares (FMA) com intuito de solubilizar fosfatos existentes ou adicionados ao solo e/ou aumentar a absorção de nutrientes devido ao maior volume de solo explorado, incrementando o crescimento e produção das plantas. 

Ressalta-se que a lista de inoculantes com novas espécies de BPCPs que podem ser utilizadas para uma agricultura mais sustentável é crescente, assim como o número de novas empresas envolvidas nesse mercado. Logo, as práticas de inoculação com bactérias e fungos benéficos na agricultura atual são irreversíveis, têm menor impacto ao meio ambiente e aumentam a eficiência de fertilizantes minerais, contribuindo para o aumento produtivo e reduzindo custos de produção.

Portanto, na atual “Era da Micro Revolução Verde”, o setor florestal precisa de mais pesquisas sobre a interação entre microrganismos benéficos x clones x ambiente de produção para sustentabilidade da agricultura moderna, que tem como grande desafio as mudanças climáticas globais.