Gerente e Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento Florestal da Suzano
Op-CP-03
Silvicultura é a ciência que estuda a formação, o manejo e a exploração racional de florestas. O termo silvicultura de precisão tem origem na agricultura de precisão e é definido como o conjunto de ações de gestão do sistema de produção, que considera a variabilidade espacial da cultura, ou seja, baseia-se na coleta e análise de dados geoespaciais, viabilizando intervenções, localizadas na floresta, com exatidão e precisão.
O que o silvicultor deseja é plantar a floresta com um material genético (clone ou semente melhorada) produtivo e adaptado ao local, preparando o solo e usando os fertilizantes da maneira mais econômica e racional possível. A simplicidade desta idéia esconde, porém, o duro trabalho realizado até aqui por silvicultores e pesquisadores. A obtenção dos clones e sementes melhoradas, utilizadas hoje na silvicultura brasileira, é fruto de algumas décadas de árduo trabalho de melhoramento genético.
Também o preparo do solo é resultado de experiências realizadas no passado, erros e acertos, até chegarmos ao modelo atual, que minimiza os impactos ao ambiente. Atualmente, a utilização de fertilizantes raramente ocorre sem uma prévia avaliação e análise do potencial nutricional do solo. A silvicultura brasileira acumulou conhecimento nas ultimas três décadas. Agora tenta atingir um novo patamar, buscando ganhos expressivos em eficiência, na utilização dos recursos destinados ao plantio das florestas.
Para obter este resultado, será necessário associar, mais uma vez, os modernos recursos da informática aos conhecimentos da silvicultura tradicional. Um dos grandes avanços da silvicultura brasileira foi a conscientização e abolição da queima como forma de limpeza do terreno, que culminou na implementação do cultivo mínimo. Esta técnica prevê a manutenção dos resíduos vegetais (serapilheira e sobras da colheita) sobre o solo, seguido de um preparo localizado, que pode ser uma cova (em áreas acidentadas), ou um sulco (em áreas onde a mecanização é possível).
Este preparo reduzido apresenta vantagens em relação aos sistemas convencionais, em função do menor custo da operação e redução nas perdas de solo e de água. Por outro lado, dificulta as operações posteriores, exatamente pela presença dos resíduos e tocos do ciclo anterior. A silvicultura de precisão busca uma solução para aplicar doses diferenciadas de insumos, em função das variações naturais que ocorrem na superfície e nas características do solo.
Mesmo distâncias pequenas (50 metros ou menos) podem apresentar variações na fertilidade, de maneira que se tivéssemos um sistema capaz de “ler” estas diferenças, poderíamos colocar mais fertilizante nos solos mais fracos e menos nos solos mais férteis. A agricultura encontrou um caminho e para isso utiliza análises de solos georrefenciadas e máquinas agrícolas acopladas a microcomputadores e softwares, com capacidade para fazer esta leitura.
A partir desta leitura, um outro implemento distribui o adubo em quantidades diferenciadas, em função das variações do solo. O mesmo raciocínio vem sendo aplicado na utilização de herbicidas, mas, neste caso, utilizam-se sensores capazes de identificar a presença de plantas daninhas, acionando o sistema de pulverização apenas nos espaços ocupados por estas plantas.
A silvicultura brasileira enfrenta dificuldades para desenvolver este tipo de tecnologia, devido à grande quantidade de resíduos gerados pelo plantio anterior. Esta dificuldade criada pelo cultivo mínimo vem sendo ultrapassada aos poucos, graças à criatividade dos nossos silvicultores. Um passo importante para avançar em direção à silvicultura de precisão é estabelecer mapas de produtividade, obtidos a partir do emprego de geotecnologias.
Estes recursos permitem localizar, com maior precisão, variações no espaço e no tempo, de parâmetros relevantes no gerencia-mento da produção florestal, tais como matéria orgânica, teores de nutrientes, ph, textura e compactação do solo. O mapa de capacidade produtiva do povoamento pode indicar a localização de áreas críticas em termos de rentabilidade, enquanto os mapas dos atributos do solo e do relevo podem auxiliar na identificação dos fatores que estão limitando a capacidade produtiva, informação fundamental para a tomada de decisões.
O custo de obtenção desses dados, entretanto, em alguns casos ainda são bastante altos, embora o desenvolvimento recente de sensores esteja contribuindo para reduzi-los. Uma maneira prática de se obter um mapa de produtividade é equipar máquinas de colheita com sensores que fazem a leitura e acumulam informações sobre a produtividade do terreno em tempo real. Os primeiros mapas de produtividade na área agrícola, a partir de colheitadeiras, surgiram na Europa, em 1984, e nos Estados Unidos, no final dos anos 80. No Brasil, ocorreu entre 1995 e 1997.
Atualmente, o Brasil apresenta cerca de 150 colheitadeiras agrícolas com monitores, enquanto que nos EUA este número é superior a 30.000. Há registros de economia de fertilizantes de até 50%, e de até 30%, no uso de herbicidas, quando a agricultura de precisão é utilizada com sucesso. Na área florestal, os trabalhos são ainda incipientes, não havendo registros no Brasil de uso comercial de máquinas de colheita (harvester), acopladas com sensores para a elaboração de mapas de produtividade.
Identificadas as causas da variabilidade, são elaborados os mapas de aplicação de insumos a taxas variadas, de acordo com as necessidades de cada segmento da área. Além do potencial ganho econômico e uniformidade do plantio, o manejo racional da floresta e do solo oferece benefícios evidentes para o meio ambiente, uma vez que a aplicação de insumos a taxas variadas implica em conter desperdícios, através da aplicação da quantidade certa e apenas nos lugares onde se necessita deles, aumentando a eficiência na utilização de insumos e evitando a degradação dos atributos do solo. A silvicultura de precisão torna-se um caminho a ser percorrido, visando à máxima produtividade sustentável.