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Reginaldo Gonçalves Mafia

Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento em Manejo Florestal da Bracell-BA

OpCP76

A relação entre universidades e empresas na formação técnica profissional
Normalmente, em qualquer discussão sobre expansão dos negócios florestais, os recursos essenciais para produção passam por intensas e recorrentes avaliações, incluindo a disponibilidade e o custo da terra, potencial produtivo, oferta de madeira de mercado, custos e facilidades logísticas, requisitos legais, entre outros. Por outro lado, as estratégias necessárias para atração, retenção e capacitação de mão de obra raramente são consideradas. E talvez aí esteja a nossa maior limitação, uma vez que as empresas são formadas por pessoas cujo capital intelectual está diretamente relacionado com o seu potencial de geração de valor.

Embora seja muito difícil quantificar o real impacto da escassez de mão de obra, sabemos que decisões equivocadas sobre este tema hoje possuem um peso muito maior que no passado. As empresas florestais operam em maiores escalas de produção e com maior diversidade de riscos. Sendo assim, estabelecer e manter times qualificados, capacitados, engajados e alinhados à cultura das empresas tem-se tornado um grande desafio para qualquer nível de liderança.

Atualmente, o setor florestal brasileiro apresenta crescimento a uma taxa nunca vista anteriormente, com efeito direto sobre o aumento da demanda de mão de obra qualificada.

Por outro lado, observamos também um aumento expressivo da oferta de vagas, número de cursos técnicos e acadêmicos, fortalecimento do ensino à distância e a criação de novas carreiras profissionais. De qualquer forma, a “conta não fecha”, o que provavelmente está ligado ao distanciamento entre a oferta e a demanda.

Até certo tempo atrás, era comum o desenvolvimento de vários trabalhos cooperativos entre empresas e academia, o que, além de gerar conhecimentos e novas tecnologias, também desenvolvia e treinava pessoas para a iniciativa privada. Essas iniciativas, de certo modo, também serviam de exemplo e modelo para atrair, continuamente, novos talentos. 

Infelizmente, nos últimos anos, essa interação diminuiu ou, pelo menos, não acompanhou toda a expansão dos negócios florestais.Nas universidades, está acontecendo uma série de mudanças. Primeiramente, vários professores e pesquisadores, com perfil voltado ao desenvolvimento de pesquisa aplicada e em parceria com o setor produtivo, estão concluindo seus ciclos de contribuição.

Além disso, precisamos considerar que as novas gerações de estudantes, muitas vezes, estão buscando a formação em outras áreas do conhecimento, mais distantes das ciências naturais, incluindo a área de agrárias. Não podemos esquecer também que, sobretudo os mais jovens, estão em busca de novos modelos de trabalho, possuem um perfil mais empreendedor e consideram mais fortemente o papel das empresas em torno de seus propósitos de vida, na escolha do seu primeiro emprego.
 
Por outro lado, as empresas, de certo modo, se distanciaram da academia, muitas vezes sob a perspectiva de alavancar novos negócios, com maior demanda por tecnologias e mais distante das ciências básicas. Do ponto de vista de gestão, embora os processos de meritocracia sejam essenciais, muitas vezes as ferramentas utilizadas têm um foco excessivo em avaliação, porém com poucas oportunidades para treinamento e capacitação. 

A gestão de pessoas também deve ser eficaz para equalizar as expectativas de crescimento de carreira das pessoas e a velocidade de geração de oportunidades da própria empresa, para não criar frustração e, tampouco, alta rotatividade. Além disso, a experiência recente demonstra que é importante desenvolver e intensificar as estratégias de retenção dos talentos, uma vez que adotar apenas medidas reativas aos movimentos de mercado tem-se mostrado ineficiente.

A boa interface entre o setor produtivo e as universidades é um dos grandes motivos de sucesso do setor florestal brasileiro. Mas o que poucos sabem é que, além de ciência e tecnologia, a cooperação mútua entre esses dois atores resultou também na geração de grande parte do capital intelectual das empresas. Hoje, além do desafio de intensificar a formação de mão de obra qualificada, torna-se importante incluir os critérios de diversidade, equidade e inclusão. Mas, afinal, o que fazer diante de todos esses desafios?

Ao fazer uma retrospectiva, podemos entender que não há necessidade de grandes mudanças, mas precisamos intensificar as iniciativas, comprovadamente efetivas. Como sabemos, as empresas florestais, no passado, tiveram de atrair mão de obra para regiões sem infraestrutura e distantes dos grandes centros urbanos, precisaram desenvolver tecnicamente as pessoas e foram eficazes em estabelecer uma boa relação com a academia para formação de pessoas e para desenvolver ciência e tecnologia.

O desafio de aumentar a disponibilidade de mão de obra técnica é muito grande. Conforme comentado anteriormente, existem várias mudanças em curso, muitas das quais são de difícil reversão. Portanto, acredito que haverá necessidade de perenidade do esforço e que as medidas precisam ser integradas e, na medida do possível, estruturantes.

Importante também destacar o papel estratégico das pessoas e áreas envolvidas na atração e contratação dos novos profissionais. Essas tarefas são complexas e extremamente importantes para alavancar as empresas, ao mesmo tempo que criam oportunidades para desenvolvimento social, incluindo as questões de diversidade, equidade e inclusão.

A experiência tem demonstrado que precisamos dar um peso maior para as características pessoais, comportamentais e de atitudes que permitem aos indivíduos construírem relacionamentos verdadeiros, comunicar-se de forma eficaz, resolver problemas complexos, colaborar com outras pessoas e criar um ambiente saudável de trabalho.

O setor florestal, nas duas últimas décadas, além do crescimento acelerado, também está-se consolidando como estratégico para enfrentamento das mudanças climáticas. Por meio de várias inovações tecnológicas, a produção de madeira e sua conversão em novos produtos, em um balanço favorável de carbono, incluindo os projetos de restauração florestal, são oportunidades que estão sendo mais bem exploradas.

Considerando o aumento da conscientização sobre as questões climáticas, talvez aí esteja uma oportunidade de maior atratividade para as novas gerações de talentos. Mas, para que esta aproximação possa gerar novos bons profissionais, tanto as universidades quanto as empresas precisam se reorganizar e intensificar as ações de cooperação. Estaremos no caminho certo ao encontrar jovens talentos e profissionais experientes formando times engajados, diversos em todos os sentidos, e que estejam felizes e orgulhosos por serem talentos do setor florestal brasileiro.