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Teotônio Francisco de Assis

Diretor da Assistech Tecnologia em Melhoramento

Op-CP-02

Os propulsores da produtividade dos eucaliptos

Muito se houve dizer que os altos níveis de produtividade florestal atingido pelas empresas brasileiras são conseqüência do excelente clima e qualidade dos nossos solos. Sem dúvida, esse é um fator importante e que as indústrias brasileiras têm capitalizado em favor de sua maior competitividade. Entretanto, é necessário reconhecer que, todo esse avanço em qualidade e produtividade, obtido nos últimos anos, foi fruto do esforço, da competência e da criatividade dos pesquisadores e cientistas brasileiros, em todos os segmentos técnicos da produção de florestas.

Além disto, deve-se louvar a visão dos dirigentes das empresas, que tiveram a sensibilidade de investir em pesquisa, mesmo nos momentos econômicos menos favoráveis. A produtividade das florestas que, na década de 60, apesar de mesmo clima e qualidade dos solos, não passava dos 15 m³/ha/ano, tem hoje seu potencial em nível, no mínimo, triplicado. Neste contexto, há de se destacar duas tecnologias que contribuíram de forma decisiva para o atingimento dos níveis atuais: a produção de híbridos interespecíficos e a clonagem.

A hibridação interespecífica em Eucalyptus tem se constituído na forma mais rápida de obtenção de ganhos genéticos, os quais vêm proporcionando benefícios de alta significância para a indústria de celulose no Brasil. A busca da complementaridade nas características tecnológicas da madeira, na tolerância a estresses bióticos e abióticos, bem como da manifestação de heterose, verificada em vários cruzamentos híbridos, tem sido o principal caminho para se produzirem indivíduos superiores, em crescimento, adaptação e qualidade da madeira.

Sua importância para o setor florestal brasileiro está refletida na área plantada com híbridos. Atualmente, 84,5% dos plantios clonais são feitos com híbridos e a tendência é de que esse predomínio venha a aumentar nos próximos anos. Se os híbridos são importantes, produzindo ganhos florestais no processo industrial e na qualidade do produto, a clonagem é, por outro lado, a forma mais eficiente de se incorporar esses ganhos ao processo de produção industrial.

Neste sentido, a clonagem continua sendo o complemento técnico ideal para a maximização dos benefícios da hibridação, para a produção de celulose. Hoje, já passadas quase 3 décadas, desde a introdução do conceito de florestas clonais de Eucalyptus no Brasil, esta atividade encontra-se perfeitamente integrada aos processos de produção de matéria prima para uso em vários segmentos da atividade industrial, sobretudo o de celulose e papel, com 78%, e carvão vegetal, com 21% da área plantada com clones.

Nesses anos, a clonagem propiciou o estabelecimento de florestas clonais com significativos ganhos de produtividade e, mais recentemente, tem, junto com a produção de híbridos, contribuído decisivamente para a melhoria da qualidade da madeira e de seus produtos. Além disto, o desenvolvimento de sistemas superintensivos de clonagem, como a micro-estaquia e a mini-estaquia, marcou o início de um novo ciclo de propagação de espécies lenhosas, tornando o Brasil referência mundial, também nessas tecnologias.

O uso de florestas clonais de espécies de eucalipto encontra-se, hoje, amplamente disseminado nas empresas brasileiras. A área plantada com clones rompeu a barreira de 1.000.000 de hectares em 2004 e, em 2005, foram adicionados mais de 250.000 ha, com tendência crescente. Os plantios atuais apresentam, além da expectativa de maior produtividade, expressa em produto final por hectare, a incorporação de mais qualidade da madeira, nos diferentes usos finais, para os quais os programas de melhoramento estão sendo direcionados.

Durante esses anos, foram vencidos desafios técnicos importantes, sobretudo as incertezas e preocupações, relativas ao plantio de clones em larga escala. Com relação às doenças, por exemplo, uma grande e antiga preocupação, a clonagem, tem sido fundamentalmente muito mais uma solução do que um problema. Não fosse a clonagem, o plantio de florestas economicamente viáveis, em muitas regiões do país, seria extremamente difícil e certamente não teríamos a produtividade atual.

O uso de clones resistentes ao cancro, à ferrugem e à seca é um exemplo real disto. Até o momento, não há registros de catástrofes que possam ser imputadas exclusivamente ao uso da clonagem. A maioria dos poucos eventos negativos, ocorridos em plantações clonais, é muito mais decorrente de falhas no processo de seleção clonal, do que da clonagem em si.

No início, a silvicultura clonal brasileira teve, como base, híbridos espontâneos e híbridos naturais, que foram os responsáveis pelo grande salto de produtividade florestal, verificado nos últimos anos. Atualmente, as florestas clonais estão sendo derivadas de indivíduos gerados em programas de melhoramento genético, cuja principal estratégia tem sido a produção de híbridos interespecíficos.

Hoje, em razão do sucesso verificado no Sul do Brasil com os híbridos de E. globulus, sobretudo pelos significativos ganhos em qualidade da madeira para a fabricação de celulose, há uma mudança de rumos, com a busca de cruzamentos com esta espécie, na maioria das empresas que fabricam celulose no Brasil.

Essa parece ser uma tendência geral e deve se constituir na nova onda dos plantios clonais, para abastecer as fábricas de celulose e, certamente, deverá ser responsável por um novo e grande salto, o da qualidade da madeira, garantindo ao Brasil uma posição ainda mais destacada no cenário mundial da produção de celulose de eucalipto. Novamente, a hibridação e a clonagem deverão ser os propulsores dessa nova fase da competitividade da indústria brasileira de celulose.