Doutoranda da Unicentro e Professor de Colheita e Transporte da Unicentro e Coordenador do Cenfor, respectivamente
A colheita de madeira tem evoluído de forma significativa nos últimos anos, no Brasil, principalmente em função dos avanços contínuos de inovação tecnológica na indústria de máquinas e equipamentos, sendo evidente o aumento da mecanização das operações florestais. Nesse processo, a maioria das empresas, independente de seu porte estão mecanizando as suas atividades de colheita da madeira, com uso de máquinas cada vez mais automatizadas e de alta tecnologia, na busca pelo aumento da capacidade produtiva, maior segurança operacional e redução dos custos de produção.
E, nesse processo de inovação tecnológica da colheita de madeira, a capacitação dos operadores de máquinas torna-se de fundamental importância para o sucesso do empreendimento, sendo que, atualmente, muitas empresas florestais já estão conscientizadas sobre os benefícios de se investir na capacitação dos operadores, oferecendo-lhes uma formação de qualidade, seja por meio de centros de treinamentos interno ou externo.
Entretanto não podemos deixar de mencionar que ainda é comum a capacitação dos operadores sendo realizada por outros operadores mais experientes diretamente nas máquinas durante o trabalho, ocasionando elevados custos devido à mobilização e menor disponibilidade mecânica das máquinas, além de maiores riscos de acidentes, e principalmente, a transferência de técnicas inadequadas de trabalho ou “vícios” operacionais.
Por outro lado, a capacitação dos operadores de máquinas florestais não é o único fator que determina uma operação bem-sucedida, sendo também necessária uma seleção eficiente dos futuros operadores, com perfil adequado ao cargo, pois as pessoas possuem diferentes características, comportamentos e habilidades, que podem afetar o desempenho no trabalho.
Se todas as pessoas fossem iguais e respondessem da mesma forma durante o período de capacitação e execução do trabalho, não seriam necessários os processos de seleção. Portanto, conhecer as capacidades ou talentos individuais dos futuros operadores de máquinas durante o processo de seleção e anteriormente à capacitação é fundamental para a obtenção de um profissional bem-sucedido e de sucesso. Atualmente, o processo de seleção dos operadores de máquinas na colheita de madeira é baseado em processos abrangentes, e não desenvolvido para uma função específica.
Na maioria dos casos, a seleção é realizada por meio do julgamento da pessoa responsável pelo processo, sem existir uma metodologia clara ou uma estratégia eficiente, sendo, portanto, realizado por comparação, decisão e escolha. E, nesse aspecto, elevados recursos financeiros são aplicados pelas empresas florestais na seleção e na capacitação dos operadores de máquinas, que, muitas vezes, por não possuírem o perfil adequado ao cargo, acabam abandonando a função de operador pouco tempo após serem capacitados.
Além disso, é comum aqueles operadores que permanecem no cargo produzirem abaixo da potencialidade da máquina ou do equipamento e da meta estabelecida pela empresa, comprometendo o planejamento e acarretando em elevados custos de produção. E, nesse aspecto, estudos recentes realizados no exterior afirmam que as empresas podem atuar com apenas 20% de sua potencialidade pelo fato de os profissionais não ocuparem a função adequada ao seu perfil e na qual possa empregar os seus mais fortes talentos. Portanto o conhecimento das capacidades ou talentos individuais dos futuros operadores de máquinas florestais é fundamental no processo de seleção, possibilitando determinar a função certa para a pessoa certa, ou seja, o cargo no qual o indivíduo, por meio de suas capacidades naturais obterá os melhores resultados.
É importante também ressaltar que cada indivíduo possui diferentes formas de responder às diversas situações de trabalho e, para a seleção de profissionais de alto desempenho, torna-se necessário observar quais são as capacidades que melhor contribuem para o desempenho ideal da função. Nesse aspecto, está sendo desenvolvida uma tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Unicentro, em parceria com o Cenfor, que visa propor uma nova metodologia de seleção de operadores de máquinas de colheita da madeira, cujos testes preliminares têm sido muito promissores, sendo baseada nas seguintes capacidades ou talentos individuais: inteligência, memória, habilidade e comportamento.
