O uso da tecnologia, aplicada ao transporte de madeira para abastecimento de fábricas de papel e celulose, traz vantagem competitiva? As empresas fabricantes de papel e celulose enxergam sua cadeia de suprimentos como a grande oportunidade de redução dos custos. Mas, como oferecer vantagem competitiva em custos e proporcionar aos clientes deste mercado uma vantagem em diferenciação, ou seja, como agregar valor ao próprio negócio e ao cliente, sem perder as margens apertadas ou inexistentes deste negócio de transporte de madeira?

O uso de determinadas tecnologias, aplicadas ao abastecimento das fábricas, em especial, ao transporte, poderá contribuir para criação desta vantagem competitiva. O custo com pneus está entre os maiores na composição de custos do frete e a gestão deste item é complexa, porém, pode-se usar calibradores automáticos, para manter a mesma pressão, em todos os pneus.

O uso desse recurso permitirá que o transportador trabalhe com pressões diferentes nos pneus, para as diferentes condições operacionais que o transporte de madeira vive, ou seja, quando carregado ou vazio, em estradas de terra ou pavimentadas. Além de aumentar a vida útil dos pneus, reduzirá o nível de sucateamento que, na atividade florestal, é significativo.

Outros recursos disponíveis são o controle de temperatura dos pneus e a realização de inventários dos pneus. É possível instalar nos pneus transponder e sensores de temperatura, que informem ao motorista qual roda está com temperatura elevada e qual pneu está descalibrado. Os transponders permitem ainda encaminhar ao Controle informações sobre a posição correta dos pneus, através de antenas instaladas em locais próprios, permitindo saber a posição exata em que cada pneu encontra-se no equipamento de transporte.

Outra possibilidade para o setor de papel e celulose é a utilização de eletrônica embarcada, ou seja, micros de bordo. Estes permitem o armazenamento dos eventos ocorridos em cada viagem, permitindo que a empresa de transporte e a contratante avaliem as informações armazenadas. As ineficiências do sistema, apontadas e armazenadas, serão compartilhadas e analisadas pelo transportador e pela empresa contratante, de forma a buscarem eliminar os gargalos do processo, contribuindo, desta forma, para ganhos de produtividade.

O uso de eletrônica embarcada permitirá às empresas elevar o nível de qualidade dos motoristas, através da avaliação dos registros realizados durante cada viagem e da a análise dos eventos que antecedem um acidente. A tecnologia pode ainda auxiliar as empresas a regularizarem o fluxo de caminhões que realizam o abastecimento das fábricas, pois o ciclo inconsistente da frota, provocado por problemas na carga e na descarga, representa uma grande dor de cabeça para as empresas.

Isto faz com que a produtividade de cada veículo, representada pelo número de viagens possíveis de serem realizadas, sofra uma redução. O uso de rastreadores que possibilitem conhecer em tempo real, a posição de cada veículo é, sem dúvida, uma grande solução para regularizar este fluxo. A empresa contratante e o transportador poderão agir em tempo real se ocorrer algum problema que desequilibre o fluxo de abastecimento, seja na carga, na descarga, ou mesmo com o próprio veículo.

Precisa ser destacada também, a necessidade de desenvolvimento, em relação ao excessivo peso dos equipamentos oferecidos pelos fabricantes de implementos. Outras opções precisam ser oferecidas, como a utilização de rodas de alumínio, caixas de cargas de alumínio, aços especiais, e quem sabe até chassis de fibra de carbono, etc...

Parece absurdo, mas não é, uma vez que os fabricantes oferecem, atualmente, equipamentos excessivamente pesados, obrigando o transportador a carregar peso morto. As soluções apresentadas pelos fabricantes de implementos rodoviários não atendem às necessidades de redução de custos e de ganhos de produtividade, que este setor necessita. Não se trata de transportar com excesso de peso, mas transformar peso morto em carga, que agrega valor ao negócio.

A tecnologia pode também ser aplicada para eliminar ou reduzir o tempo do equipamento parado, durante as atividades de manutenção. Um dos itens de manutenção, que faz com que o equipamento de transporte florestal perca produção, é a atividade de lubrificação da frota. A solução possível é a utilização de uma lubrificação centralizada, que garanta a contínua lubrificação de todos os pontos, eliminando a necessidade de parada do equipamento, disponibilizando este tempo para viagens.

Outro aspecto que merece ser comentado é a legislação atual, que limita o comprimento dos equipamentos a 30 mts e a um peso bruto total máximo de 74 toneladas. Outras soluções de equipamentos para o transporte florestal poderiam ser utilizadas, como equipamentos mais longos, com maior número de pneus, que permitiriam uma distribuição de pesos por eixos, que não danificassem as vias e proporcionassem, desta forma, ganhos no volume total transportado.

Estas alternativas de equipamentos para a atividade florestal esbarram nas limitações impostas pela legislação atual e sua modificação poderá trazer ganhos para os transportadores e para as empresas, porém se faz necessária a formação de grupos de trabalho, envolvendo as empresas de Papel e Celulose e as empresas de transporte florestal, de forma a participarem das câmaras temáticas no Contram, influenciando nas decisões e, quem sabe, alterando a legislação vigente.

Existem inúmeras possibilidades que precisam ser testadas e validadas em cada realidade operacional, porém a utilização ou não de novas tecnologias passa pela necessidade de investimentos, que poderiam ser compartilhados pelas partes interessadas. Acreditamos que a aplicação das tecnologias aqui comentadas poderá trazer ganhos para os envolvidos, permitindo que se atinja o diferencial competitivo de custos tanto desejado. Quanto à diferenciação, esta poderá ser alcançada, principalmente pela empresa que presta o serviço, por colocar as empresas em vantagem, em relação à concorrência, uma vez que o uso destas soluções em sua totalidade seriam usadas de forma pioneira neste mercado de transporte florestal.