A inteligência determina a capacidade do indivíduo em aprender e desempenhar adequadamente uma tarefa, sendo que cada indivíduo possui as suas próprias capacidades, explicando, por exemplo, o fato de alguns terem maior facilidade em escrever grandes textos, outros a facilidade em aprender cálculos, enquanto outros possuem grande habilidade motora na operação de máquinas. Dessa forma, a inteligência não apenas determina o sucesso durante o período de formação, mas também em situações imprevistas no decorrer da execução do trabalho, podendo determinar uma atitude adequada, dada à facilidade que o indivíduo possui em resolver situações em determinada área de trabalho.
Outro aspecto importante é a memória, que influencia principalmente em atividades repetitivas, comum nas operações de colheita da madeira. Nesse caso, o indivíduo precisa identificar os processos e os procedimentos e realizar as atividades de forma precisa e sem muito esforço.
E, como a memória humana determina uma grande quantidade de reações, podemos identificar sons, sinais, odores e guardar informações, por meio da memória visual, auditiva, tátil, olfativa, gustativa, que pode influenciar ou facilitar o desempenho de alguma função. A memória tátil, por exemplo, permite ao operador de harvester manter a sua atenção no ambiente externo durante a execução da derrubada da árvore, enquanto as suas mãos manuseiam os joysticks da máquina por ser um movimento conhecido.
Em seguida, temos a habilidade, que consiste em impulsos cerebrais e a respectiva resposta do sistema motor do corpo. A habilidade do indivíduo não depende apenas do cérebro ou do físico, mas também da interação entre eles. É responsável pela capacidade do indivíduo em desempenhar movimentos simultâneos de diferentes grupos musculares e executar movimentos voluntários e complexos. Na operação de máquinas florestais, o operador executa diversos movimentos dessa natureza, sendo, portanto, a habilidade responsável pelo desenvolvimento dos movimentos e do ritmo necessário para a execução do trabalho.
Outro aspecto importante a ser considerado no processo de seleção de operadores refere-se ao comportamento, estando relacionado a como as pessoas reagem nas diversas situações de trabalho. Trata-se do talento ou predisposição natural do indivíduo para determinado trabalho, sendo anatomicamente definido como conexões cerebrais (conexões sinápticas) recorrentes de estímulos formados e fortalecidos na infância. E, por meio do perfil comportamental, é possível determinar o nível de agressividade ou conscienciosidade, extroversão ou timidez, bem como de atenção aos prazos, horários e detalhes do trabalho.
Em algumas funções que exigem a tomada de decisão, estudos apontam que o comportamento pode influenciar em até 40% no desempenho de um operador de máquina na execução do trabalho. No entanto esse aspecto, muitas vezes, é esquecido nos processos de seleção nas empresas, pois se acredita que as pessoas se adaptam à função a que são condicionadas, o que não é verdadeiro.
O comportamento abrange ainda fontes motivacionais do indivíduo, identificando se a função oferecida poderá motivá-lo e determinando a sua capacidade de executar ou aprender determinada tarefa. Caso a sua fonte motivacional não seja compatível com o cargo, ainda que o operador tenha todas as habilidades e plena capacidade de operar as máquinas, o mesmo poderá não ser considerado qualificado, pois não estará motivado no trabalho, e, portanto, abandonará o cargo na busca por novas oportunidades.
Além disso, o abandono da função ocorre pela falta de compatibilidade entre o perfil comportamental e a função a ser exercida. As pessoas podem se adaptar a uma determinada função e alcançar elevado desempenho, porém somente quando os comportamentos naturais corresponderem ao ideal da função. Quando as pessoas são forçadas a se comportarem de maneira não natural, acabam adquirindo grande carga de estresse e o desempenho no trabalho tende a diminuir.
E, como muitas pessoas não são motivadas apenas pela remuneração, caso não se sintam felizes na função que exercem, procurarão outras atividades, mesmo de menor remuneração. Portanto, diante do avanço das tecnologias empregadas e dos elevados custos das operações de colheita da madeira, torna-se necessário o aprimoramento dos processos de seleção dos futuros operadores de máquinas.
O conhecimento das capacidades ou talentos individuais dos operadores durante o processo de seleção possibilitará determinar a função certa para a pessoa certa, ou seja, o cargo no qual o indivíduo obterá os melhores resultados e, dessa forma, possibilitará a capacitação de operadores e a formação de equipes motivadas que potencializam elevado desempenho no trabalho.